UFF
30/07/2021
A eclosão da pandemia do novo coronavírus reatualizou um tema que não é exatamente novo, mas que tem se tornado progressivamente mais urgente: como cuidamos dos nossos idosos. Cada vez mais presentes em nossa sociedade, em razão, por exemplo, do crescente desenvolvimento das tecnologias médicas em todo o mundo, os idosos viram sua expectativa de vida aumentar com o passar dos anos.
De acordo com estatísticas do IBGE, no ano de 2000, as pessoas acima de 65 anos representavam 8,17% da população brasileira e, no ano de 2030, estima-se que essa mesma faixa etária represente 13,44% da população total do país. Algumas projeções apontam que, em 2025, o Brasil poderá ocupar o sexto lugar em relação à população idosa, podendo alcançar cerca de 32 milhões de pessoas acima de 65 anos.
Com a ampliação dessa perspectiva de vida, cresceu também o número de distúrbios e doenças características da idade, a exemplo do Mal de Parkinson. Segundo Bruno Pessoa, neurocirurgião e pesquisador da UFF, e coordenador de uma pesquisa sobre a tecnologia do TREMSEN – Tecnologia de Detecção Precisa de Tremores, “os distúrbios do movimento, em especial a doença de Parkinson (DP), são considerados um grande problema de saúde pública e uma das síndromes neurológicas crônicas mais comuns no idoso”.
Bruno pontua que o DP é caracterizado por tremor, rigidez, instabilidade postural e perda de memória, entre outros sintomas, apresentando evolução arrastada e progressiva, com complicações motoras e não motoras em fases mais avançadas. “A doença causa grande impacto na qualidade de vida dos pacientes e cursa como um importante problema de saúde pública”, afirma.
Com vistas a fazer frente a esse cenário de crescente ocorrência do DP, o neurocirurgião da UFF, juntamente com uma equipe da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), da Universidade Federal de Goiás (UFG) e também da Universidade da Califórnia, nos EUA, vem desenvolvendo a pesquisa sobre o TREMSEN. O objetivo é tentar transformar a avaliação médica, que é subjetiva e pautada somente no exame clínico do neurologista, numa ferramenta que possa medir de forma objetiva sinais motores da doença de Parkinson.
Bruno Pessoa explica que o método consiste na aplicação de sensores nas mãos do paciente. “Uma vez que eles estejam conectados a fios ou cabos até um computador, mede-se não só a frequência do tremor, da rigidez, bem como a amplitude, ou seja, o quão bem o doente consegue realizar um determinado movimento. Através desse sensor, nós conseguimos transformar aquilo que é uma avaliação subjetiva e dependente do médico em valores absolutos, ou seja, em valores numéricos. Com isso, conseguimos mensurar melhor a intensidade do tremor”.
Até o momento existem resultados muito promissores publicados pela equipe, demonstrando a capacidade de a ferramenta ser no mínimo equivalente em termos de eficácia ao que se tem de padrão ouro atualmente, que é a utilização da escala”, Bruno Pessoa, neurocirurgião da UFF.
De acordo com o neurocirurgião, usualmente a avaliação do tremor do paciente com Parkinson é realizada através da utilização de escalas, que fazem parte de exames neurológicos. Existe nelas uma pontuação que a pessoa vai alcançando de acordo com alguns objetivos cumpridos no seu exame neurológico. “No entanto, essa escala – utilizada no mundo inteiro e considerada ‘padrão ouro’, ou seja, o melhor método para avaliação dos pacientes com DP – costuma ser muito cansativa, uma vez que demanda um grande tempo para a sua realização. Um dos objetivos para utilizarmos um sensor como é o caso do TREMSEN é, portanto, o de encurtarmos esse período de avaliação, transformando-a em um método mais objetivo e de curta duração”, enfatiza.
O estudante de medicina do 11ª período e de iniciação científica em neurocirurgia, além de integrante do projeto, Igor Duque Gonçalves da Silva, conta que participar do projeto lhe possibilitou compreender como uma “ferramenta bem desenhada pode ser útil no acompanhamento clínico dos pacientes com distúrbios motores, especialmente aqueles com Parkinson. Desenvolver tecnologias que possam quantificar de forma mais precisa os sinais manifestados tem um benefício significativo para essas pessoas, para o médico e também para o sistema de saúde”.
Bruno Pessoa ressalta que também está entre os objetivos do projeto beneficiar, além dos pacientes com DP, toda a comunidade acadêmica, tendo em vista que se trata de um método de baixo custo. Assim, de acordo com o pesquisador, “teríamos condição de avaliar melhor os doentes no contexto não só do Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP), mas também dos outros centros onde o projeto está sendo realizado. No futuro, a ideia é podermos fazer essa aplicação de forma mais abrangente na avaliação de qualquer portador de DP através do TREMSEN, que consiste na fusão inédita de diversos métodos de avaliação já existentes da doença de Parkinson em um só sistema”.
Outra característica da tecnologia destacada pelo neurocirurgião é o fato de o próprio paciente, através da ferramenta, conseguir mensurar e medir sua condição neurológica naquele momento, assim como a condição passada ou futura. Dessa forma, ele tem como saber de modo mais objetivo se a doença dele está estável, progredindo ou se está melhor do ponto de vista clínico. “Até o momento existem resultados muito promissores publicados pela equipe, demonstrando a capacidade de a ferramenta ser no mínimo equivalente em termos de eficácia ao que se tem de padrão ouro atualmente, que é a utilização da escala”, destaca.
Para o mestrando em Neurociências, também participante do projeto e responsável por uma das frentes de trabalho do mesmo, Gabriel Pereira Escudeiro, “a DP é uma doença degenerativa, progressiva e não tem cura, então muitos médicos ficam desanimados de trabalhar nessa área porque acreditam que não tem muito que possa ser feito pelos doentes. Isso não é verdade, tem muita coisa que pode ser realizada para melhorar a qualidade de vida das pessoas que convivem com essa enfermidade, e você só percebe isso quando começa a conviver com elas e vê que mudanças aparentemente pequenas fazem uma diferença enorme em suas vidas”, reconhece.
O neurocientista Bruno Pessoa finaliza enfatizando que a universidade pública é (e provavelmente sempre será) o pilar da pesquisa clínica no Brasil. “Nossa cultura e tradição em pesquisa clínica têm raízes históricas. A universidade privada só recentemente começou a atuar na pesquisa clínica e numa dimensão absolutamente menor do que nas universidades públicas. A participação dos órgãos de fomento e as parcerias com as universidades públicas é que viabilizam os projetos de pesquisa, como é o caso da pesquisa com o TREMSEN”. [2]
[1] Crédito da fotografia: Unsplash.
[2] Texto de Fernanda Cupolillo.
Como citar esta notícia: UFF. Parkinson: tecnologia de baixo custo que mede sinais da doença. Texto de Fernanda Cupolillo. Saense. https://saense.com.br/2021/07/parkinson-tecnologia-de-baixo-custo-que-mede-sinais-da-doenca/. Publicado em 30 de julho (2021).