Claudio Macedo
21/09/2023

A contraproducente reprovação escolar
Foto: Katerina Holmes / Pexels, CC0

O artigo A distorção do atraso escolar [1] tratou das inaceitáveis taxas de distorção idade-série (TDI) de nossas redes públicas de educação básica − problema decorrente do abandono dos alunos mais frágeis no sentido socioeconômico, à própria sorte. Como explicado no artigo citado, está em distorção idade-série o aluno com mais de dois anos de atraso escolar em qualquer época do ano letivo em que esteja matriculado.

Agora, neste artigo, é analisada a relação entre as TDI [2] das séries avaliadas no Saeb (5º e 9º anos do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio) e as notas médias obtidas em Língua Portuguesa e em Matemática pelos alunos dessas mesmas séries das redes públicas [3]. A comparação é feita através do coeficiente de correlação de Pearson (ρ) [4].

A tabela abaixo mostra a TDI e a nota média do Saeb no 5º Ano do Ensino Fundamental das redes públicas em 2021. Na tabela é evidenciado que as redes com menores taxas de distorção idade-série (TDI) são também as que obtiveram maiores notas no Saeb, com poucas exceções. As redes do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul, destacadas em verde, apresentaram TDI um pouco maiores do que a média brasileira, mas conseguiram notas superiores. Esses estados demonstram ter sistemas escolares mais eficientes na aprendizagem dos alunos do que a média dos demais estados brasileiros. Já as redes dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Roraima, destacadas em amarelo, apesar de apresentarem TDI melhores que a média brasileira, obtiveram notas inferiores às da média. Esses estados demonstram ter sistemas escolares menos eficientes na aprendizagem dos alunos do que a média dos outros estados brasileiros. A rede pública de Sergipe apresenta TDI 31,5% (25º) e nota média 4,86 (27º) seguindo, portanto, a tendência geral. Na comparação entre grandezas que variam em sentidos opostos, isto é, enquanto uma cresce a outra decresce, como é o caso de TDI e notas médias, o coeficiente de correção é negativo e o valor mais forte possível da correlação ocorre quando ρ= -1 [5]. A tabela abaixo, mesmo com as exceções dos cinco estados destacados, indica que existe uma forte correlação negativa entre TDI e nota média no Saeb. O coeficiente de correção calculado é ρ = – 0,72.

Coeficiente de correção ρ = – 0,72

A tabela a seguir, mostra a TDI e a nota média do Saeb no 9º Ano do Ensino Fundamental das redes públicas em 2021. A tendência geral é a mesma do exemplo do 5º Ano: redes com menores TDI obtêm notas médias maiores. As redes do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul, destacadas em verde, são exceções positivas, pois mesmo tendo TDI maiores do que a média nacional, obtiveram notas médias superiores, o que indica que são redes mais eficientes na aprendizagem dos alunos do que a média das demais redes. As redes do Mato Grosso e de Roraima, destacadas em amarelo, são exceções negativas, pois mostram TDI melhores que a média brasileira, mas com notas médias inferiores. Isso significa que essas duas redes são menos eficientes na aprendizagem dos alunos do que a média das demais redes. A tabela, mesmo com as exceções dos quatro estados destacados, indica que existe uma forte correlação negativa entre TDI e nota média no Saeb. O coeficiente de correção calculado é ρ = – 0,68.

Coeficiente de correção ρ = – 0,68

Finalmente, a tabela que segue, mostra a TDI e a nota média do Saeb na 3ª Série do Ensino Médio das redes públicas em 2021. Neste caso, a exceção positiva é a rede do Mato Grosso do Sul, destacada em verde que, apresentando uma TDI maior que a média brasileira, obteve uma nota média maior que a média das demais redes. As exceções negativas são as redes de Mato Grosso, Tocantins e Roraima, destacadas em amarelo que, apesar de apresentarem TDI melhores que a média brasileira, obtiveram notas médias inferiores às da média dos demais estados. Nesse caso, na 3ª Série do Ensino Médio, a correlação negativa entre TDI e a nota média no Saeb é ainda mais forte. O coeficiente de correção calculado é ρ = – 0,81.

Coeficiente de correção ρ = – 0,81

Os resultados para o coeficiente de correlação indicam que quanto menor é a TDI, isto é, quanto menor é o percentual de alunos atrasados nos estudos, maior é a nota média nas provas de Língua Portuguesa e de Matemática. Redes em que os alunos seguem normalmente seu percurso escolar, com taxas mais baixas de reprovação, os alunos aprendem mais.

O que podemos concluir é que reter um aluno através de reprovação não faz com que esse aluno aprenda mais, apenas faz com que ele se desmotive pela escola e pela aprendizagem. O aluno aprende quando é estimulado e se, em vez de reprovação recebe apoio, reforço escolar e recuperação da aprendizagem. As redes com menores taxas de distorção idade-série mostram isso muito bem. [5], [6]

[1] Claudio Macedo.  A distorção do atraso escolar. Saense. https://saense.com.br/2023/03/a-distorcao-do-atraso-escolar/. Publicado em 14 de março (2023).

[2] Inep. Censo da Educação Básica 2019 e SAEB 2019.

[3] MEC/Inep. Indicadores educacionais compostos por: Taxa de Aprovação, Saeb e Ideb por regiões geográficas, unidades da federação e rede de ensino – 2021.

[4] Coeficiente de correlação calculado através da Função Pearson do Microsoft Excel.

[5] Artigo em que também é feita análise com o coeficiente de correlação de Pearson: Claudio Macedo. A relevante relação entre matrícula em creche e o sucesso na alfabetização. Saense. https://saense.com.br/2023/07/a-relevante-relacao-entre-matricula-em-creche-e-o-sucesso-na-alfabetizacao/. Publicado em 27 de julho (2023).

[6] MEC: Ministério da Educação; Inep: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; Ideb: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica; Saeb: Sistema de Avaliação da Educação Básica.

Como citar este artigo: Claudio Macedo. A contraproducente reprovação escolar. Saense. https://saense.com.br/2023/09/a-contraproducente-reprovacao-escolar/. Publicado em 21 de setembro (2023).

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