Jornal da USP
21/05/2021
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 5 milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população global fosse mais ativa. As diretrizes mais recentes da agência reforçam o combate ao sedentarismo, que se apresenta em maior dimensão devido ao isolamento social em meio à pandemia. Para o educador físico e pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, Fernando Garbeloto dos Santos, o sedentarismo se combate desde a infância e as aulas de educação física nas escolas são os espaços mais democráticos para promover o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais que tornam as pessoas mais ativas. Com essa motivação, Garbeloto desenvolveu o Educativo EF, aplicativo que pode ser usado por profissionais de educação física, pais e alunos. A principal utilidade da inovação é facilitar a avaliação do desempenho motor na educação física escolar, um dos maiores desafios para os professores hoje e, assim, melhorar a prática, incentivo e correção dos alunos.
Em sua tese de doutorado, sob orientação do professor Go Tani, o pesquisador estudou o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais, que são as mais importantes para o seguimento de uma vida ativa fisicamente. Elas são a base para a prática de exercícios mais complexos e dão sustentação para as modalidades que integram os indivíduos socialmente. De acordo com Garbeloto dos Santos, o desenvolvimento dessas habilidades se dá com a prática, o incentivo e a correção. E o lugar onde a maioria das crianças e adolescentes que não têm acesso a academias e clubes encontra esse conjunto de fatores é nas aulas de educação física nas escolas.
“Essas habilidades não são apenas importantes para o desenvolvimento motor, mas para o desenvolvimento humano. O movimento faz parte da interação social e da nossa saúde”, afirma Garbeloto. Ele ainda destaca que, para além das questões de saúde física e envolvimento social, os estudos mais recentes na área mostram que pessoas ativas apresentam menos transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão.
Para ele, o ponto-chave para esses problemas ligados à prática esportiva está nas aulas, com destaque para a avaliação. Nas aulas, os professores e professoras buscam avaliar o desempenho dos alunos, para elaboração das atividades. “Quando as modalidades propostas não são adequadas às turmas, gera-se desincentivo, seja porque os alunos a consideram muito fácil ou muito difícil”, explica o pesquisador. O desinteresse por atividades físicas é um dos fatores ligados ao cenário brasileiro, em que 78% das crianças e 84% dos adolescentes não fazem o mínimo de atividade física recomendada por dia, segundo dados da OMS. Garbeloto observou que facilitar a avaliação dos profissionais poderia ser a forma de proporcionar aos estudantes aulas mais adequadas e, portanto, maior interesse.
Para isso, seu método avaliativo desenvolvido no doutorado, que levava cerca de 20 minutos por aluno, foi adaptado para ser compatível com a realidade das aulas de educação física nas escolas e foi sintetizado de forma prática e dinâmica no Educativo EF. A tecnologia auxilia no planejamento de aulas voltadas ao aprimoramento das habilidades. “Em uma única aula, o professor consegue monitorar a competência motora dos alunos, ao longo do processo de desenvolvimento, da educação infantil ao ensino médio, com resultado automático, mudar a aula — se necessário — e ainda corrigir os alunos que mais necessitam”, afirma.
O acesso à ferramenta também pode ser disponível para os alunos e pais. Segundo Garbeloto, além do significado motor, o cultural é importante. “Por isso, o aplicativo traz a biblioteca digital, contendo dicas de saúde, resumos de artigos científicos que mostram informações confiáveis sobre atividade física e saúde, incluindo lazer e esporte”, completa. Para mais, o aplicativo traz uma seção chamada “Eventos esportivos”, onde são exibidos os eventos ligados à prática esportiva e espaços disponíveis para prática, como ciclofaixas. “Ele também traz jogos e atividades não eletrônicos para a família, dicas de melhora da qualidade do movimento nos jogos e histórias sobre os jogos.”
Lançado em fevereiro, hoje o Educativo EF integra quatro escolas, com centenas de alunos do ensino infantil, fundamental e médio, e três academias. O pesquisador conta que, como resultados, os usuários relatam a facilidade em usar o aplicativo, os alunos estão se mostrando mais motivados e os professores afirmam que a ferramenta ajuda nas aulas e no mapeamento das necessidades dos alunos e turmas.
A ferramenta recebeu o terceiro lugar na categoria Aplicativos do 2º Prêmio e Fórum São Paulo de Inovação Tecnológica no Esporte, Saúde, Lazer e Construção, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Esporte.
Como se cadastrar no Educativo EF?
O Educativo EF pode ser baixado, sem custo, na plataforma Google Play. Gratuito, o cadastro de escolas, academias e personal trainers ou outras instituições interessadas deve ser feito pelo e-mail educativoef@gmail.com ou telefone (11) 99286-6130 ou (11) 3081-3837. O site do aplicativo pode ser acessado através deste link.
Mais informações: e-mail fegarbeloto@gmail.com, com Fernando Garbeloto dos Santos. [2]
[1] Foto: www.educacao.sp.gov.br/esportes.
[2] Texto de Guilherme Gama.
Como citar este texto: Jornal da USP. Aplicativo facilita avaliação do desempenho motor na educação física escolar. Texto de Guilherme Gama. Saense. https://saense.com.br/2021/05/aplicativo-facilita-avaliacao-do-desempenho-motor-na-educacao-fisica-escolar/. Publicado em 21 de maio (2021).