UnB
29/12/2021

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Paulo José Cunha

O desabamento dos índices de audiência das principais emissoras de televisão, associado à drástica redução das tiragens dos jornais e revistas, além da queda nos acessos aos portais de notícias, acenderam o sinal vermelho junto os analistas de mídia. Acenderam, não: explodiram o sinal. O fenômeno, que alguns observadores classificam como inédito desde que Guttemberg inventou a imprensa e Philo Farnworthe inventou a Tv, não é uma exclusividade brasileira. Mas, por aqui, a situação ganha contornos preocupantes em razão do quadro político/pandêmico que o país atravessa. Tais condições ampliam a dimensão do problema e espraiam seus efeitos por áreas diversas, desde a degradação do gosto musical, por exemplo, até retrocessos nas regras básicas de comportamento e de tolerância. Sem informação de qualidade, a opinião pública se consolida não a partir de princípios de tolerância e democracia, mas de parâmetros distorcidos ou baseados em convicções controversas como, por exemplo, os das religiões fundamentalistas. E foram esses novos formadores de opinião que se apossaram das redes sociais, de onde emergem os atuais protocolos de convivência social e política.

Só pra dar uma ideia, o Jornal Nacional da Rede Globo registrou neste final de 2021 o pior índice de audiência de sua história. Dados da Kantar Ibope Mídia indicam que o JN vai fechar o ano com uma média de 24,4 pontos de audiência, e um “share” (participação no universo de aparelhos ligados), de 37,7%. São números muito fortes, ainda mais quando se observa que, em 2015, o JN enfrentou uma crise que até ali tinha sido a pior. Ela puxou pra 24,7 pontos a sua audiência com 39,7 de “share”. E olha que isso ocorreu há seis anos.

A explicação para a atual queda da audiência de todos os telejornais, não só o JN, é a migração para plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime. Somada à simples mudança para outros canais (pagos ou abertos). Se fosse só isso ainda dava para se buscar alguma alternativa. Mas não. É crescente o número de leitores e telespectadores que simplesmente abdicaram do direito de se informar. Esses ex-telespectadores e ex-leitores de jornais não assistem hoje a telejornal… algum. Nem lêem qualquer jornal. Como outro dia o deputado bolsonarista Bibo Nunes teve a coragem de dizer da tribuna da Câmara, “depois das redes sociais não existe mais razão alguma pra se ler jornal ou assistir telejornais”. Para esse público, WhatsApp, Facebook e Instagram suprem as necessidades de informação.

Os jornais estão fechando

Com a queda nas tiragens, veículos tradicionais que fecharam e se mantêm apenas no meio eletrônico tornaram-se, do ponto de vista do público, apenas uma opção a mais entre milhares de outras de baixa credibilidade que surgem como cogumelos, na forma de radiowebs, blogs “independentes” (valem as aspas) e sites de credibilidade zero. Tudo isso, somado ao fato de que qualquer pessoa, de qualquer formação ou sem formação alguma pode atualmente montar um negócio “jornalístico” pela internet, situação agravada pela extinção da exigência do diploma. [2]

[1] Imagem de congerdesign por Pixabay.

[2] Paulo José Cunha é escritor, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação (FAC) há 19 anos, onde ministra as disciplinas de Telejornalismo e de Oficina de Texto. Já foi repórter da Rede Globo, do Jornal do Brasil, de O Globo e também trabalhou na Rádio Nacional. Hoje é apresentador da TV Câmara. Publicou os livros Vermelho – um pessoal Garantido e Caprichoso – a Terra é Azul sobre a festa de Parintins; cinco edições de A Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês; A Noite das Reformas, sobre a extinção do AI 5; Perfume de Resedá e O Salto sem Trapézio, de poesia.

Como citar este artigo: UnB. Alguém aí me traga um café que o mundo acabou!. Texto de Paulo José Cunha. Saense. https://saense.com.br/2021/12/alguem-ai-me-traga-um-cafe-que-o-mundo-acabou/. Publicado em 29 de dezembro (2021).

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