Jornal da USP
26/04/2022

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Em livro, especialistas iluminam o caminho para consolidar um setor que é um sustentáculo das exportações e da segurança alimentar do País 

“Destruir matas virgens, nas quais a natureza nos ofertou com mão pródiga as melhores e mais preciosas madeiras do mundo, além de outros frutos dignos da melhor estimação, e sem causa, como até agora tem-se praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza.” 

A frase, pasmem, é de José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, portanto com 200 anos de idade, bicentenária, efeméride que o País está empenhado em comemorar. Não a frase, claro, que está no artigo “Agronegócio e a Agricultura Sustentável”, de autoria dos engenheiros agrônomos Walter Lazzarini e José Pedro Coelho e Silva. 

O artigo é um dos que compõem o livro Sustentabilidade no Agronegócio – 26 textos ao todo, mais introdução, pré e posfácio, 806 páginas, editado pelos professores Cleverson Vitório Andreoli e Arlindo Philippi Jr. 

Ao longo dos artigos, o livro apresenta e debate diversos pontos de vista sobre o tema apresentado no título da obra, que faz parte da Coleção Ambiental, coordenada pelo professor Arlindo Philippi Jr., que já soma outras seis publicações, sob as asas do Instituto de Estudos Avançados e da Faculdade de Saúde Pública, ambos da Universidade de São Paulo, e da editora Manole. 

“A busca de desenvolvimento sustentável representa um dos maiores desafios para a humanidade e, em especial, para o Brasil”, diz, no prefácio da obra, Maurício Antônio Lopes, PhD e pesquisador, ex-presidente da Embrapa, empresa que acumula notável experiência no desenvolvimento da agricultura brasileira. 

Por que um dos maiores desafios? Andreoli e Philippi, editores do livro, explicam: “As características do País estabelecem vocação natural para o desenvolvimento da agricultura, pois em grande parte do território nacional há solos com potencial agrícola, abundante disponibilidade de recursos hídricos, insolação e variação térmica, adequados à maior parte dos cultivos.” E acrescentam: “Adicionalmente, o Brasil abriga uma megabiodiversidade que fornece serviços ambientais que determinam grande potencial competitivo para o agronegócio.” 

Os artigos do livro iluminam o caminho para superar a imagem polêmica, certa ou errada, que se consolidou ao longo dos tempos, como demonstra a histórica frase atribuída ao Patriarca da Independência José Bonifácio, citada no começo deste artigo. Apontam para a importância do agronegócio como sustentáculo da economia brasileira e alimentador da crescente demanda mundial e a importância fundamental de que a produção e a comercialização agrícola sigam as regras básicas de sustentabilidade, que ganham cada vez maior espaço em todo o mundo, especialmente nos países nossos clientes. 

O livro “reúne diferentes perspectivas acerca de como integrar as múltiplas facetas da governança ambiental em prol de um agronegócio mais sustentável”. Aborda também “sistemas, práticas, tecnologias e indicadores para a intensificação sustentável da agricultura, uma estratégia central para sustentar 10 bilhões de pessoas em um mundo que possa ser saudável e equilibrado”. Discute “as interconexões entre o agronegócio, as questões climáticas e os serviços ecossistêmicos e as mudanças climáticas que já estão afetando a produtividade agrícola e representam um risco iminente para a segurança alimentar planetária”. Finalmente, debate o “marco legal, arranjos de governança e educação”, que são facetas da governança ambiental. 

Vale anotar a observação que faz parte do 18° artigo, Produção Rural no Semiárido: vulnerabilidade climática e desenvolvimento sustentável: “O conceito do agronegócio está carregado, em muitos setores, especialmente acadêmicos e terceiro setor, de um simbolismo negativo. Isso acentua o conflito”. E continua: “Em realidade uma grande parte dos agricultores familiares tem ou deseja ter ou, ao menos, deseja obter lucro na sua terra – o que é totalmente legítimo, mesmo se isso os coloca simbolicamente em contraposição à narrativa tradicional da agricultura familiar ou ‘campesinato’, eminentemente extrativista ou de subsistência”. 

“A agricultura, em que pese ser uma atividade que mais aproxima o homem da natureza, é uma importante fonte de degradação ambiental; para ser sustentável, portanto, precisa adotar práticas que protejam o solo, a água, a fauna e, principalmente, nos dias atuais, a vegetação nativa”, diz no posfácio do livro o deputado federal Arnaldo Jardim, ex-politécnico e ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo. “A preocupação com a sustentabilidade da produção deixou de ser apenas um modismo, veio para ficar. Uma atividade econômica para ser sustentável deve garantir que todas as etapas de seu processo produtivo tenham o menor impacto possível sobre o meio ambiente”, acrescentou. 

A advertência do Patriarca da Independência, José Bonifácio, que foi tutor do ainda menino Pedro II, missão da qual foi afastado pela nobreza em função de suas ideias progressistas para a época, mostra que a questão da preservação ambiental acompanha nossa história até os dias de hoje. Nos dias que correm – em que são fundamentais as exportações agrícolas brasileiras e a segurança alimentar de nossa população –, a sustentabilidade do agronegócio é imprescindível, inescapável. [2] 

[1] Fotomontagem com imagens de Freepik e arquivo pe

[2] Texto de Luiz Roberto Serrano

Como citar este texto: Jornal da USP. Sustentabilidade: um desafio para o Brasil.  Texto de Luiz Roberto Serrano. Saense. https://saense.com.br/2022/04/sustentabilidade-um-desafio-para-o-brasil/. Publicado em 26 de abril (2022).

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