Jornal UFG
01/03/2023
Emiliano Lobo*
Entramos no século XXI com sinais evidentes de que a natureza vem dando severos recados em relação a forma com que estamos usando os recursos naturais. O Quarto Relatório Científico do IPCC (AR4) apresenta claras evidências de mudanças de clima podem afetar significativamente o planeta, em especial, os países menos desenvolvidos nas regiões tropicais.
As evidências científicas das mudanças climáticas representam um sério risco para os recursos hídricos no Brasil, afetando diretamente nossa principal forma de geração de energia elétrica. Em relação a agricultura, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com exceção da cana-de-açúcar, todas as culturas sofreriam redução das áreas com baixo risco de produção, em especial soja (34% a 30%), milho (15%) e café (17% a 18%). A produtividade cairia, em particular, nas culturas de subsistência no Nordeste. Portanto, há de se pensar na urgente necessidade de um novo modelo de desenvolvimento econômico, que promova uma economia verde e de baixo
carbono, o pagamento pelos serviços ambientais e o fortalecimento da economia circular.
A migração das companhias para a economia de baixo carbono é um dos passos essenciais para que o mundo consiga cumprir as metas previstas no
Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aumento da temperatura global a 2 °C, com tentativa de contê-lo em 1,5 °C, quando comparado aos níveis pré-industriais.
Com isso, diversos desafios e oportunidades se apresentam às nações diante desses esforços de redução de emissões de gases de efeito estufa e mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas. Dentro deste contexto global, as empresas que produzirem com menos emissões de carbono certamente alcançarão vantagens competitivas sustentáveis e permanecerão mais tempo no mercado.
Por outro lado, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) promove um novo tipo de negócio, onde a árvore em pé vale mais que a árvore deitada. Esse pagamento promove transferências financeiras de beneficiários de serviços ambientais para os que, devido a práticas que conservam a natureza, fornecem esses serviços, de forma segura e bem definida, por meio de uma transação voluntária. Trata-se, portanto, de um instrumento econômico que incentiva o proprietário a considerar o Serviço Ambiental nas suas decisões, quando do planejamento do uso e ocupação da terra, dos recursos hídricos e da vegetação. Assim, a conservação do meio ambiente passa a ser uma nova opção econômica.
Por fim, surge a Economia Circular que tem como base um modelo que otimiza o fluxo de bens, maximizando o aproveitamento dos recursos naturais e minimizando a produção de resíduos. Esta nova forma de pensar as cadeias produtivas traz benefícios tanto operacionais como estratégicos, gerando incalculáveis oportunidades de inovação e design, tanto em nível de produtos, quanto nos processos e modelos de negócio. A Economia Circular possibilita a criação de novos empregos e estimula o crescimento econômico inteligente, sustentável e integrador, rejeitando a ideia de que o crescimento é prejudicial para o ambiente.
Um século novo nos obriga a adotar novos pensamentos e condutas. As atividades produtivas devem perceber que não existe um negócio de sucesso
se houver risco para a conservação dos recursos naturais. Caminhos existem. Precisamos é dar os primeiros passos.
* Emiliano Lobo de Godoi é professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás
[1] Foto: Gleam / Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0
Como citar este texto: Jornal UFG. Século XXI e a sustentabilidade ambiental. Texto de Emiliano Lobo. Saense. https://saense.com.br/2023/03/seculo-xxi-e-a-sustentabilidade-ambiental/. Publicado em 01 de março (2023).