Jornal da USP
18/12/2020

Com tamanho estimado de um metro, a Boipeba é interessante por ser bem maior do que as serpentes da linhagem, que são pequenas e chegam a 30 centímetros. Com a descoberta, ela se torna o único registro fóssil de indivíduos do grupo Scolecophidia que data da era dos dinossauros. Arte sobre reconstrução de Boipeba tayasuensis de Jorge Blanco

Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em parceria com as instituições australianas South Australian Museum e Flinders University, descobriram  uma nova espécie de serpente, que viveu no período Cretáceo há 87.8 milhões de anos. A Boipeba tayasuensis pertence à linhagem dos Scolecophidia, as populares cobras-cegas. Com tamanho estimado de um metro (m), a cobra é interessante por ser bem maior do que as serpentes da linhagem, que são pequenas e chegam a 30 centímetros.

artigo Cretaceous Blind Snake from Brazil Fills Major Gap in Snake Evolution mostra as tendências evolutivas dos Scolecophidia. A hipótese é a de que o tamanho reduzido encontrado nos dias de hoje seja resultado de um processo de miniaturização, que aconteceu ao longo de milhões de anos. 

O fóssil foi encontrado na cidade de Taiaçu, no interior de São Paulo e coletado em rochas de Formação Adamantina, em que se preservaram apenas vestígios vertebrais. O estudo contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

“As serpentes do grupo Scolecophidia são padronizadas como sendo umas das primeiras a surgir”, diz ao Jornal da USP Thiago Schineider Fachini, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho. Até então, os registros fósseis do grupo datavam de 56 milhões de anos — do final do Paleoceno e início do Eoceno na Europa e África. Com a descoberta, a Boipeba se torna o único registro fóssil de indivíduos do grupo Scolecophidia que data da era dos dinossauros.

O achado traz evidências de que a diversificação inicial da cobras-cegas pode ter ocorrido na América do Sul.

É uma descoberta importante porque estende o registro do grupo para o Cretáceo superior do Brasil preenchendo uma lacuna de espaço e tempo durante o Mesozóico, prevista pelas análises moleculares, mas que, anteriormente, careciam de evidências paleontológicas.”

Antes da descoberta, haviam estudos moleculares que mostravam que o Scholechphidia surgiu em torno de 120 milhões de anos, mas não havia nenhum registro fóssil que mostrasse isso. “Com o surgimento da boipeba, há um indivíduo concreto que está na idade estipulada, não exatamente, mas bem mais próximo”, diz Thiago. 

A metodologia

O processo de estudos sobre o fóssil durou quatro anos. Ao ser descoberto, eles estudaram o achado com base na literatura e comparação com outros animais viventes do grupo Scholechphidia, encontrados na Austrália. Além disso, o grupo realizou análises filogenéticas — estudo da relação evolutiva entre grupos de organismos — para  entender onde a boipeba se encaixaria.

Boipeba tayasuensis possuía, em sua morfologia vertebral, as características típicas de outras cobras-cegas, principalmente com as serpentes da família Typhlopidae. Tais como vértebras fortemente achatadas e algumas outras características das estruturas de articulação das costelas com as vértebras.

Mais informações: e-mail thiagoschineiderf@usp.br, com Thiago Schineider. [1]

[1] Texto de Beatriz Azevedo.

Como citar esta notícia: Jornal da USP. Cobra-cega que viveu com os dinossauros preenche lacuna na evolução da espécie.  Texto de Beatriz Azevedo. Saense. https://saense.com.br/2020/12/cobra-cega-que-viveu-com-os-dinossauros-preenche-lacuna-na-evolucao-da-especie/. Publicado em 18 de dezembro (2020).

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