CCS/CAPES
13/01/2022

Capa do Gibi publicado (Foto: Arquivo pessoal)

Larissa Tamborindenguy Becko é graduada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). Atualmente faz doutorado na mesma instituição.

De onde nasceu a vontade de estudar super-heróis?
O interesse pelo universo dos super-heróis nasceu ainda na graduação, que teve como resultado o trabalho de conclusão sobre o perfil do Capitão América, um dos principais personagens da Marvel Comics, na saga ‘Guerra Civil’, em relação ao contexto estadunidense da época. A proximidade com personagens e narrativas oriundas das histórias em quadrinhos me levou à participação em eventos da cultura pop, assim como contato com consumidores e entusiastas desses produtos. Daí surgiu o interesse também em entender as pessoas em si, os fãs, que são o centro da pesquisa de mestrado.

Como a pesquisa se estrutura?
A pesquisa levou em consideração três pilares: as performances de fãs, as práticas de consumo e as construções identitárias. Essas três esferas foram identificadas como processos encadeados: o que as pessoas consomem em termos de bens culturais servem como elementos para a criação das performances de fãs que, por sua vez, fazem parte das construções identitárias desses sujeitos. Na pesquisa, considero como performance todas as estratégias e ações que as pessoas utilizam para se mostrarem como fãs de determinado super-herói. As análises empíricas indicam que o consumo de bens e textos midiáticos relacionados aos super-heróis são fundamentais para que os fãs possam criar suas narrativas identitárias e se posicionar dentro e para a comunidade de fãs.

Como foi feita essa pesquisa?
O recorte da pesquisa foram fãs de super-heróis da Marvel e da DC Comics. A pesquisa de campo foi dividida em três momentos principais: a pesquisa exploratória, realizada em uma convenção de quadrinhos realizada na região metropolitana de Porto Alegre, o questionário online, que contou com mais de mil respondentes de todo o País, as entrevistas presenciais, realizadas pelo viés etnográfico com fãs residentes em Porto Alegre. Ao todo, seis pessoas foram entrevistadas com o intuito de verificar como as práticas de consumo interferem nas trajetórias de vida e escolhas pessoais dos fãs.

Quais as principais conclusões?
A principal conclusão da pesquisa, orientada pela professora Adriana Amaral, foi a percepção de que as práticas de consumo e performances de fãs vão muito além de algo apenas relacionado a hobby ou entretenimento. Os gostos e afetos pelos personagens e suas narrativas influenciam nas decisões de vida, como a escolha da carreira ou do curso de graduação. Além disso, as interações com esse universo ajudam as pessoas a lidar com ansiedade, depressão e timidez, por exemplo. E, com a expansão do universo dos super-heróis para as telas de TV e cinema, essas percepções ficam ainda mais evidentes.

Como surgiu a ideia de fazer uma história em quadrinhos sobre a pesquisa?
A ideia nasceu de uma reunião de grupo de pesquisa em que, pelo caráter popular dos objetos de pesquisa dos integrantes, discutíamos as possibilidades de produtos derivados de cada pesquisa. Para mim, que pesquisava fãs de super-heróis, a elaboração de uma história em quadrinhos pareceu bem adequada. Finalizada a dissertação e realizada a banca de defesa, iniciei a ideia do projeto da HQ.

Qual o objetivo da HQ?
A HQ não é uma versão da dissertação; ela é um produto oriundo da pesquisa de mestrado. O grande objetivo foi ilustrar como a pesquisa empírica aconteceu na prática, evidenciando todos os processos que constituíram a trajetória. Essa decisão surgiu a partir da minha dificuldade, enquanto pesquisadora iniciante, de entender como as pesquisas de campo acontecem, pelos relatos das dissertações e teses. Muitas vezes, encontramos a metodologia utilizada e os resultados obtidos, mas não são expostos os processos empíricos em si. Daí a vontade de fazer uma HQ mostrando como foi a minha experiência. Outro ponto importante é em relação à pesquisa como algo que pode ser divertido e contar com temas leves, sem perder a profundidade e o rigor científico exigidos na academia. Para mim, foi um processo muito enriquecedor e, ao mesmo tempo, divertido, e eu quis levar isso para a HQ. Mérito dos autores que me ajudaram a fazer isso colocando os elementos das próprias histórias em quadrinhos na narrativa. Por isso, quem lê a história encontra várias referências à cultura pop, elementos de ficção e fantasia e, é claro, superpoderes!

E no doutorado, você tem seguido com essa temática?
A pesquisa de doutorado tem se debruçado nas franquias da cultura pop como elementos midiáticos. Assim, sigo a pesquisa dentro desse universo que tanto me fascina. E já é legal avisar: vem uma nova edição da ‘Caçadora de Fãs’ a partir da pesquisa de doutorado. Esse é um projeto que vai além da HQ, já que também criamos um perfil no Instagram e no Facebook para promover conteúdos e reflexões sobre a pesquisa em cultura pop.

Qual a contribuição da CAPES para sua pesquisa?
Sem a bolsa da CAPES, seria inviável ter cursado o mestrado e agora estar no curso de doutorado. Sou muito grata ao PPG por ter me selecionado como bolsista e espero contribuir para a ciência e para a divulgação científica nacionais.

Como citar este texto: CCS/CAPES. Pesquisa científica sobre fãs de super-heróis vira HQ. Saense. https://saense.com.br/2022/01/pesquisa-cientifica-sobre-fas-de-super-herois-vira-hq/. Publicado em 13 de janeiro (2022).

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