Josué Modesto dos Passos Subrinho
23/08/2024

Imagem gerada com IA

Desde 2005, a cada dois anos a opinião pública brasileira tem contato com os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e principalmente com um indicador sintético, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Este é o resultado de uma multiplicação de uma nota média das provas de Matemática e de Língua Portuguesa (N) pela taxa de aprovação dos estudantes (P). As provas são aplicadas a todos os estudantes das escolas públicas e a uma amostra das escolas privadas, nas séries que encerram etapas da Educação Básica. A aprendizagem é medida numa escala muito intuitiva de zero a dez e a taxa de aprovação na escala de zero a um, como pode ser visualizado na fórmula abaixo:

IDEB = N.P, onde

N = média padronizada das provas de Matemática e Língua Portuguesa e

P = taxa de aprovação dos estudantes.

As provas realizadas pelos estudantes do quinto ano do Ensino Fundamental representam a conclusão dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, as do nono ano a conclusão dos Anos Finais do Ensino Fundamental e, finalmente, as da terceira série do Ensino Médio, a conclusão desta etapa.

Apesar da simplicidade da fórmula, a divulgação e a exploração de diversos recortes dos dados: território (País, região, estado, município), dependência administrativa (Total, rede pública, rede federal, rede estadual, rede municipal, rede privada), etapas (5º. ano e 9º. ano do Ensino Fundamental e 3ª. Série do Ensino Médio) e resultados por escola, além da comparação da evolução entre os anos de aplicação da avaliação dificultam a compreensão do desempenho mais abrangente da educação básica.

Para tentar dar uma visão mais abrangente da evolução da educação pública sergipana, apresentaremos os dados totais da rede pública, para os anos do Ensino Fundamental e da rede estadual, para o caso do Ensino Médio, visto não haver oferta nas redes municipais, nessa etapa, e a rede federal ter um número reduzido de matrículas no nosso estado.

Os dados do Brasil, da região Nordeste e de estados escolhidos, em anos mais significativos permitirão uma melhor compreensão do desempenho relativo de Sergipe.

Os anos escolhidos foram: 2005, marco zero da construção do IDEB, 2007, segunda aplicação das provas e ano em que se estabeleceram as projeções de desempenho para o Brasil e unidades da Federação até o ano de 2021, que encerraria um ciclo do IDEB. O ano de 2015, marca uma década do processo avaliativo nacional e será usado para checar o comportamento das unidades escolhidas. O ano de 2019 foi selecionado por ser o último antes da eclosão da pandemia da COVID-19, descartando-se, portanto, a análise do ano de 2021, último ano com resultados projetados, visto as provas terem sido aplicadas sob os efeitos da extensa paralização das atividades escolares presenciais.

Finalmente, o ano de 2023, o resultado mais recente e na expectativa de reformulação do IDEB, que deverá, no próximo ciclo, incorporar os aprendizados da aplicação desta avaliação em larga escala, bem como as exigências de medidas de redução das desigualdades de aprendizagem entre os estudantes dos diferentes níveis socioeconômicos, de cor/raça e localidades. Os dados projetados, ou metas, para o IDEB 2021 foram registrados para fins de comparação com o IDEB 2023.

As unidades territoriais escolhidas foram: Brasil, para termos o panorama nacional, região Nordeste, dadas suas características sociais e educacionais, em geral mais graves que a média nacional, o estado de Sergipe, estado escolhido para a análise, e finalmente, o Ceará, para ilustrar o desempenho do Ensino Fundamental, tendo em vista a trajetória de sucesso do estado e dos seus municípios, amplamente estudada, e Pernambuco, para representar uma experiência bem-sucedida no Ensino Médio.

No quadro 1 podemos ver os dados referentes aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Em 2007 todos os territórios conseguiram apresentar resultados acima da meta.

Em 2015, a situação se torna mais complexa. O Brasil superou a meta, o Nordeste alcançou a meta, o Ceará a superou amplamente, visto que esta era de 4,2 enquanto o resultado atingido foi de 5,7 e Sergipe ficou abaixo da meta de 4,2, obtendo o resultado de 4,1.

Lembremos que os municípios são de longe os principais responsáveis pela matrícula nessa etapa da educação básica. Em 2023, para o Brasil como um todo, 19,3% das crianças estavam matriculadas em escolas privadas, 69,5% em escolas municipais e 11,21% em escolas estaduais. O Ceará é um dos estados em que a municipalização da educação pública foi feita plenamente, 21,9% das crianças estavam matriculadas em escolas privadas e 77,6% em escolas municipais. Em Sergipe, 26,8% das crianças estavam matriculadas em escolas privadas, 61,0% em escolas municipais e 12,1% em escolas estaduais. [1]

Esse predomínio dos municípios na matrícula levanta a questão da disparidade na disponibilidade de recursos financeiros, humanos e capacidade técnica para estruturação e gestão de redes escolares com qualidade. Parte do problema foi resolvida com a criação do FUNDEF, um fundo contábil que redistribuía recursos públicos vinculados à educação, no âmbito dos estados, com base no número de alunos matriculados e com complementação do Governo Federal.

Provavelmente os resultados de importantes reformas educacionais promovidas pelo Governo Federal a partir de 1996 — Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que entre outros dispositivos exigia a formação em nível superior para o exercício da profissão docente, o mencionado FUNDEF, o repasse direto de recursos para as escolas (PDDE) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) — expliquem a melhoria consistente no desempenho dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Os governos estaduais também tiveram papel importante. Em qualquer estado há diferenças entre os municípios na disponibilidade de recursos e capacidade técnica, sendo imprescindível, portanto, o regime de colaboração do estado com os seus municípios. O Ceará é o caso mais bem sucedido de colaboração. Concomitante com a municipalização da educação pública, houve a implementação do acompanhamento de desempenho dos resultados educacionais e a indução de boas práticas para a redes municipais do Ensino Fundamental. O Sistema Estadual de Avaliação da Educação do Ceará foi instituído em 1992, muito antes, portanto, do próprio SAEB. O estado adotou uma sistemática de distribuição de parte da quota municipal do ICMS com base no desempenho educacional dos municípios e promoveu a premiação das escolas com melhores desempenho ao lado de uma oferta permanente de cursos de formação continuada para professores e gestores educacionais. Com o passar dos anos, alguns estados se inspiraram na experiência cearense e outros não encontraram condições ou motivações políticas para implementar tais reformas, até que, em 2020, boa parte dessas medidas fossem incorporadas à Emenda Constitucional 108, que reformulou o FUNDEB.

Em 2019, última avaliação antes da Pandemia da COVI-19, o Brasil, o Nordeste e o Ceará ultrapassaram a meta do IDEB. Ressalte-se que a distância máxima entre a meta e o resultado atingido foi obtido pelo Ceará (4,8 e 6,3). Sergipe não atingiu a meta fixada em 4,8, cravando 4,6. Por que o menor estado do País, com condições materiais e de recursos humanos comparativamente adequadas, estava se atrasando em relação ao Brasil como um todo, em relação à região Nordeste e, principalmente, se distanciando das marcas atingidas pelo estado do Ceará? [2]

Uma visão restrita das atribuições do governo estadual, esquecendo o mandamento constitucional do regime de colaboração, ou uma compreensão sistêmica da educação, além da instrumentalização político-partidária da gestão educacional bloqueava as práticas corriqueiras no Ceará e em outros estados. Devemos lembrar que tentativas de melhorar a gestão educacional e de implantar um sistema estadual de avaliação foram rechaçadas com furor.

Em 2019 foi aprovado, finalmente, um conjunto de reformas educacionais claramente inspirado no modelo do Ceará e de outros estados. O Sistema Estadual de Avaliação da Educação Básica de Sergipe (SAESE), o Programa Alfabetizar Pra Valer, versão sergipana dos programas de alfabetização na idade certa em regime de colaboração com os municípios, o ICMS Social, que redistribuiria parte da quota municipal do imposto baseada em indicadores de desempenho em educação e saúde, regulamentado o regime de colaboração do estado com os municípios e, finalmente, a modernização e profissionalização da gestão educacional através de edital público para seleção de diretores regionais de educação e diretores de escolas baseada em desempenho e mérito. Posteriormente essa prática foi sacramentada em lei estadual.

Os efeitos dessas reformas foram parcialmente bloqueados pela eclosão da pandemia da COVID-19, no início do ano letivo de 2020, se estendendo por parte do ano de 2021. Em 2022 houve a alternância no governo estadual e a correspondente mudança na gestão da educação estadual. Grosso modo, pode-se dizer que o corpo das reformas foi mantido e em alguns aspectos aprofundado, a exemplo da premiação pecuniária dos professores das escolas com melhor desempenho. [3]

 Vejamos os resultados do ano de 2023.

O Brasil manteve o mesmo IDEB de 2019, ficando abaixo da meta (5,7 contra 5,8). O Nordeste apresentou um ligeiro crescimento, de 5,2 para 5,4, ficando acima da meta de 4,9. O Ceará obteve um pequeno crescimento no IDEB, de 6,3 para 6,5, mantendo uma distância confortável da meta de 5,1. Quanto a Sergipe, o IDEB teve um pequeno crescimento, de 4,6 para 4,8, ficando novamente abaixo da meta de 5,1. Ressalte-se, contudo, que o IDEB total do estado, com participação da rede privada, para essa etapa, de 5,4, superou a meta de 5,3 e que a rede estadual alcançou a meta de 5,3. Ou seja, ainda há muito a ser feito para a melhoria dos indicadores educacionais do conjunto mais relevante em termos de matrículas das crianças sergipanas: as redes municipais. Felizmente os instrumentos de políticas públicas mais relevantes para o caso já estão construídos e em pleno funcionamento.

Vamos analisar o desempenho das duas componentes do IDEB, a nota média padronizada das provas de Matemática e Língua Portuguesa e a aprovação dos estudantes, no quadro seguinte.

É relativamente comum a divulgação dos dados do IDEB provocar em alguns setores dos profissionais da educação, com repercussões na opinião pública, comentários depreciativos, com a alegação de que os resultados foram obtidos através do aumento da aprovação dos estudantes e não com a melhoria na aprendizagem. O pano de fundo desses comentários e de suas repercussões estão vinculados à hegemonia de uma chamada “pedagogia da repetência” [4]. Não obstante ter sido há muito rechaçada pelos especialistas e não encontrar respaldo em evidências, ainda é corrente a ideia de que reprovar induz o aluno a estudar mais. A verdade é que elevadas taxas de reprovação prejudicam muito especialmente os mais pobres, os pretos, pardos e indígenas levando-os a abandonar a escola depois de trajetórias escolares irregulares. Outro aspecto dessa prática de reprovações abusivas é o aumento dos custos da educação pública com o aumento no número de turmas escolares infladas pela geração de repetentes. [5]

Evidentemente pode ser tentador para um dirigente educacional tentar melhorar num curto prazo o IDEB com a simples proibição de reprovações, numa situação em que ela é elevada. Para os grandes números, não há evidência, no Brasil, que isso tenha ocorrido. Mas se fosse o caso, com a negligência da aprendizagem, o crescimento do IDEB teria fôlego curto.

Podemos ver no Quadro 1, que o IDEB das redes públicas referente aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para o Brasil, cresceu de 3,6, em 2005 para 5,7, em 2023, quando a meta era atingir 5,8, em 2021. Tendo em vista os efeitos da Pandemia da COVID-19 e o abandono pelo Governo Federal, no quadriênio 2019-2022, das políticas orientadas pelo Plano Nacional de Educação, podemos considerar que para essa etapa a meta esteve muito próximo de ser alcançada.

No Quadro 2, observamos que a evolução na aprendizagem das crianças, entre 2005 e 2023, para o Brasil, passando de uma nota 4,39 para uma nota 5,91, foi mais relevante que o aumento da taxa de aprovação dos estudantes, que passou de 0,81 para 0,97, no mesmo período. Em termos percentuais o crescimento na nota foi de 34,6% e o crescimento na aprovação foi de 19,5%. A supremacia da evolução da aprendizagem sobre a taxa de aprovação é ainda mais forte na Região Nordeste, onde o crescimento nas notas dos estudantes correspondeu a 51,7% e na taxa de aprovação a 32%.  No caso do Ceará esta tendência se acentua, com um crescimento nas notas médias de 82,9% e de 25% na aprovação. Destaque-se que tendo, em 2023, a taxa de aprovação chegado a 100%, apenas o crescimento futuro nas notas dos estudantes provocará novo aumento no IDEB.

Em Sergipe, como vimos, as redes públicas não atingiram, em 2023, a meta do IDEB prevista para o ano de 2021. Ao contrário do Brasil, da região Nordeste e do estado do Ceará, o aumento na nota dos estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental foi percentualmente menor que o aumento na taxa de aprovação (27,7% e 36,8% respectivamente). O estado, entretanto, ainda tem taxas de aprovação menores do que as do Brasil e do que as da região Nordeste, havendo, portanto, possibilidades de evolução futura do IDEB com os aumentos na taxa de aprovação e, principalmente, com a melhoria das notas dos estudantes. Ter metas mais ambiciosas de aprendizagem e desenvolver as estratégias para alcançá-las é um desafio que se impõe.

O avanço na aprendizagem dos estudantes nos Anos Finais do Ensino Fundamental tem sido mais desafiador do que nos Anos Iniciais. Os especialistas apontam tanto as dificuldades em formar um corpo docente qualificado, nas diversas disciplinas que compõem o currículo da etapa, ao contrário da professora de formação generalista que caracteriza a etapa anterior, quanto as próprias dificuldades de adaptação dos estudantes, na transição da infância para a adolescência, da relação com uma única professora para a diversidade de professoras, enquanto essas profissionais têm de lidar, por vezes, com um grande número de estudantes, e não mais com a “sua turma”.

Quanto às matrículas, os Anos Finais do Ensino Fundamental se caracterizam, quando comparado com os Anos Iniciais, por uma distribuição menos concentrada nas redes municipais. Para o Brasil como um todo, em 2023, 44,0% das matrículas eram vinculadas às redes municipais, 39,5% às redes estaduais e 16,3% à rede privada. Em Sergipe, no mesmo ano, 49,6% eram vinculadas às redes municipais, 29,9% à rede estadual e 20,4% à rede privada. [6]

Os números expostos no Quadro 3, ilustram essa trajetória mais difícil. O Brasil, a região Nordeste e o estado de Sergipe não atingiram, em 2023, a meta do IDEB projetada para o ano de 2021. O Ceará apresentou uma trajetória consistente de superação da meta nos anos intermediários e ao final do ciclo.

Em 2005, o IDEB do Brasil era consideravelmente superior ao da região Nordeste e o Ceará e Sergipe tinham índices superiores ao da região. O Brasil e a região Nordeste tiveram trajetórias de crescimento no índice, como previsto em 2007, mas não na velocidade requerida para atingir a meta no final do ciclo. O Ceará foi um dos estados brasileiros que superou a meta, atingindo um IDEB de 5,4, em 2023, contra a meta de 4,8.

No início do ciclo de avalição o IDEB da rede pública sergipana estava muito próximo do da rede cearense (2,7 e 2,8 respectivamente). Em 2015, entretanto, o Ceará apresentou um IDEB de 4,5 e Sergipe de 3,1. Ou seja, enquanto o índice sergipano cresceu 0,4 pontos em uma década, o do Ceará cresceu 1,7 pontos. No período seguinte, entre 2015 e 2023, os índices de ambos os estados cresceram 0,9 pontos (Ceará de 4,5 para 5,4 e Sergipe de 3,1 para 4,0). Tecnicamente essa comparação não é adequada, visto que o incremento no índice vai se tornando mais difícil com o próprio crescimento dele. Mas o ponto a destacar é que o atraso na primeira etapa do ciclo exige dos que ficaram para trás um esforço mais concentrado, utilizando toda as experiências de sucesso para acelerar a própria trajetória.

Vamos decompor a análise da evolução do IDEB nas duas variáveis, a aprendizagem e a aprovação.

No ano de 2005 as notas médias dos estudantes sergipanos foram muito próximas as dos brasileiros (4,25 e 4,28 respectivamente); as taxas de aprovação, por outro lado eram consideravelmente inferiores (0,65 e 0,75 respectivamente). Esses números expressam a vigência da chamada “pedagogia da repetência”, ¼ dos estudantes brasileiros e aproximadamente 1/3 dos estudantes sergipanos eram reprovados nessa etapa. O paulatino crescimento das taxas de aprovação impulsionou o IDEB, do Brasil, do Nordeste e de Sergipe, mas em velocidades distintas, enquanto o Ceará praticamente extinguiu as reprovações, com 99% de aprovação no ano de 2023, a região Nordeste e o Brasil alcançaram o patamar de 90%, em Sergipe, no mesmo ano, a taxa de aprovação era de 84%.

Quanto à aprendizagem, apenas no Ceará o crescimento na nota média dos estudantes foi maior que a da aprovação (45% e 33,3% respectivamente). Sergipe, que em 2005 tinha uma nota média acima da nota do Ceará, apresentou um crescimento de 10,2%, no ano de 2023 em relação ao início do ciclo. Este resultado é menor do que a média do Brasil e da região Nordeste. Dadas as elevadas taxas de reprovação no início do ciclo, todas as unidades tinham amplas possibilidades de impulsionar o IDEB com a elevação nas taxas de aprovação. Sergipe e, em menor proporção, o Nordeste, ainda podem apresentar crescimento do IDEB nos próximos anos com aumentos na taxa de aprovação, enquanto o Ceará que teve no período os maiores crescimentos tanto nas taxas da aprovação quanto nas de aprendizagem, no futuro dependerá exclusivamente dos incrementos na aprendizagem para impulsionar o IDEB.

A última etapa da Educação Básica, o Ensino Médio, apresentou no ciclo de avaliação do SAEB que está se encerrando um desempenho mais desafiador do que as etapas do Ensino Fundamental. É uma etapa de predomínio absoluto das redes estaduais. Em 2022, no Brasil, 2,95% das matrículas estavam na rede federal, 84,27% nas redes estaduais, 0,52% nas redes municipais e 12,35% nas redes privadas. Para Sergipe, no mesmo ano, a rede federal tinha 2,69% das matrículas, a rede estadual 83,16% e a rede privada 14,15%. [7]

No ano de 2005, o IDEB do Brasil foi de 3,0, o da região Nordeste e de Pernambuco, 2,7 e o de Sergipe, ligeiramente superior ao da região Nordeste e de Pernambuco, com 2,8. No ano de 2007, o IDEB do Brasil chegou a 3,2, o do Nordeste cresceu para 2,8, o de Pernambuco se manteve em 2,7 e o de Sergipe recuou para 2,6. Em 2015, o IDEB do Brasil ficou em 3,5, o do Nordeste em 3,2, o de Pernambuco em 3,9 e de Sergipe em 2,6, inferior ao obtido no ano de 2005. Observe-se que todos os territórios obtiveram no ano de 2015 índices inferiores à meta, com exceção de Pernambuco que superou a meta.

Em 2019, o IDEB do Brasil chega a 3,9, ampliando a diferença entre o índice obtido e a meta estabelecida, de forma semelhante, na região Nordeste, com IDEB de 3,6. Pernambuco se mantém como caso isolado de superação da meta e Sergipe apresentou uma importante inflexão com um significativo aumento do IDEB, chegando a 3,3, porém muito distante da meta fixada em 4,4 para esse ano.

No ano de 2023, o Brasil apresentou um IDEB de 4,1 e o Nordeste de 4,0. Em ambos os casos houve crescimento no índice em relação ao ano de 2019, porém insuficiente para alcançar a meta do ano. Pernambuco chegou ao IDEB 4,5, exatamente a meta do ano de 2021. Sergipe manteve a trajetória de crescimento do IDEB que vinha apresentando desde 2015, porém insuficiente para atingir a meta.

Como nos casos da evolução dos indicadores do Ensino Fundamental, onde o Ceará demonstrou que políticas educacionais bem desenhadas e executadas por longo tempo produzem efeitos, no caso do Ensino Médio uma importante inovação aplicada em larga escala em Pernambuco, o ensino médio integral em tempo integral, produziu resultados significativos. O estado, como se pode ver no Quadro 5, apresentava em 2005, um IDEB inferior ao do Brasil e ao de Sergipe. Em 2023, Goiás, Espírito Santo e Paraná, inspirados na experiência pernambucana apresentaram índices superiores ao do estado. [8]

Quanto a Sergipe, a adoção em escala ambiciosa de uma experiência de ensino médio integral em tempo integral, a partir de 2016, que já tinha precedente, restrito a três colégios, provocou a inflexão no desempenho. Os dados são evidentes, entre 2005 e 2015 o IDEB sergipano decresceu. A partir desse ano, cresceu consistentemente, porém em uma velocidade que ainda não permitiu o alcance da meta.

No Ensino Médio, em nenhum dos territórios analisados a evolução na nota dos alunos foi mais importante do que a evolução na taxa de aprovação para explicar o crescimento do IDEB, conforme podemos ver no Quadro 6. Em 2005, Brasil, região Nordeste e Pernambuco tinham em comum uma taxa de aprovação no patamar e 70%. Sabendo-se que parte dos estudantes nem alcançava o Ensino Médio, evadindo-se do sistema escolar antes dessa etapa, fica mais evidente o caráter excludente da educação brasileira.

O crescimento nas notas dos estudantes foi pequeno para todos os territórios no período 2005-2023, oscilando entre 6,1% para Sergipe e 26,6% para Pernambuco tendo a região Nordeste e o Brasil apresentado ganhos intermediários de 14,9% e 8,9%. Neste contexto, em face à estagnação na aprendizagem e as dificuldades em universalizar o ensino médio, compreende-se as iniciativas para torná-lo mais atraente para os jovens e mais adequados às necessidades da sociedade e da economia.

Apesar do crescimento relativamente maior das taxas de aprovação dos estudantes, quando comparadas com o crescimento das taxas de aprendizagem, elas ainda são baixas para os padrões internacionais. Em Sergipe, em 2023, elas atingiram apenas 89% dos estudantes, no Brasil 92%, no Nordeste 94% e em Pernambuco 96%.

Podemos sintetizar a evolução do IDEB em Sergipe, conforme o Quadro 7

Vistas a evolução dos componentes do IDEB, comparado o desempenho de Sergipe com o do Brasil, da região Nordeste e dos estados do Ceará e Pernambuco, podemos focar apenas na evolução do IDEB da rede pública de Sergipe e, no caso do Ensino Médio, da rede estadual, comparando a evolução do Estado consigo mesmo e localizando sua posição no ranking das unidades da federação.

Em 2005 a posição de Sergipe já era de desempenho abaixo da mediana dos estados e do Distrito Federal, para os índices do Ensino Fundamental. No caso do Ensino Médio, Sergipe se localizava na mediana, com a 14ª. posição. Como já mencionado, a forte recusa de setores organizados às propostas de modernização da gestão educacional e a incapacidade, não obstante algumas tentativas, do governo do Estado em implementá-las levou a um desempenho comparativamente inferior à média das unidades da Federação conduzindo o Estado, no ano de 2015, à vexatória posição de o com pior desempenho, em todas as etapas da Educação Básica.

A reação a esse estado letárgico de baixa aprendizagem, baixas taxas de aprovação dos estudantes e consequentes defasagem idade-série, abandono e evasão de estudantes provocando baixa taxa de matrícula de jovens na idade adequada, tanto nos Anos Finais do Ensino Fundamental e especialmente no Ensino Médio começou no ano de 2016 com a implementação do Ensino Médio Integral em Tempo Integral, inspirado na experiência pernambucana. Há que se registrar que em cada escola que a modalidade foi introduzida ocorreram batalhas políticas e nem sempre o proposto pela Secretaria de Educação foi acatado. Mas a mudança foi disparada e os resultados começaram a aparecer.

O conjunto mais importante das reformas da gestão educacional foi aprovado, como vimos, em 2019. Os índices dos anos de 2019, 2021 e 2023 mostram a evolução e devem ser comemorados. Sergipe saiu da letargia, mas é preciso acrescentar um sentido de urgência. Não podemos tolerar a sucessão de geração de estudantes que recebem uma educação sem a qualidade requerida pela sociedade sergipana, que são excluídos de nossas escolas pela retrógrada “pedagogia da repetência”, que desistem da escola porque chegaram à idade de trabalhar e cuidar da família. É preciso um pacto envolvendo toda a sociedade, os educadores e os dirigentes políticos para a construção no mais breve espaço de tempo de uma educação pública com qualidade e equidade.

Há evidências de que outros estados da região Nordeste, além dos já citados, estão fazendo melhor do que nós. Os resultados do IDEB 2023 trouxeram algumas novidades, a exemplo da comprovação do êxito de estados que vinham implementando há mais tempo as reformas educacionais. Piauí e Alagoas são os estados que se destacaram como prováveis candidatos a se colocarem, em pouco tempo, nos primeiros lugares do ranking nacional se juntando aos já célebres casos de sucesso do Ceará e Pernambuco. Se a sociedade sergipana, seus educadores e dirigentes políticos não desejam que retornemos à posição que a recusa às reformas educacionais nos conduziram, no ano de 2015, precisamos unir esforços para a aceleração do processo de mudanças.

[1] INEP. Resultados do IDEB 2023. chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://download.inep.gov.br/ideb/apresentacao_ideb_2023.pdf.

[2] No ano de 2019, a rede estadual atingiu a meta com o IDEB 5. Este feito, tendo em vista a relativamente pequena participação dessa rede no total da matrícula pública não foi suficiente para elevar o IDEB da rede pública à meta de 4,8.

[3] Educação Nota 10. https://seduc.se.gov.br/download/lei-no-9-339-de-13-de-dezembro-de-2023/.

[4] Ribeiro, Sérgio Costa. A pedagogia da repetência. https://www.scielo.br/j/ea/a/JyfPSdxSCrxKHxV6H3whNNz/.
Claudio Macedo. A contraproducente reprovação escolar. Saense. https://saense.com.br/2023/09/a-contraproducente-reprovacao-escolar/. Publicado em 21 de setembro (2023).

[5] Neste artigo utilizaremos os termos que compõem a taxa de rendimento escolar, conforme o INEP. Aprovação, reprovação e abandono.

[6] INEP. Resultados do IDEB 2023. chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://download.inep.gov.br/ideb/apresentacao_ideb_2023.pdf.

[7] INEP. Resultados do IDEB 2023. chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://download.inep.gov.br/ideb/apresentacao_ideb_2023.pdf.

[8] Nogueira Filho, Olavo. Pontos fora da curva: porque algumas reformas educacionais no Brasil são mais efetivas do que outras e o que isso significa para o futuro da educação básica. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2022. INEP. Resultados do IDEB 2023. chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://download.inep.gov.br/ideb/apresentacao_ideb_2023.pdf.

Como citar este artigo: Josué Modesto dos Passos Subrinho. O ciclo do IDEB em Sergipe. Saense. https://saense.com.br/2024/08/o-ciclo-do-ideb-em-sergipe/. Publicado em 23 de agosto (2024).

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