Fiocruz
19/11/2021
Pela evidência epidemiológica do aumento da obesidade, a OPAS/OMS (Organização Mundial de Saúde) vem recomendando aos países membros que implantem e mantenham sistemas de vigilância sobre os fatores de risco. Diante da importância empírica da obesidade na adolescência e da necessidade de atuar contra ela, o artigo Aspectos biomédicos da obesidade na adolescência, com participação da ENSP, teve como foco realizar uma revisão integrativa da literatura sobre os fatores de risco da obesidade em adolescentes (10 e 19 anos). “Do ponto de vista político e social, é preciso enfrentar as propagandas da indústria alimentícia, que seduzem os adolescentes a consumirem alimentos processados e ricos em gordura e açúcar”, recomenda.
Publicado no suplemento 3 da revista Ciência & Saúde Coletiva, da Abrasco, com autoria de Simone Carvalho Neves, da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques; Luciana Miranda Rodrigues, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into); Paulo Alexandre de Souza São Bento, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz); e Maria Cecília de Souza Minayo, da ENSP, o artigo identificou propostas passíveis de serem implementadas: a modificação de hábitos alimentares, o controle de peso e a prática de exercícios físicos. Tais modificações comportamentais podem ser recomendadas para os contextos familiares, escolares e dos serviços de saúde. Os autores recomendam estratégias de prevenção e pensar a escola como um espaço rico para promoção da saúde por intermédio da educação.
Conforme o artigo, a obesidade nos adolescentes pode sobrevir tanto da genética como da ingestão de grande quantidade de gordura e de calorias. Além disso, a falta de atividades físicas e muito tempo despendido nas redes sociais, em jogos interativos e em frente à televisão podem contribuir para o acirramento do problema. Os adolescentes que convivem com a obesidade tendem a se tornar adultos obesos e a apresentar complicações clínicas provenientes do sobrepeso, assim como ter sua expectativa de vida diminuída.
O artigo ressalta que a fase da adolescência é caracterizada por grandes e múltiplas mudanças, constituindo-se em um período potencialmente difícil, com vários desafios e vulnerabilidades referentes às transformações inerentes ao processo de amadurecimento humano. “Uma dessas vulnerabilidades está relacionada ao surgimento da obesidade, que se constitui como um problema de saúde pública. Ela é considerada uma das doenças crônicas não transmissíveis (DNCT) de forte incidência entre os jovens na atualidade, de forma que, se não houver intervenções efetivas para tratá-la, tenderá a se agravar ao longo da vida.”
Do ponto de vista global, os fatores de risco compreendem a questão geoeconômica das empresas de processamento de alimentos; a alteração da pressão arterial; a maior prevalência em indivíduos do sexo masculino em culturas onde a massa corporal de homens é entendida como marcador de saúde; o sedentarismo aumentado em imigrantes; o aumento de horas dispensadas pelos adolescentes diante das telas da TV, do computador e nas redes sociais, em detrimento às possibilidades de atividades físicas; a diminuição da frequência nas aulas de educação física; o nível educacional das mães; o reflexo de pais obesos na obesidade dos filhos; o consumo em excesso de alimentos ricos em calorias e sódio mas pobre em nutrientes, bem como os ultraprocessados; e a autopercepção do peso. Esses fatores de risco também elevam as chances para o desenvolvimento de outras DCNT.
A obesidade é definida como um distúrbio nutricional e metabólico de origem multifatorial, um estado em que o percentual de gordura corporal no indivíduo se encontra elevado por causa de um desequilíbrio entre a ingesta e o gasto de energia. Fatores genéticos, emocionais e estilos de vida estão intimamente relacionados à sua gênese ou manutenção.
No Brasil, de acordo com o Censo Demográfico de 2010, a população de adolescentes era de aproximadamente 18 milhões entre 10 e 14 anos e de 17 milhões entre 15 e 19 anos de idade. A prevalência de obesidade e sobrepeso em adolescentes é observada em vários países, como nos Estados Unidos e em nações latino-americanas. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mencionam que a taxa de obesidade em crianças e adolescentes em todo o mundo foi de 1% em 1975 (equivalente a 5 milhões de meninas e 6 milhões de meninos), e de 6% em 2016 (correspondendo a 50 milhões de meninas e quase 74 milhões de meninos). A mesma OPAS ressalta que o número de obesos com idade entre 5 e 19 anos cresceu mais de dez vezes, passando de 11 milhões em 1975 para 124 milhões em 2016.
Em 1989, foi criado no Brasil o Programa Saúde do Adolescente, com múltiplos objetivos, sendo um deles a prevenção das doenças crônicas, entre as quais a obesidade (PROSAD). Esse programa possibilitou alguns desdobramentos, como a recente realização da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), uma parceria estratégica entre o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com apoio do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Um de seus objetivos foi identificar prioridades para o desenvolvimento de políticas públicas para a promoção da saúde em adolescentes. Seu foco foi a vigilância de risco e a proteção contra doenças crônicas. Esse estudo levantou vários hábitos de vida não saudáveis hoje comuns entre jovens, como o consumo de tabaco, álcool e drogas ilícitas, a alimentação inadequada e o sedentarismo.
Uma das limitações que o artigo reconhece revisão é a impossibilidade de definir os fatores preponderantes, dada a variabilidade geográfica, cultural e de foco dos temas analisados. Isso dificulta a elaboração de recomendações possíveis para o problema levantado. No entanto, tomando como base os fatores de risco que foram levantados nos estudos, é possível dizer que os jovens podem ser protagonistas na transformação de sua situação e, frequentemente, de sua família, na medida em que tomem conhecimento das questões implicadas na obesidade e se tornem multiplicadores desse conhecimento. Nesse sentido, a escola e as Unidades Básicas de Saúde têm um papel fundamental e insubstituível. [2]
[1] Imagem: DSS/ENSP.
[2] Fonte: Artigo revista Ciência e saúde coletiva.
Como citar esta notícia: Fiocruz. Aspectos biomédicos da obesidade na adolescência. Saense. https://saense.com.br/2021/11/aspectos-biomedicos-da-obesidade-na-adolescencia/. Publicado em 19 de novembro (2021).