UnB
27/04/2021

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Marta Adriana Bustos Romero

Os riscos da mudança climática ainda não são plenamente visíveis e reconhecidos pela sociedade, incluindo os governantes, que, portanto, não veem valor no investimento pautado no princípio da precaução. Esse fato reduz o apoio da população para os investimentos públicos em adaptação, assim como dificulta seu próprio engajamento. O uso e a ocupação do solo como parte da estratégia de adaptação em áreas urbanas ainda são pouco explorados no Brasil.

O crescimento urbano desordenado do Distrito Federal – DF tem alterado sensivelmente o clima nos últimos anos: verões mais quentes, invernos mais secos, chuva extrema e ondas de calor. As vulnerabilidades ambientais são pouco exploradas em Brasília, uma vez que o lugar para a capital do país foi escolhido principalmente por suas condições climáticas, e o Plano Piloto desenvolvido por Lucio Costa possui características bioclimáticas que são verdadeiras lições sobre planejamento urbano resiliente ao calor extremo, assim como as soluções arquitetônicas e os projetos modernistas adotados por Niemeyer.

Num mundo urbanizado, o futuro depende de como evoluirão as soluções urbanísticas e qualquer ideia de sustentabilidade deverá provar a sua operacionalidade, no cenário das cidades. Assim sendo, os grandes temas do urbano, como Mobilidade e Transportes; Planejamento Regional e Urbano; Ambiente e Energia; Cidades Inovadoras e Inteligentes requerem nossas reflexões. Nas cidades, mudanças no uso do solo, a perda de vegetação e emissões de calor antropogênico de veículos, indústrias e edifícios são mais significativos para o aquecimento do que as emissões de gases de efeito estufa global.

A estruturação do espaço urbano, a forma de desenvolvimento e da expansão do tecido urbano merecem atenção no planejamento urbano de médio e longo prazo, para que haja um potencial de minimização das consequências de mudanças climáticas. A forma de ocupação da periferia, com baixa densidade, mas com grandes áreas pavimentadas e supressão da vegetação, provocando o que se pode chamar de desbalanço de energia nas cidades, com a parcela de calor latente diminuindo cada vez mais requerem estratégias de mitigação e adaptação a serem pensadas e as estratégias de mitigação não serão suficientes. Sendo assim, esse é mais um argumento para se tratar os espaços públicos como espaços de amenidade climática, onde as pessoas possam descansar e se recuperar dos extremos climáticos.

A estratégia de manter uma vegetação arbórea em parques urbanos, conectada com arborização nas vias, formando uma rede de infraestrutura verde na cidade, cria um efeito oásis durante as ondas de calor. Isto nos leva a ver as duas crises globais interconectadas, mudanças climáticas e a crise de saúde publica relevante no contexto da covid-19, os urbanistas buscam soluções a partir da pesquisa de como o ar poluído das cidades afeta diretamente as pessoas deixando um alerta para desacelerar os impactos do homem sobre o planeta. [2]

[1] Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.

[2] Marta Adriana Bustos Romero é graduada pela Universidade do Chile e pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Possui especialização em Arquitetura na Escola de Engenharia, USP de São Carlos, mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Brasília e doutorado em Arquitetura – Universidade Politécnica da Catalunha, pós- doutorado em Landscape Architecture na PSU. Atualmente é professora titular da Universidade de Brasília.

Como citar este artigo: UnB. Impactos das mudanças climáticas e sustentabilidade no patrimônio moderno. Texto de Marta Adriana Bustos Romero. Saense. https://saense.com.br/2021/04/impactos-das-mudancas-climaticas-e-sustentabilidade-no-patrimonio-moderno/. Publicado em 27 de abril (2021).

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