Jornal da USP
16/09/2022
“Estava com meu marido na rua e confundi as cores de um semáforo. Aquilo nos preocupou e dois dias depois, fui a um médico especialista e lá já foi detectado o melanoma. Fiquei arrasada, sem chão e muito triste”, relembra Maria Santos (nome fictício). A técnica em enfermagem estava com um tumor na coroide, camada ocular que auxilia na nutrição e oxigenação da retina. O melanoma de Maria era classificado como um tumor grande. Casos como o dela não possuem indicação da braquiterapia, técnica usada no tratamento de melanoma que consiste na inserção temporária de uma placa de radiação ionizante na parte interna do olho e próxima ao tumor que evita a perda do globo ocular (enucleação ocular) e a metástase.
Para tratar esses grandes melanomas que atingem a coroide, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP desenvolveram estudos para aprimorar métodos já existentes. Maria foi submetida à aplicação de um tratamento combinado de quimioterapia intra-arterial, com o quimioterápico melfalano, e braquiterapia. Os resultados “mostram uma regressão do tumor de 10,4 milímetros para 7,9 milímetros com infusão intra-arterial, tornando a Maria apta para a braquiterapia”, comemora o médico oftalmologista Rodrigo Jorge, professor da FMRP.
A técnica de quimioterapia intra-arterial com o quimioterápico melfalano já é utilizada em casos de metástase no fígado e na pele, mas ainda não havia sido usada no tratamento de tumor primário. “Eu comecei a estudar e vi que outros estudos já abordaram o mesmo tratamento para melanoma de pele com circulação do fármaco na femural (da perna), por exemplo. Outro estudo indicou que o melanoma da coroide enviava ‘sementes’ para o fígado e que o tratamento era o mesmo”, conta o professor.
Após passar pela quimioterapia intra-arterial, os pesquisadores realizaram a braquiterapia, que fez com que o câncer regredisse para 4,9 milímetros, tornando-se inativo. “Além disso, conseguimos que ela mantivesse em torno de 10% a 20% da visão e esteticamente ninguém percebesse algo no olho, isso é importante para a qualidade de vida do paciente”, adianta Jorge.
Já para Maria, o momento foi de muita confiança nos bons resultados do tratamento combinado. “A equipe médica e a vontade de ficar boa me fizeram renovar a esperança no resultado da cura. Estou bem, o tratamento foi eficaz, pois além de reduzir o tumor pela metade, o deixou inativo”, ressalta.
Os próximos passos envolvem a aplicação do tratamento combinado em pacientes já recrutados pelo grupo de pesquisadores e validação dos resultados prévios obtidos com Maria. “Ainda não podemos inserir o procedimento nos atendimentos de saúde, pois é preciso fazer novos estudos científicos para confirmação dos dados já obtidos”, finaliza.
Os resultados do trabalho estão no artigo Melphalan intra-arterial chemotherapy for choroidal melanoma chemoreduction, publicado pelo International Journal of Retina and Vitreous, de autoria do professor Rodrigo Jorge e dos pesquisadores Igor Coelho, Gustavo Viani, Amanda Alexia R. Vieira, Fernando Chahud, Daniel G. Abud e Zelia M. Correa.
Mais informações: rjorge@fmrp.usp.br, com o professor Rodrigo Jorge. [1]
[1] Texto de Giovanna Grepi.
Como citar este texto: Jornal da USP. Tratamento combinado reduz tumor, evita perda do globo ocular e inativa câncer, aponta estudo. Texto de Giovanna Grepi. Saense. https://saense.com.br/2022/09/tratamento-combinado-reduz-tumor-evita-perda-do-globo-ocular-e-inativa-cancer-aponta-estudo/. Publicado em 16 de setembro (2022).