Fiocruz
02/08/2022

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Com mais de 16 mil casos notificados em 75 países desde o início de maio, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou neste sábado (23) que a monkeypox constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional.

“Temos um surto que se espalhou rapidamente pelo mundo, por meio de novos modos de transmissão, sobre os quais entendemos muito pouco e que atendem aos critérios do Regulamento Sanitário Internacional”, declarou o diretor-geral da OMS.

“A avaliação da OMS é que o risco da monkeypox é moderado em todas as regiões do mundo, a exceção da Europa, onde avaliamos o risco como alto”, complementou Ghebreyesus, para quem o risco de uma disseminação internacional do vírus é claro e tende a aumentar, embora o risco de interferência no tráfego internacional permaneça baixo “neste momento”.

O anúncio foi feito durante uma coletiva de imprensa virtual após a segunda reunião do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional sobre o surto de monkeypox em vários países. Atualmente, existem três emergências deste tipo: além da nova doença, completam a lista COVID-19 e poliomielite.

lista completa de recomendações está publicada no site da OMS e traz diferentes sugestões, adaptadas aos contextos de disseminação do vírus.

As recomendações são temporárias e se aplicam a diferentes grupos de Estados-nação, “com base em sua situação epidemiológica, padrões de transmissão e capacidades de resposta”. Assim, os países foram “divididos” em quatro grupos:

Grupo 1: Estados sem histórico de monkeypox ou que não detectarem novo caso por mais de 21 dias;

Grupo 2: Estados com casos recentemente importados de monkeypox na população humana, com transmissão de humano para humano, inclusive em grupos populacionais-chave e comunidades com alto risco de exposição;

Grupo 3: Estados com transmissão zoonótica conhecida ou suspeita do vírus, incluindo aqueles em que a transmissão zoonótica é conhecida ou foi relatada no passado, aqueles em que a presença do vírus foi documentada em qualquer espécie animal e aqueles em que se pode suspeitar de infecção a partir de países com casos animais confirmados, inclusive em países com notificação recente; e

Grupo 4: Estados com capacidade de contramedidas médicas, que nos termos das OMS significa “capacidade de fabricação para diagnósticos, vacinas ou medicamentos”. Estes “devem aumentar a produção e a disponibilidade de contramedidas médicas”, solicita a Organização, “para garantir que diagnósticos, vacinas, medicamentos e demais suprimentos necessários sejam disponibilizados com base nas necessidades de saúde pública, solidariedade e a um custo razoável para os países que mais necessitem de tais produtos, em apoio a seus esforços para impedir a propagação da doença”.

Brasil, enquadrado no Grupo 2

O Brasil se enquadra no grupo 2, para o qual a lista de recomendações da OMS é:

– Implementar resposta coordenada:

  • Interromper a transmissão humano-humano, com foco prioritário nas comunidades com alto risco de exposição, “que podem diferir de acordo com o contexto e incluir gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens”, nas palavras da OMS. Tais ações incluem comunicação de risco direcionada, envolvimento da comunidade, detecção de casos, isolamento de casos, tratamento, rastreamento de contatos e imunização direcionada para pessoas com alto risco de exposição.
  • Capacitação de comunidades afetadas e apoio às suas lideranças na elaboração e monitoramento das respostas, com ampliação de recursos técnicos, financeiros e humanos e manutenção da “responsabilidade mútua” das ações sobre as comunidades afetadas.
  • Ações de proteção de grupos vulneráveis (imunossuprimidos, crianças, mulheres grávidas) que possam estar sob risco, incluindo comunicação de risco direcionada e envolvimento da comunidade, detecção, isolamento e tratamento de casos, além de rastreamento de contatos. “Também pode incluir a imunização direcionada, que leva em consideração os riscos e benefícios para o indivíduo em uma tomada de decisão clínica compartilhada”, ressalta a OMS.

– Engajamento e proteção das comunidades

  • Aumentar a conscientização sobre a transmissão do vírus e adotar ações para reduzir o risco de transmissão entre pessoas, com medidas de mitigação de risco. Em diferentes contextos, afirma a OMS, isto pode inclui “limitar o contato pele a pele ou outras formas de contato próximo com outras pessoas sintomáticas, o que pode incluir a redução do número de parceiros sexuais, quando relevante”.
  • Envolvimento com organizadores de encontros (grandes ou pequenos), incluindo aqueles que possam ser propícios para encontros de natureza sexual íntima ou que possam incluir locais para a prática de sexo, para a promoção de medidas que estabeleçam comportamentos de proteção individual.
  • Adotar comunicação de risco e envolvimento da comunidade, inclusive com base na auscuta ativa sistemática (por exemplo, através de plataformas digitais) que permita a obtenção de percepções e preocupações emergentes, e acompanhamento da disseminação de informações erradas que dificultam as ações de resposta.
  • Envolver-se com representantes das comunidades afetadas, organizações não governamentais, funcionários públicos da ponta, sociedade civil e cientistas comportamentais para aconselhar sobre abordagens e estratégias para evitar a estigmatização de qualquer indivíduo ou grupo populacional na implementação das medidas de resposta.

– Adoção de medidas de vigilância sanitária/epidemiológica

  • Intensificar a vigilância de doenças compatíveis com a varíola dos macacos como parte dos esquemas nacionais de vigilância existentes, incluindo o acesso a testes de diagnóstico confiáveis, acessíveis e precisos.
  • Relatar à OMS, semanalmente e por meio de canais estabelecidos de acordo com o disposto no Regulamento Sanitário Internacional, os casos prováveis e confirmados, mesmo que apenas com o “conjunto mínimo de dados” contido no Formulário de Relato de Caso da OMS.
  • Reforçar as capacidades laboratorial e de encaminhamento internacional de amostras, se necessário, para o diagnóstico preciso de infecção pelo vírus, com base no uso de testes de identificação de ácidos nucleicos, como reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real ou convencional
  • Fortalecer capacidades de sequenciamento genômico e de encaminhamento de espécimes internacionais se necessário, com base na capacidade de sequenciamento existente em todo o mundo, para determinar os vírus circulantes e sua evolução, e compartilhar dados de sequenciamento genético através dos bancos de dados abertos e acessíveis ao público.
  • Isolar os casos durante o período infeccioso. “A política de isolamento dos casos deve abranger saúde e apoios psicológico e material para uma vida adequada”. Ainda de acordo com a OMS, “qualquer ajuste na política de isolamento ao final do período de infecção deve respeitar a mitigação de qualquer risco, mesmo residual, à saúde pública”.
  • Orientar as pessoas em isolamento sobre como minimizar o risco de transmissão posterior a este período.
  • Rastrear o contato entre indivíduos que tenham tido contato com qualquer um que possa ser um caso suspeito e provável, além dos confirmados, o que inclui a identificação do contato (protegido por confidencialidade) e seu acompanhamento por 21 dias, por meio de monitoramento de saúde que pode ser autodeclarado ou apoiado por agentes de saúde pública.
  • Considerar o uso direcionado de vacinas contra varíola ou varíola de segunda ou terceira geração (segundo a OMS, “doravante denominadas vacinas para profilaxia pós-exposição em contatos”).
  • Considerar o uso direcionado de vacinas para profilaxia pré-exposição em pessoas em risco de exposição; como profissionais de saúde com alto risco de exposição, pessoal de laboratório que trabalha com a família Ortopoxvírus, pessoal de laboratório clínico realizando testes de diagnóstico para monkeypox e comunidades com alto risco de exposição ou com “comportamentos de alto risco, como pessoas que têm múltiplos parceiros sexuais”, como define a OMS.
  • Convocar o grupo consultivo técnico de imunização (no caso do Brasil, o Comitê Técnico Assessor em. Imunizações (CTAI) do Programa Nacional de Imunizações) para a deliberação de qualquer decisão sobre política de imunização e uso de vacinas. “Estes devem ser informados da análise de riscos-benefícios e, em qualquer circunstância, os que receberem vacinas devem ser informados do tempo necessário para que o imunizante faça efeito e se alcance a imunidade protetora.
  • Envolver as comunidades com alto risco de exposição no processo de tomada de decisão em relação a qualquer vacina a ser utilizada.

– Manejo clínico e prevenção e controle de infecções

  • Estabelecer e usar as vias e protocolos de cuidados clínicos recomendados para triagem, isolamento, testagem e avaliação clínica de casos suspeitos, fornecendo treinamento aos profissionais de saúde e monitorando a implementação destes protocolos.
  • Estabelecer e implementar protocolos relacionados às medidas de prevenção e controle de infecção, englobando a administração e uso de EPIs; o fornecimento de treinamento aos profissionais de saúde e o monitoramento da implementação destes protocolos.
  • Fornecer aos profissionais de saúde e de laboratório EPIs adequados, e treinamento sobre o uso dos mesmos.
  • Estabelecer, atualizar e implementar protocolos de atendimento clínico para o manejo de pacientes contaminados com quadro leve (por exemplo, sobre como manter as lesões limpas, controlar a dor e manter hidratação e nutrição adequadas); grave ou com complicações agudas; bem como o monitoramento e manejo das sequelas de médio ou longo prazo.
  • Harmonizar a coleta de dados e relatar os resultados clínicos, usando a Plataforma Clínica Global da OMS para monkeypox.

– Pesquisa de contramedidas médicas

  • Fazer todos os esforços para usar vacinas existentes ou novas contra a monkeypox dentro de uma estrutura de estudos colaborativos de eficácia clínica, usando métodos de design padronizados e ferramentas de coleta de dados para dados clínicos e de resultados, a fim de aumentar rapidamente a geração de evidências sobre eficácia e segurança das vacinas candidatas, a coleta de dados sobre a eficácia das vacinas (por exemplo, como comparação de regimes de vacina de uma ou duas doses) e a realização de estudos pré-clínicos e cínicos de eficácia das mesmas.
  • “Fazer todos os esforços para usar agentes terapêuticos e antivirais existentes ou novos” para o tratamento de casos de monkeypox dentro de uma estrutura de estudos colaborativos de eficácia clínica, usando métodos de design padronizados e ferramentas de coleta de dados para dados clínicos e de resultados, a fim de aumentar rapidamente a geração de evidências sobre eficácia e segurança.
  • Quando o uso de vacinas e antivirais no contexto de estruturas de pesquisa colaborativa não for possível, “o uso em protocolos de acesso expandido pode ser considerado, como o Monitored Emergency Use of Unregistered and Investigational Interventions (MEURI), sob certas circunstâncias, usando coleta de dados harmonizada para resultados clínicos (como a Plataforma Clínica Global da OMS para Monkeypox)”.

– Viagem internacional

O último item na lista de recomendações da OMS para o grupo de nações no qual o Brasil se enquadra é direcionado às viagens internacionais. Segundo a OMS, qualquer pessoa com sinais e sintomas compatíveis com a infecção pelo vírus da monkeypox ou que seja identificado como contato de caso – confirmado ou mesmo suspeito – está sujeito a monitoramento de saúde e deve evitar qualquer viagem, inclusive internacional, até que seja determinado que não constitui risco à saúde pública.

“As isenções incluem qualquer indivíduo que precise viajar para procurar atendimento médico urgente ou fugir de situações de risco de vida, como conflitos ou desastres naturais; e contatos para os quais os arranjos pré-viagem garantam a continuidade do monitoramento são acordados pelas autoridades sanitárias subnacionais envolvidas, ou no caso de viagens internacionais, pelas autoridades sanitárias nacionais de partida e destino”, recomenda a OMS.

Além destes, “os trabalhadores transfronteiriços identificados como contactantes de um caso, e portanto sob vigilância sanitária, podem continuar suas atividades diárias de rotina desde que a vigilância sanitária seja devidamente coordenada pelas autoridades sanitárias jurisdicionais de todos os lados da fronteira”, estabelece a Organização.

Por fim, a OMS recomenda que se estabeleçam canais operacionais entre autoridades de saúde, de transporte e operadores de meios de transporte e pontos de entrada para facilitar o rastreamento de contatos internacionais em relação a indivíduos que desenvolveram sinais e sintomas compatíveis com a infecção pelo vírus durante a viagem ou no retorno; fornecimento de materiais de comunicação nos pontos de entrada sobre sinais e sintomas consistentes com a infecção; a prevenção e o controle de infecções; além de como procurar atendimento médico no local de destino. [2]

[1] Imagem: mohamed_hassan / Pixabay

[2] Texto de Paulo Schueler, com informações da OMS

Como citar esta notícia: Fiocruz. OMS declara monkeypox emergência de saúde pública de importância internacional.  Texto de Paulo Schueler. Saense. https://saense.com.br/2022/08/oms-declara-monkeypox-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional/. Publicado em 02 de agosto (2022).

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