UnB
28/07/2021
Nagib Nassar
Os coronavírus são comuns na natureza, hospedados em mamíferos como morcegos, que estão amplamente presentes em todo o planeta e são parte essencial em seu ecossistema, pois são polinizadores de flores e disseminadores de sementes. Como qualquer ser vivo, eles coevoluem lado ao lado de seus hóspedes, os coronavírus. Isso acontece há milhões dos anos sem eles sofrerem prejuízo nenhum.
Sabemos com certeza que alguns vírus hospedados pelos morcegos já passaram para o ser humano, como o vírus da raiva, do ebola, entre outros. A adaptação desses tipos de vírus presentes no morcego ao seres humanos aconteceu com frequência ao longo da história. Eles usam outros mamíferos, como porco e macacos, como intermediários.
Um exemplo mais recente de vírus que vieram de morcegos e infectaram seres humanos, entre 2002 e 2012, são os coronavírus da Sars (Sindrome da Infecção Respiratória Aguda). Fato cientificamente confirmado e aceito pela comunidade médica internacional.
Encontros entre morcegos e humanos não são raros numa região como China por vários razões. Primeiro, pela grande diversidade de morcegos, essa variedade ampla possibilita que vivam em diferentes habitats em várias regiões do país. A China é um importante centro de biodiversidade, por várias razões, uma delas é por ser centro de uma antiga civilização. Em civilizações antigas, o ser humano desenvolveu agricultura e domesticou plantas e animais. Isso ofereceu alimento e refúgio o que ajudou na reprodução de espécies mamíferas e levou a rápida multiplicação desta, sofrendo mutações e variabilidade originando raças e variedades de espécies novas.
Os coronavírus por outro lado pode ter sofridos mutações que lhe deram uma força para transmissão entre humanos. As mutações fazem parte de processo evolutivo e podem resultar numa forma de vírus com capacidade nova de transmissão aos humanos sob condições novas.
As mudanças sociais pelas quais a comunidade chinesa passou, particularmente a melhoria do nível social e poder econômico foi capaz de criar condições e ambientes novos da transmissão do vírus ao humano. Com novos ambientes e com novas condições sempre surge procura de comida de melhor qualidade e pode ter encontrado seu alvo no morcego. O que nos aprendemos e qual é a responsabilidade da comunidade mundial medica como OMS (Organização Mundial da Saúde)?
Não há alternativa de legislação mundial que instrui leis nacionais para restringir o consumo e o contato com mamíferos silvestres, tanto pelo contato doméstico ou consumo como alimento. [2]
[1] Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.
[2] Nagib Mohammed Abdalla Nassar é botânico, geneticista e professor emérito da Universidade de Brasília. Graduado pela Universidade do Cairo, mestre em Genética pela Universidade de Assiute e PhD em Genética (comajor em botânica) pela Universidade de Alexandria. Sua pesquisa concentra-se no melhoramento da mandioca. É Fellow do Linnean Society-London (FLS). Recebeu em 2014 o prestigiado prêmio Kuwait International.
Como citar este artigo: UnB. A origem do coronavírus e a responsabilidade mundial. Texto de Nagib Nassar. Saense. https://saense.com.br/2021/07/a-origem-do-coronavirus-e-a-responsabilidade-mundial/. Publicado em 28 de julho (2021).