CCS/CAPES
03/02/2023
Pesquisa de Giovanna Collyer durante mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostrou que riachos sem florestas ao redor, e cercados por plantações de cana-de-açúcar, possuem menos espécies de animais aquáticos enquanto riachos protegidos por florestas mantém uma grande diversidade de organismos animais. O trabalho conquistou o Prêmio Harald Sioli de melhor artigo do biênio 2021-2022 no Congresso Brasileiro de Limnologia, ramo da biologia que estuda áreas de água doce, como lagos, rios e pântanos, com relação aos seus aspectos biológicos, químicos, físicos, meteorológicos, geológicos ou ecológicos.
Quais foram as suas descobertas nos riachos?
Observamos que os riachos impactados, isto é, aqueles cercados por áreas agrícolas, têm uma menor diversidade de espécies. Ou seja, as teias alimentares são mais simples, com menos opções para os organismos se alimentarem. Também observamos que nestes riachos há menos organismos maiores, que são os predadores.
Tudo isso aponta para uma possível instabilidade dos ecossistemas nos riachos com predominância de agricultura, principalmente a cana-de-açúcar. Isso porque, com menos diversidade, tem-se menos opções de alimentos para os organismos maiores, deixando a cadeia alimentar mais frágil e vulnerável a impactos. Então qualquer alteração a mais nesse ecossistema, como a perda de uma espécie por conta das alterações no meio ambiente, afeta toda cadeia alimentar.
Por que sua pesquisa se concentrou nos riachos?
Ao estudar as comunidades aquáticas, podemos compreender uma fração dos impactos negativos que afetam o funcionamento e a estrutura das teias alimentares, que são uma pequena parte do ecossistema. Mas estudar os riachos permite-nos observar que os impactos que ocorrem nessas comunidades podem afetar a nossa qualidade de vida, em um efeito cascata. Como os riachos são as canaletas das bacias hidrográficas, todas as alterações que ocorrem em uma bacia, como o uso de fertilizantes e agroquímicos, tem o potencial de acabar dentro dos riachos. Dessa forma, estudar riachos seria uma forma de se entender toda a bacia ao redor.
Qual o impacto desta mudança sobre os ecossistemas?
Um dos impactos que observamos é a possível vulnerabilidade de organismos maiores, predadores de topo. Além disso, temos menor diversidade de espécies, o que gera uma simplificação da teia alimentar, com menos opções de recursos disponíveis. Isso pode resultar em uma instabilidade no ecossistema, já que temos menos possibilidades de fluxos de energia. Sendo assim, a perda de algum organismo, por exemplo, pode gerar um efeito em cadeia, afetando todo ecossistema.
Quais os prejuízos para a sociedade?
Dentre os possíveis impactos na população, pode-se pensar na disponibilidade de alimentos, na degradação ambiental, na diminuição da qualidade da água, entre diversos outros. Esses impactos, contudo, não foram mensurados pela pesquisa, mas são esperados quando se tem a degradação de um ecossistema.
O seu estudo apresenta dados para futuros estudos?
Os dados do nosso estudo estão participando de uma colaboração internacional que avalia os efeitos dos impactos antrópicos em ecossistemas terrestres e aquáticos em diversos países. Nossos resultados servem como alerta para a intensificação da agricultura no País. Com o aumento do desmatamento para dar lugar à cana-de-açúcar, podemos impactar profundamente os ecossistemas, que são essenciais para a manutenção da nossa vida na Terra.
Qual foi a metodologia da pesquisa aplicada em seu trabalho?
Nós utilizamos uma metodologia que analisa a relação entre o tamanho corporal dos organismos e a abundância ou biomassa desses organismos. Esse método considera que seres maiores se alimentam de seres menores, então é possível observar um padrão na transferência de energia entre organismos de tamanhos diferentes. Por exemplo, em riachos mais florestados, observamos mais organismos menores e maiores em comparação com locais rodeados de cana-de-açúcar, o que significa que temos uma boa transferência de energia. Já em riachos impactados, observamos que essa transferência de energia não é tão eficiente, o que pode afetar a estabilidade do ecossistema.
Quais suas metas acadêmicas e de pesquisa para o futuro?
Pretendo continuar minhas pesquisas em ecologia e estudar os impactos antrópicos nos ecossistemas ao redor do mundo, contribuindo para a ciência e para a sociedade. No futuro, também espero poder passar meus conhecimentos como professora universitária, inspirando novos talentos a alcançarem seus sonhos e contribuírem para o nosso desenvolvimento, com uma sociedade sustentável. [1]
[1] Redação CGCOM/CAPES
Como citar este texto: CCS/CAPES. Monocultura impacta cadeia alimentar. Saense. https://saense.com.br/2023/02/monocultura-impacta-cadeia-alimentar/. Publicado em 03 de fevereiro (2023).