UnB
26/03/2022

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Isaac Roitman

A não violência exige luta determinada e persistente contra as injustiças

Vivenciamos um Carnaval sem alegrias e com um cenário triste, vendo em tempo real as cenas do conflito entre Rússia e Ucrânia. Chegou a hora de fazermos uma profunda reflexão e acabar com as guerras definitivamente. Segundo o historiador John Baines, da Universidade de Oxford, o primeiro registro de uma guerra se deu por volta do ano 2525 antes de Cristo, no estado de Lagash, localizado na Suméria (sudeste do Iraque), contra o estado Umma. Ao longo do último milênio, o avanço tecnológico das máquinas de matar fez com que os conflitos fizessem muito mais vítimas em menos tempo.


A ilimitada crueldade amplamente demonstrada pela humanidade não tem analogia no mundo dos animais superiores. O professor Boris Porshnev introduziu o conceito que a humanidade no seu desenvolvimento passou por um estado de adelphophagy (canibalismo). Até hoje, o ser humano não conseguiu viver pacificamente. Imaginar, então, um mundo com guerras, escassez de água e alimentos, migrações forçadas é assustador. Infelizmente, esse é o futuro que aguarda as futuras gerações se não revertermos esse processo por meio da implantação de uma cultura de paz planetária.


Paz não é apenas a ausência de guerra entre os países. Paz é garantir que todas as pessoas tenham moradia, alimentos, roupas, educação, saúde, amor e compreensão. Paz é cuidar do ambiente em que vivemos, garantir a qualidade da água, o saneamento básico, a despoluição do ar, o bom aproveitamento da terra. Paz é buscar serenidade dentro da gente para viver com alegria. Paz é a capacidade de se criar clima de harmonia entre todos, lembrando-se sempre de que onde existe amor, existe paz.


Ao longo do tempo, a humanidade se preocupa a construir a cultura da Paz. Na nossa história recente, bebemos na fonte alimentada por pensamentos e ações de grandes pacifistas, tais como Mahatma Gandi, Martin Luther King Jr., Dalai Lama, Albert Einstein, Nelson Mandela, madre Teresa e Amoz Oz.


Para que a Paz possa se tornar algo viável, palpável e possível de ser conquistada é necessário começar a pensá-la como construção individual. Quando cada indivíduo perceber que o coletivo é fruto do individual, que sociedade pacífica se constrói com indivíduos pacíficos, tolerantes, desprovidos de preconceitos e atitudes discriminatórias, poderemos pensar na paz universal com mais esperança.
A conquista da Paz passa também por ações governamentais, políticas públicas que proporcionem condições mínimas de vivência digna, com perspectiva de futuro para as novas gerações, criação de empregos dignos para a população jovem e adulta, pela não discriminação do idoso ou do diferente, incluindo nessas diferenças a religião, a raça, a opção sexual, o deficiente, o obeso, o índio, o estrangeiro. Há que ser percebido que a diferença enriquece, acrescenta e aprimora.

É importante, nesse aspecto, a educação em direitos humanos e na promoção dos valores éticos, desde a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e no âmbito universitário. Deve englobar o educando, os professores e toda a comunidade escolar e a família, com ações multidisciplinares integradas e com a promoção dos valores e virtudes.

Os grandes líderes da humanidade nos ensinam que a não violência não se confunde com passividade ou harmonia idealizada. A não violência é caminho que exige exercício contínuo e incansável de diálogo, luta determinada e persistente contra as injustiças, prática constante de ações criativas em prol da humanidade. Como vivemos numa época em que carecemos de bons modelos éticos para guiar nossas ações, busquemos nas belas páginas das vidas dos grandes líderes do passado a inspiração necessária para fazer a nossa parte na construção de cultura da paz no presente.

Vamos fazer jus à nossa classificação como Homo sapiens, lembrando o pensamento de Albert Einstein: “A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.” [2], [3]

[1] Foto: pixel2013 / Pixabay

[2] Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/Ceam/UnB), membro titular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da Capes, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-subsecretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da Educação.

[3] Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 04/03/22.

Como citar este texto: UnB. Em vez de Guerra, a Paz. Texto de Isaac Roitman. Saense. https://saense.com.br/2022/03/em-vez-de-guerra-a-paz/. Publicado em 26 de março (2022).

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