CCS/CAPES
07/11/2023

Composto de jenipapo adicionado ao leite vira corante alimentar
Maria Isabel Landim Neves (Foto: Arquivo pessoal)

De uma fruta genuinamente brasileira, o jenipapo, é possível extrair substância que, combinada ao leite, se transforma em um corante natural azul que pode ser usado na indústria de alimentos, principalmente no setor lácteo. A descoberta deu à engenharia de Alimentos Maria Isabel Landim Neves o Prêmio CAPES de Tese de 20023 na área de Ciência de Alimentos. “Além de substituir ingredientes e aditivos artificiais, o produto valoriza uma riqueza vegetal do País”, acentua.

A pesquisadora usou o composto orgânico chamado genipina, encontrado no jenipapo e usado em pintura corporal de vários povos indígenas da América do Sul. “No início do meu trabalho busquei matérias-primas viáveis, acessíveis e conhecidas, podendo ser aplicadas em larga escala na indústria. Por sugestão da minha orientadora, passei a estudar a extração de um corante azul a partir de genipina”, explica Maria Isabel.

A tese tem como títuloCorante natural azul à base de leite e Genipa americana L. para a indústria de alimentos: obtenção, mecanismo de reação e design de partículas utilizando carreadores prebióticos.“Identifiquei que o azul é uma cor menos encontrada na natureza, em se tratando de vegetais comestíveis, porém, existem, sim, muitas comidas azuis coloridas pela natureza”, ressalta. Foram feitos estudos do poder corante, para entender a concentração mínima do pó a ser usada para colorir, e a estabilidade do produto em altas temperaturas e diferentes níveis de acidez e basicidade. Por último, o corante foi aplicado em diversos alimentos, como bolos, doces e chantilly.

Maria Isabel lembra que com a crescente vontade dos consumidores em inovar em relação à coloração dos alimentos, aumenta também a demanda por cores. “É possível produzir um corante azul de forma bastante simplificada. Quem sabe essa matéria possa chegar às empresas de produção? A partir daí, podemos fazer algumas parcerias para que seja comercializado”.

Para ela, receber o Prêmio CAPES de Tese reforça a vontade de inovar. “Creio que deveria haver mais conexão entre universidade e empresa, para assim gerarmos mais pesquisas relacionadas às necessidades do dia a dia das indústrias”. Ela inclusive propõe, no momento, um projeto de pós-doutorado que pretende criar estratégias práticas de metodologia de ensino para preparar melhor estudantes de engenharia para o mercado de trabalho. “Essa ideia poderá ser concretizada graças à bolsa da premiação”.

Sobre a autora
Maria Isabel ingressou, em 2009, no curso de Bioquímica da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e depois, em 2011, mudou para Ciências de Alimentos na mesma instituição, onde fez estágio no Laboratório de Embalagens e foi bolsista de iniciação científica. “Percebi o gosto pela ciência a partir daí e, após o estágio, trabalhei em um projeto de extensão no combate à fome oculta. Lá fazíamos  workshops com a comunidade do município mineiro sobre como ter uma alimentação de fato nutritiva e com boas práticas de higiene”, conta ela, que também deu aula de Química em um cursinho pré-vestibular para alunos de baixa renda.

Em 2014, ainda na graduação, estudou na École Nationale Supérieure d’Agronomie et des Industries Alimentaires como bolsista da CAPES em programa  da CAPES em parceria com a França, o Brafagri. Também teve bolsa de iniciação científica francesa para realizar um projeto no Laboratoire d’Ingénierie des Biomolécules, onde estudou o uso do leite como matriz de encapsulação da curcumina. De volta ao Brasil, iniciou estágio no laboratório de produtos lácteos da UFV.

Em 2015, ingressou no mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em Engenharia de Alimentos e depois no doutorado. Nos dois momentos, também recebeu bolsa da CAPES. Fez curso no Japão e, como bolsista da CAPES no Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), estudou no Instituto de Investigación en Ciencias de la Alimentación, em Madri, na Espanha.  “A CAPES foi importantíssima para minha formação. Sem as bolsas não seria possível dedicar-me ao mestrado e ao doutorado. Hoje estou em uma empresa que valorizou a minha experiência acadêmica e, talvez, sem esse auxílio, não tivesse entrado no mercado de trabalho com a bagagem, foco, experiência, maturidade e criatividade que tenho hoje”. [1], [2]

[1] Redação: CGCOM/CAPES

[2] Publicação original: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/composto-de-jenipapo-adicionado-ao-leite-vira-corante-alimentar

Como citar este texto: CCS/CAPES. Composto de jenipapo adicionado ao leite vira corante alimentar. Saense. https://saense.com.br/2023/11/composto-de-jenipapo-adicionado-ao-leite-vira-corante-alimentar/. Publicado em 07 de novembro (2023).

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