Jornal da USP
04/10/2022
Em um artigo recém-publicado na revista Alterjor, a jornalista Tânia Morales e a fonoaudióloga Léslie Ferreira colocam em pauta a valorização das vozes masculinas no radiojornalismo brasileiro, vistas como as que podem transmitir credibilidade aos ouvintes por terem um tom mais grave. As autoras traçam uma pesquisa histórica da presença tímida da mulher no rádio até a crescente e determinada postura feminina em derrubar os preconceitos, com o intuito de enfrentamento à restrição de gênero nessa profissão.
A pesquisa das autoras baseou-se na busca de informações “nas únicas emissoras de radiojornalismo com transmissão de alcance nacional, a saber: Bandeirantes, BandNews, CBN e Jovem Pan“. A respeito, o artigo mostra um gráfico que registra a quantidade de mulheres atuantes nas citadas emissoras de rádio, no horário nobre, e a crescente participação delas a partir de 2000, ano considerado um divisor de águas pela ruptura da “histórica hegemonia de vozes masculinas” e abertura de espaço para a participação feminina nos noticiários, em debates de diferentes assuntos e apresentação de programas. As mulheres aceitaram o desafio de reivindicar e firmar novas propostas vocais e, consequentemente, superar a esperada e estereotipada vocalização masculina.
Aponta-se que a fala feminina carrega, há tempos, uma pesada bagagem: as mulheres sempre são vistas, conforme frase da autora francesa Ruth Amossy, como “passivas, dependentes e emotivas“. Tânia e Léslie se valem de estudos de fonética para pesquisar a “origem biológica de alguns estereótipos de gênero associados à voz“, já que as características anatômicas determinam a construção da fala. Assim como acontece com os animais – os mais fortes emitem rugidos imponentes e os menores, sons mais agudos e inofensivos -, a voz masculina (mais grave que a feminina) foi erroneamente tomada como argumento para sugerir a superioridade dos homens, remetendo ao sentido de força e confiabilidade.
Mas, segundo as autoras, “essas variações de natureza meramente anatômica, no entanto, geram sentidos que reforçam os estereótipos de gênero“. Mesmo as vozes femininas graves ainda não são tão valorizadas quanto as masculinas para dar “credibilidade à informação” no radiojornalismo. Ressalta-se a questão da igualdade de oportunidades nas apresentações radiojornalísticas conjuntas entre homens e mulheres, já que, segundo as autoras, observa-se “o predomínio do comando masculino, uma vez que o conteúdo da fala dos homens parece ter maior peso editorial“. Se, por um lado, é patente a ascensão feminina no radiojornalismo, por outro lado, ainda prevalece “o comando masculino no horário nobre“.
Artigo
MORALES, T.; FERREIRA, L. Mulheres no Radiojornalismo: Mapeamento da presença de vozes femininas em programas jornalísticos de rádio. Alterjor, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 111-122, 2022. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/196887. Acesso em: 10 ago. 2022.
Contatos
Tânia Morales – Jornalista, apresentadora da rádio CBN e mestranda do curso de Comunicação Humana e Saúde na PUC-SP. tania.morales5@gmail.com
Léslie Ferreira – Fonoaudióloga, doutora em Distúrbios da Comunicação Humana (Unifesp-EPM), professora titular do Departamento de Teorias e Métodos em Fonoaudiologia e Fisioterapia do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Humana e Saúde e coordenadora do Laboratório de Voz (LaborVox PUC-SP). lesliepferreira@gmail.com. [1]
[1] Texto de Margareth Artur, da Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP.
Como citar este texto: Jornal da USP. Vozes femininas no radiojornalismo estão rompendo a barreira do monopólio das vozes masculinas. Texto de Margareth Artur. Saense. https://saense.com.br/2022/10/vozes-femininas-no-radiojornalismo-estao-rompendo-a-barreira-do-monopolio-das-vozes-masculinas/. Publicado em 04 de outubro (2022).