CCS/CAPES
17/06/2021

Conjunto de imagens da estrela SPLUSJ2104-0049 tirada com os 12 filtros que o telescópio possui, para indicar a presença das substâncias presentes no astro (Foto: Acervo do Projeto S-PLUS)

Cientistas que participam do projeto internacional Southern Photometric Local Universe Survey (S-PLUS), que mapeia o céu do hemisfério sul com um telescópio robótico a partir do Chile, depararam-se com uma questão cósmica para explicar a evolução química do universo. Uma estrela localizada a 16 mil anos-luz de distância da Terra, a SPLUS J2104-0049,  com idade estimada entre 10 e 12 bilhões de anos, trouxe novos desafios à astrofísica. Por suas características singulares, os pesquisadores precisarão rever suas teorias e descobrir como ela surgiu, de onde teria derivado e como ainda estaria “viva” com todo esse tempo.

Além de fazer parte de um conjunto raro de 35 estrelas deste tipo já encontradas na Via Láctea, o novo astro desafia os modelos teóricos por ir contra a lógica da evolução estelar. Ele não apenas possui a menor quantidade de carbono já medida numa estrela desse tipo, como só poderia ter nascido de uma nuvem de gás poluída por uma estrela supermassiva. Nesse caso, com aproximadamente 30 vezes a massa da estrela mais conhecida dos seres humanos: o Sol.

Entre os cientistas que participam do trabalho está o brasileiro Vinicius Placco, pesquisador do National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory (EUA). Ele explica que a estrela não é só mais uma peça do grande quebra-cabeças do universo: “também é uma exceção dentro de um grupo bem pequeno de estrelas peculiares, que também são outra exceção”. As estrelas ultra-pobres em metais, que nasceram a partir de nuvens de gás enriquecidas pela primeira geração de estrelas a se formarem no Universo, já são conhecidas na ciência. A novidade é que “um astro com tão pouco carbono em sua atmosfera nunca havia sido encontrado”, comenta.

Autor principal do artigo publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters (ApJL), Placco observa que a descoberta de uma estrela ‘especial’ ou ‘estranha’ dentro do grupo seletíssimo de estrelas ultra-pobres em metais cria um novo desafio para a astrofísica. Para ele, “Há vários aspectos curiosos nesta estrela. Ela não só rompe com nossos conhecimentos consolidados, como também mostra singularidades específicas. Por estar a apenas 16 mil anos-luz de nós, sabemos que ela está dentro da nossa galáxia, a Via Láctea, mesmo sendo potencialmente mais velha do que ela”, observa ele.

Por fim o pesquisador destaca uma perspectiva interessante: “Esta estrela é praticamente um fóssil estelar à deriva pela Via Láctea, com uma assinatura química dos momentos iniciais do nosso universo, uma obra pertencente à arqueologia estelar”.

Sobre o S-PLUS
Fundado pelas universidades de São Paulo (USP), Federal de Sergipe (UFS) e Federal de Santa Catarina (UFSC) entre outras instituições internacionais, o Southern Photometric Local Universe Survey (S-PLUS), mapeia o céu do hemisfério sul com um telescópio robótico a partir de Cerro Tololo, no Chile. Com sede em São Paulo, o projeto reúne 100 pesquisadores de diferentes países e conta com o financiamento de diversas agências, entre elas, a CAPES.

Como citar este texto: CCS/CAPES. Estrela rara desafia lógica da astrofísica. Saense. https://saense.com.br/2021/06/estrela-rara-desafia-logica-da-astrofisica/. Publicado em 17 de junho (2021).

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