UFPR
08/03/2021

Área de pesquisa (Foto: E. Magri)

A erva-mate (Ilex paraguariensis) é tradicionalmente usada no preparo do chimarrão e tereré, mas vem sendo utilizada também na indústria de alimentos, cosméticos e fármacos. Recentemente, houve preocupação com os teores de cádmio (Cd) e chumbo (Pb) em produtos à base de erva-mate, com suspeitas de que estaria ocorrendo contaminação com esses dois metais potencialmente tóxicos.

Esse cenário motivou pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a estudar os teores naturais de cádmio e chumbo em folhas de erva-mate nas principais regiões produtoras da América do Sul, com apoio dos Sindicatos da Indústria do Mate (SINDIMATE) do estado do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Journal of Food Composition and Analysis (https://doi.org/10.1016/j.jfca.2020.103702 ). O professor Antônio Carlos Vargas Motta, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da UFPR, liderou o estudo, que também contou com a participação do doutorando Ederlan Magri (também produtor de erva-mate) e de pesquisadores do Departamento de Química da UFPR, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Brasília.

“Um fato que nos motivou foi que os valores apontados pela Anvisa como aceitáveis são muito abaixo do que a natureza provê. Com essa pesquisa, conseguimos demonstrar que é preciso readequar a lei”, explica o professor Motta. Enquanto a legislação prevê índices de 0,4 mg por kg para o cádmio e 0,6 mg por quilo para o chumbo, a pesquisa demonstrou na natureza esses valores ficam em 1,0 mg e 1,5 mg respectivamente, sem prejuízo à saúde humana, uma vez que há baixa hidrossolubilidade dos elementos. “Isso não é uma contaminação, pois a erva mate tem como característica acumular metais”, diz Ederlan Magri.  O resultado foi encaminhado para a Câmara Técnica de Erva Mate do Ministério da Agricultura, sugerindo essa readequação.

A pesquisa

Amostras de solo e folhas de erva-mate foram coletadas em 115 propriedades agrícolas, sendo 93 no Brasil (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul), 12 na Argentina (Missiones e Corrientes) e 10 no Paraguai (Itapuá).

A pesquisa revelou que 21% das amostras de erva-mate apresentaram teores de cádmio acima do limite legal (0,40 mg/kg) na América do Sul, variando entre 0,10 e 1,61 mg/kg. Para o chumbo foram 38% das amostras que ficaram com teores acima do limite legal (0,60 mg/kg), variando entre 0,11 e 2,59 mg/kg. Não foi registrada influência do sistema de cultivo (nativo ou manejado), uso de fertilizante, herbicida e rocha de origem do solo nos teores de cádmio na erva-mate, enquanto que para chumbo, os teores foram ligeiramente superiores nas áreas que receberam fertilizantes.

Apesar disso, a estimativa de ingestão de cádmio e chumbo com o consumo do chimarrão não indicou risco aos consumidores, pois a ingestão desses metais ficou muito abaixo dos limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. Assim, os atuais limites legais de cádmio e chumbo na erva-mate estão muito rigorosos, não sendo condizentes com os teores naturais presentes nas folhas desta espécie. [1]

[1] Texto de Simone Meirelles.

Como citar este texto: UFPR. Pesquisa analisa índices de cádmio e chumbo na erva-mate. Texto de Simone Meirelles. Saense. https://saense.com.br/2021/03/pesquisa-analisa-indices-de-cadmio-e-chumbo-na-erva-mate/. Publicado em 08 de março (2021).

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