UnB
03/08/2021
Aldo Paviani
A humanidade, ao longo de milênios, passou por muitas vicissitudes, ora provocadas por abalos sísmicos, tufões, tsunamis, guerras, ora causadas por focos viróticos ou pandemias generalizadas. Além de evidente crise de saúde, esses eventos são quase sempre seguidos por ondas de instabilidades mentais, sociais, econômicas e políticas. São, portanto, períodos de procura de soluções e de novas tecnologias que possibilitem o estabelecimento de uma nova ordem. Ainda, por se tratar de eventos que afetam muitos e exigem de todos, a procura a ser feita é de ordem coletiva, e não o desejo de alguns poucos iluminados.
No presente caso, a busca para vencer a covid-19 passa de 12 meses, computando milhares de mortos, lares destruídos, pessoas mentalmente fragilizadas, economias cambaleantes, sistemas de saúde esgotados. O pior: as cepas dos vírus aumentam, colocando em risco soluções encontradas, assustando, principalmente, aqueles que trabalham na linha de frente da pandemia, nos hospitais e nos bastidores da pesquisa, em laboratórios e universidades.
No Distrito Federal, o sistema de saúde está à beira do colapso. As UTIs chegaram ao limite de mais de 90% ou mais precisamente: 97% na rede de hospitais públicos; 98% nos hospitais privados, dando uma média de 97%, em 7 de abril. Essas são taxas preocupantes e variam de hospital para hospital. Em alguns hospitais, as macas com doentes estão espalhadas pelos corredores. Brasília chegou a mais 6 mil mortos e mais de 340 mil infectados.
Qual a solução? Vacinação em massa muito rápida e eficaz. No Brasil, vacinamos e colocamos fora de risco os profissionais da saúde e idosos com idade superior a 70 anos. Entre esses, a mídia revela queda substancial de mortos ou em situação de risco. Em relação aos jovens, a letalidade tem aumentado nas últimas semanas, o que desperta sinal de alerta às autoridades da saúde pública. Dada a necessidade de convívio social própria da idade, os jovens estão sendo infectados em aglomerações, sobretudo, no que ficou conhecido como “festas clandestinas”.
A necessidade de estar em festas e aglomerações revela uma profunda necessidade mental de estar novamente em um tecido urbano estável e transitável. No entanto, nos preparamos, neste exato momento, para um o lockdown de ordem mundial, com fechamento de atividades não essenciais, na tentativa de se evitar um avanço desgovernado e intratável da doença. A situação é, portanto, delicada. É a necessidade de isolamento contra a natureza humana de estar em grupo e em movimento. Só se pode pensar em uma solução que envolva auto-sacrifício, comprometimento de todos para que o lockdown seja rápido e efetivo. O entrave para isso está, principalmente, na economia e no pensamento capitalista de acúmulo de riqueza. Comerciantes e empresários realizaram protestos públicos para que o fechamento seja cancelado, argumentando que o fechamento de estabelecimentos comerciais impede o pagamento de salários e causa desemprego. De fato, muitos trabalhadores foram dispensados e estão sem emprego. A Pesquisa de Emprego e Desemprego da Codeplan, referente a janeiro de 2021, estima que haja 291 mil desempregados no DF. [2]
[1] Imagem de Julián Amé por Pixabay.
[2] Aldo Paviani é professor emérito da Universidade de Brasília e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR/CEAM/UnB). Graduado em Geografia e História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e livre docente/doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência em Geografia Urbana, atuando principalmente nos temas: urbanizaçaão em Brasília, gestão do território, planejamento urbano, exclusão socioespacial e emprego/desemprego em áreas metropolitanas.
Como citar este artigos: UnB. Que soluções temos para o ciclo da pandemia? Texto de Aldo Paviani. Saense. https://saense.com.br/2021/08/que-solucoes-temos-para-o-ciclo-da-pandemia/. Publicado em 03 de agosto (2021).