Jornal UFG
13/01/2023

Ciclo fechado e sustentável para os resíduos de construção
Alguns tipos de Geogrelhas, objeto das pesquisas na EECA (Arquivo pesquisadores)

Se uma das preocupações da Indústria da Construção Civil é tornar as obras mais limpas e duradouras, a outra é dar destino aos resíduos produzidos por ela. Com essa consciência, parcerias vêm sendo estabelecidas para a realização de projetos de pesquisa em andamento na Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (EECA-UFG), de forma a produzir um ciclo fechado considerando a reciclagem, a pesquisa e a utilização de resíduos de construção e demolição (RCD). 

Desde 2016, o professor Eder Santos orienta estudos envolvendo o emprego de geossintéticos – produtos modernos de base polimérica para uso em obras geotécnicas e ambientais – por meio de parcerias com fabricantes, tais como Huesker, Ober e Maccaferri. As geogrelhas – um dos geossintéticos estudados – são espécies de telas poliméricas que conferem uma resistência adicional aos solos quando empregadas em diversos tipos de obra  (tais como muros de contenção, aterros e estradas). Para montar os experimentos foram utilizados resíduos de construção e demolição reciclados (RCD-R) produzidos na usina de beneficiamento pertencente à RNV Resíduos, empresa localizada em Aparecida de Goiânia-GO e também parceira nos estudos. Os objetivos das primeiras pesquisas consistiram em avaliar os danos que as geogrelhas poderiam sofrer em obras com RCD-R em diversas condições de construção e ambientais. Em outubro, com o encerramento de alguns experimentos, todo esse material (RCD) foi recolhido para ser enviado novamente para a usina, fechando um ciclo completo para esse material que poderá agora ser reciclado novamente ou reutilizado em outras aplicações. 

Para o professor, embora a tecnologia avance a passos largos em todos os setores da economia, em algumas áreas da Construção Civil brasileira ainda persistem traços artesanais no seu modo de produção que precisam ser repensados pelas  empresas/construtores: “O fato de você fazer uma parede e depois cortá-la para passar as tubulações, processo ainda realizado por pequenos construtores, é um exemplo de o quanto esse trabalho ainda é feito de forma artesanal”, explica. No cenário brasileiro, mais  de 48 milhões de toneladas de RCD foram coletadas por Prefeituras em 2021, sendo a Região Centro-Oeste responsável por uma coleta per capita de aproximadamente  323 kg/habitante.ano (ABRELPE, 2022).

Segundo o professor, uma expressiva parcela dos RCD produzidos em Goiânia-GO ainda é descartada de maneira inadequada, quando poderia retornar à indústria em diversos formatos, evitando assim a exploração de novas jazidas de materiais de construção. Há uma estimativa que cerca de 60% dos RCD gerados na cidade ainda é descartado de forma inadequada, o que gera uma série de problemas: “O local onde o RCD é descartado de forma inadequada pode, em alguns casos, rapidamente virar um ‘pequeno lixão’, pois as pessoas começam a despejar resíduos orgânicos ali, o que gera problemas de mal-cheiro e doenças e inviabiliza a reciclagem desses resíduos, além de gerar custos de remoção para as Prefeituras e sociedade como um todo”, explica o Prof. Eder. 

O professor cita alguns exemplos da China, onde os RCD, assim como outros resíduos, são considerados um recurso valioso, que podem ser vendidos e/ou reutilizados. “É uma consciência diferente sobre o que é ‘lixo’ em geral que, infelizmente, ainda não temos no Brasil; e, neste cenário, a universidade tem o papel de estimular essas discussões e realizar pesquisas na busca de novas formas de tornar possível a aplicação desses resíduos e contribuir com o Desenvolvimento Sustentável”, afirma. 

Confira mais dados e pesquisas da área aqui: 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (ABRELPE). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2022. São Paulo, 2022, 60 p. Disponível em: https://abrelpe.org.br/panorama/ Acesso em: 23/dez/2022.

SILVESTRE, G. R. Redução da resistência de geogrelhas devido a danos químicos causados por resíduos de construção e demolição reciclados. 2019. 147 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/10082. Acesso em 23/dez/2022. [1]

[1] Texto de Kharen Stecca

Como citar este texto: Jornal UFG. Ciclo fechado e sustentável para os resíduos de construção.  Texto de Kharen Stecca. Saense. https://saense.com.br/2023/01/ciclo-fechado-e-sustentavel-para-os-residuos-de-construcao/. Publicado em 13 de janeiro (2023).

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