Embrapa
03/02/2021

Os resultados observados nos experimentos com fitilhos prateados indicam aumento da produtividade (Foto: Adriano Prysthon)

Uma opção de isca artificial que usa fitilhos prateados (tiras de matéria plástica muito resistentes), material barato e facilmente encontrado no comércio, mostrou ganho de até 55% na pesca artesanal quando comparada a outras situações de pesca. O resultado faz parte de um dos experimentos do projeto PescAraguaia, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), conduzido em Caseara, município que fica na margem tocantinense do Rio Araguaia. Ao todo, o projeto envolveu 15 comunidades pesqueiras (entre colônias de pescadores e aldeias indígenas) de municípios da bacia do Araguaia no Tocantins.

O experimento abrangeu cinco expedições pesqueiras em oito locais de pesca do rio. No total, foram 53 lances de redes de emalhe, também chamadas malhadeiras e que são a principal modalidade usada pelos pescadores artesanais da bacia Araguaia-Tocantins. As redes foram divididas em três partes iguais, duas com iscas artificiais e uma sem isca, considerada o controle ou referência no experimento. Além dos fitilhos prateados, foram usados lightsticks ou bastões de luz. Ambos facilmente encontrados no mercado.

O coordenador do projeto PescAraguaia, Adriano Prysthon, comemora o resultado do projeto. “Tivemos sucesso em aumentar a produtividade com baixo investimento e fácil acesso aos pescadores”. Ele destaca ainda que essa tecnologia, gerada em parceria com a Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), pode ser estendida para qualquer ecossistema aquático onde haja pesca artesanal, seja em ambiente continental ou marinho.

Os resultados obtidos e as recomendações sobre o uso da tecnologia estão descritos na publicação Iscas artificiais de baixo custo para as redes de emalhe da pesca artesanal, rio Araguaia,Tocantins lançada pela Embrapa em dezembro passado e que está disponível online. Veja mais informações abaixo.

Além de mais produtivos, fitilhos são mais baratos e duráveis

Somados os 53 lances realizados no experimento, os fitilhos prateados capturaram 76,5 kg de pescado, que corresponderam a 41% do total. Já os lightsticks capturaram 62,9 kg (33% do total) e o controle capturou 49,2 kg, equivalentes a 26% do total de pescado. Em termos percentuais, os fitilhos prateados proporcionaram uma produção 55% maior do que a conseguida pela rede malhadeira-controle, enquanto os lightsticks foram 28% mais produtivos do que a rede-controle.

Além do aumento da produtividade, vantagens técnicas e econômicas das duas iscas artificiais foram avaliadas. “O tempo de montagem do fitilho foi de duas horas, ao passo que o lightstick foi de 30 minutos. No entanto, a durabilidade dos materiais é bem diferente. O fitilho, uma vez preso às redes, é capaz de suportar aproximadamente 20 lances, enquanto o lightstick suporta no máximo dois, pois o tempo de iluminação é limitado (cerca de dez horas), sendo necessário trocar o dispositivo em seguida”, relata publicação sobre o experimento.

Em termos financeiros, foram comparados os rendimentos conseguidos em cada situação. O custo do fitilho ficou em apenas R$ 3,00 e o do lightstick, em R$ 520,00. Além da quantidade necessária de cada material, tamanha disparidade é explicada pela durabilidade das iscas. A receita obtida considerou os valores pagos pelas diferentes espécies capturadas. Assim, a quantidade de peixes capturados na rede-controle gerou uma receita de R$ 309,82, enquanto a do lightstick foi de R$ 399,20 e a do fitilho, de R$ 411,83. Fazendo a conta receita menos despesa, chega-se ao que pode ser considerado o lucro bruto em cada situação: R$ 408,83 no caso do fitilho prateado; R$ 309,00 na rede-controle; e, no caso do lightstick, o que aconteceu foi um prejuízo de R$ 120,80.

Publicação recomenda mais estudos com foco na sustentabilidade

A publicação recomenda que sejam feitos outros estudos para medir devidamente eventuais impactos da adoção das iscas artificiais. Por exemplo, é necessário avaliar se o aumento proporcionado pelo fitilho prateado será absorvido pela cadeia produtiva da pesca artesanal. Outra questão é que ambas as iscas não são biodegradáveis; se houver uma maciça adoção delas, a tendência é de aumento da poluição das águas. Esse é, portanto, mais um caminho a ser percorrido para aprimorar a pesca artesanal no País.

De maneira mais geral, para que efetivamente o setor tenha um desenvolvimento sustentável, “maior atenção deve ser dada à pesca artesanal por parte dos gestores e governantes. Saber quanto produzem, o que pescam, quem pesca e como pescam é fundamental para planejar políticas públicas que contemplem os seus interesses e melhorem a qualidade de vida das populações ribeirinhas e a conservação dos ecossistemas utilizados por elas”. Esse maior cuidado é outra recomendação feita pela publicação que está sendo lançada pela Embrapa.

Apenas a pesquisa, em si, não consegue tornar a atividade mais sustentável sob os três aspectos tradicionais: ambiental, econômico e social. Adriano Prysthon (foto à esquerda) entende que é preciso uma ação conjunta e que envolva várias instituições. “A principal ação deve ser de transferência de tecnologia para difundir a experiência em outras regiões. Além de um programa contínuo e confiável de monitoramento de desembarques feito preferencialmente pelo poder público (municipal, estadual, federal etc.) para avaliar os impactos dessa tecnologia. A ação deve ser conjunta e sistemática”, explica. [1]

[1] Texto de Clenio Araujo.

Como citar este texto: Embrapa. Fitilho como isca artificial permite aumento de mais de 50% de produtividade na pesca artesanal.  Texto de Clenio Araujo. Saense. https://saense.com.br/2021/02/fitilho-como-isca-artificial-permite-aumento-de-mais-de-50-de-produtividade-na-pesca-artesanal/. Publicado em 03 de fevereiro (2021).

Notícias da Embrapa     Home