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28/09/2024

Como auxiliar pessoas com sinais de sofrimento emocional?
Foto:  Jessica Lewis/Pexels

E chegamos a mais um setembro. Amarelo. E não sei você, leitor, mas tenho a sensação de que prevenção de suicídio e de agravos em saúde mental não tem sido assunto de um mês, mas de tempo todo. Talvez o tema, então, pareça batido, mas nunca é demais lembrar os sinais de alerta e refletir sobre como auxiliar, seja em setembro, seja em qualquer momento do ano.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde mental envolve um “estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”. Ou seja, assim como saúde não é sinônimo de ausência de doença, vemos um conceito conforme o qual ter saúde mental não implica ausência de sofrimento emocional. Sofrer, afinal, faz parte da vida e do desenvolvimento humano.

Podemos nos perguntar, então, o que é sofrimento emocional? Para entender esse fenômeno, podemos associá-lo à ideia de dor. Se buscarmos no dicionário, dor é “uma sensação penosa e desagradável”. É uma resposta natural do nosso organismo, um sistema de alarme para a sobrevivência. Sua função é revisar nosso comportamento para que a gente possa corrigir o que está agredindo nosso corpo ou nossa mente. Se entendemos o conceito de dor, fica mais clara a razão de, na grande maioria das vezes, ser pouco benéfico insistir em evitar olhar para a dor emocional.

Sofrimento, por sua vez, traz uma característica mais processual, isto é, sofrimento é o processo de sofrer. É uma representação psíquica da dor e daquilo que gerou a dor. É a consequência subjetiva, emocional e mental do que aconteceu. Podemos dizer que o sofrimento é o processo de elaboração/assimilação da dor. Elaborar é como chamamos esse mecanismo psíquico de “trazer para dentro”, para nosso mundo interno, aquilo que aconteceu no “fora”.

Portanto, a priori, experienciar emoções desagradáveis e se sentir emocionalmente vulnerável não significam problemas de saúde mental, pois são funcionais para lidar com as tensões do dia a dia. Quando, então, devemos acender o alerta? Quais os sinais de que o sofrimento emocional passou do tolerável?

De modo geral, existem alguns sinais que em conjunto indicam que algo não vai bem. São eles: alterações de humor (tristeza prolongada e explosões de raiva, por exemplo); mudanças de personalidade (dificuldade de sentir prazer em coisas que antes eram agradáveis, por exemplo); mudanças nos padrões de sono e de apetite; dificuldades cognitivas (problemas de concentração, dificuldades de tomar decisões ou fazer planos, etc.); sintomas físicos (fadiga persistente ou dores frequentes); isolamento social (evitar contato social ou sentir solidão mesmo na presença de outras pessoas, por exemplo); negligência do autocuidado (alteração dos hábitos de higiene, abuso de substâncias ou comportamentos de risco); e pensamentos de desespero (como sentimentos de inutilidade ou ideação suicida).

Esses aspectos, em conjunto, intensificados e/ou cronificados, aumentam as chances de uma crise emocional. A crise é um desgaste psicológico que se instala quando o sofrimento psíquico é intenso, ou seja, quando a dor emocional ultrapassou os limites da pessoa para lidar com a tensão, sendo seu extremo o suicídio ou sua tentativa. Assim, a intensificação ou cronificação do sofrimento emocional traz relevantes prejuízos em termos de saúde mental e contribui para o surgimento e/ou agravamento de quadros de transtornos mentais preexistentes. Por isso, devemos atuar preventivamente de modo a evitar crises emocionais, seja com estratégias de autocuidado, seja auxiliando amigos, familiares e colegas. E aqui aparece a clássica pergunta: afinal, como auxiliar pessoas em sofrimento emocional?

Auxiliar a pessoa a identificar os sinais de sofrimento emocional já é um primeiro e importante passo, afinal quem está tomado por angústia pode ter dificuldade de perceber as mensagens enviadas pelo corpo/mente. Além disso, num mundo onde parece cada vez mais insuportável sentir-se vulnerável, pode ser útil auxiliar a pessoa a perceber que os sentimentos são impermanentes e fazem parte da natureza humana, e que todas as emoções têm sua função, portanto não existem emoções ruins ou negativas.

Emoções desagradáveis são sinais de necessidades humanas não atendidas, por isso auxiliar a pessoa a identificar pequenas coisas que podem ser feitas no seu contexto pode ser bastante bem-vindo (lembrando que as ideias devem partir da própria pessoa, não serem receitas de alguém de fora do seu contexto sociocultural).

Principalmente para aqueles que apresentam negligência no autocuidado e pensamentos de desespero, é fundamental reafirmar genuinamente o valor da pessoa, bem como auxiliá-la a lembrar o que é importante para ela e quais são os valores que a guiam. Isso é ainda mais relevante se você identifica que a pessoa esteja sob alguma situação de violência psicológica ou moral. Nesse caso, deve-se agir para proteger a pessoa do contexto de risco. Acionar e ajudar a ampliar a rede de apoio é essencial, se colocando à disposição para auxiliar de maneira pragmática se for necessário.

Tudo isso não é feito numa breve conversa, ainda que às vezes uma breve conversa faça muita diferença na vida de alguém. Busque ir checando com a pessoa, de tempos em tempos, como estão os sinais identificados, de forma a monitorar seu progresso, prevenir possíveis crises e buscar atendimento em saúde, se necessário.

Por último, não custa lembrar, o Centro de Valorização da Vida pode ser contatado por meio do telefone 188 ou por chat no site, sendo um canal nacional de ajuda emocional que funciona 24h, todos os dias. [1], [2]

[1] Texto de Mariana Valls Atz

[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/como-auxiliar-pessoas-com-sinais-de-sofrimento-emocional/

Como citar esta notícia: UFRGS. Como auxiliar pessoas com sinais de sofrimento emocional? Texto de Mariana Valls Atz. Saense. https://saense.com.br/2024/09/como-auxiliar-pessoas-com-sinais-de-sofrimento-emocional/. Publicado em 28 de setembro (2024).

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