UnB
30/03/2022

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Jonas Brant e Guilherme Tonelli

A pandemia tem deixado marcas profundas, desde mudanças repentinas no nosso cotidiano até o luto pela perda dos mais de 5 milhões de vidas ao redor do mundo. Os últimos dois anos impuseram uma nova realidade e a comunidade científica se debruçou de forma coordenada, num empreendimento coletivo inédito, a entender o novo vírus e o cenário pandêmico. Graças a esse esforço, utilizamos tecnologias já bem conhecidas para desenvolver e aplicar imunizantes que mudaram o curso fatal da pandemia, mas a chegada da variante ômicron trouxe à tona o fantasma das ondas anteriores e frustrou quem esperava uma vida mais “normal” no ano de 2022. Será que um dia poderemos superar a covid e voltar ao estilo de vida pré-pandêmico?

Para responder à pergunta, temos que entender como as novas variantes do vírus surgem e o que podemos fazer a respeito. O Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, se reproduz infectando células e sequestrando sua maquinaria molecular para produzir novas cópias de si. Esse processo se repete bilhões de vezes em cada uma dos mais de 300 milhões de pessoas que contraíram o vírus desde os primeiros casos em Wuhan em 2019. Erros são naturais neste processo, e o acúmulo deles cria variantes como a ômicron e pelo menos outras 12 cepas principais identificadas até hoje. Essas variantes podem surgir a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo Os testes diagnósticos convencionais não são capazes de distinguir as variantes. O monitoramento e a classificação delas é feito por laboratórios especializados ao redor do mundo, pois são capazes de escanear o código genético viral e comparar com um banco de dados global. Em mais de 200 países e territórios, cientistas fizeram mais de 7 milhões de sequenciamentos na expectativa de registrar o surgimento de nova variante e montar uma resposta coordenada a ela. No Brasil, a Fiocruz e as universidades públicas fazem parte dessa rede de vigilância genômica.


A Organização Mundial da Saúde e a comunidade científica acompanham a evolução do vírus e classificam as variantes de acordo com o risco que representam para a humanidade. São elas: as variantes de interesse, que não apresentam risco imediato para a saúde pública, e as variantes de preocupação, que podem, por exemplo, apresentar transmissibilidade maior ou capacidade de causar quadros graves da doença. Existe ainda uma terceira categoria, as variantes de alta consequência, que poderiam, por exemplo, escapar da imunidade oferecida por vacinas. Não existem linhagens classificadas nessa última categoria até o momento.


A variante ômicron tem grande capacidade de infecção e é uma variante de preocupação. Isso significa que a covid-19 aumentou a eficiência no contágio. A alta transmissibilidade da ômicron tem levado à perda de controle da pandemia e, mais uma vez, observamos aumento brusco no número de casos, levando a uma sobrecarga do sistema de saúde, que não dispõe de infraestrutura e de profissionais para comportar uma demanda tão alta de uma vez só.

Essa incapacidade de prestar suporte aos casos confirmados que precisam de atenção hospitalar leva a um aumento na letalidade do vírus e também a um pico de mortalidade geral, uma vez que o sistema de saúde precisa realocar recursos para se dedicar à emergência da covid. Isso cria um gargalo no sistema de saúde e afeta a capacidade de cuidar adequadamente dos pacientes, algo que também já podemos perceber no Brasil. No DF, indicadores da taxa de transmissão em janeiro já batem os números de março de 2021, em curto espaço de tempo.

Para frear a onda, reduzir o sofrimento e salvar vidas, o esforço deve ser coletivo: a utilização adequada de boas máscaras (N95 ou PFF2), a ventilação de ar e a testagem frequente de pessoas com sintomas gripais seguem sendo estratégias importantes. Além disso, casos confirmados devem estar atentos para realizar o isolamento voluntário e quebrar as cadeias de transmissão.

Vacinas são fundamentais nesse cenário. Apesar da possibilidade de infecção, pessoas vacinadas raramente evoluem para quadros graves da doença, além de se recuperarem muito mais rápido e, provavelmente, terem um período infeccioso menor. Hoje em dia, o entendimento científico é unânime no efeito protetivo das vacinas e na sua capacidade de salvar vidas. Pessoas que completaram o esquema vacinal e a dose de reforço possuem menos chances de serem hospitalizadas quando comparamos com quem ainda infelizmente não se vacinou.

Viveremos novamente em um mundo em que máscaras, testagem e vacinação frequentes não serão necessárias? Esta é uma resposta difícil de dar, mas o fato é que novos vírus e novas variantes continuarão surgindo. Assim, compreender o cenário epidemiológico pode se tornar algo como previsão do tempo: importante olhar antes de sair de casa para saber se leva o guarda chuva ou que rota escolher. Com esse esforço coletivo de prevenção de infecções, podemos estabelecer o controle sobre a pandemia e proteger a vida das pessoas ao nosso redor. [2], [3], [4]

[1] Foto: geralt / Pixabay

[2] Publicado originalmente no Correio Braziliense em 29/01/22

[3] Jonas Brant é coordenador da Sala de Situação da UnB e professor do Departamento de Saúde Coletiva.

[4] Guilherme Tonelli é líder da equipe de revisões rápidas da Sala de Situação de Saúde da UnB.

Como citar este texto: UnB. Existirá um fim para a covid?. Texto de Jonas Brant e Guilherme Tonelli. Saense. https://saense.com.br/2022/03/existira-um-fim-para-a-covid/. Publicado em 30 de março (2022).

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