UFRGS
15/07/2025

Por ocasião do Dia do Bibliotecário, comemorado em 12 de março, o Sistema de Bibliotecas da UFRGS se uniu ao Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB-10), à Associação Rio-grandense de Bibliotecários e a outras instituições para promover o Simpósio do Dia do Bibliotecário. O evento celebrou a data, valorizou bibliotecários e equipes de bibliotecas e promoveu reflexões sobre o tema “Bibliotecas fortes, sociedades democráticas: na era da Inteligência Artificial”.
“Bibliotecas fortes, sociedades democráticas” foi o tema do 30.º Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação realizado em 2024. Uma discussão transversal e necessária para bibliotecas e para a sociedade como um todo, e que se buscou fortalecer com o evento local em celebração ao Dia do Bibliotecário.
As bibliotecas têm um papel fundamental na defesa da democracia, da ética e da educação de qualidade. Nas universidades e nos institutos federais, apoiam o ensino, a pesquisa e a extensão, ao mesmo tempo que promovem o acesso à informação, à cultura e ao conhecimento em suas múltiplas formas e manifestações. São espaços que conectam o passado ao futuro, contribuindo para o fortalecimento de instituições democráticas, diversas e inclusivas, que valorizam sua história e promovem o avanço do conhecimento para as novas gerações.
Bibliotecas fortes contribuem para a transformação social e o fortalecimento de sociedades democráticas. Em tempos de desinformação e fake news, as bibliotecas têm um papel fundamental na alfabetização midiática e informacional, promovendo a leitura crítica, o uso ético da informação e a qualidade na produção e disseminação do conhecimento.
O contexto acadêmico está em constante transformação, impulsionado por mudanças tecnológicas, novas demandas sociais e a crescente valorização da Ciência Aberta. A defesa do conhecimento aberto e acessível reforça o compromisso das bibliotecas universitárias com a democratização da informação e o suporte a práticas científicas colaborativas e transparentes.
As bibliotecas desempenham um papel estratégico na curadoria, preservação e disseminação do conhecimento, garantindo que pesquisadores, estudantes e a sociedade tenham acesso a repositórios, dados e publicações qualificadas e confiáveis.
A inovação tecnológica também é central para as bibliotecas. A automação, a internet e outras tecnologias da informação e comunicação transformaram essas instituições na segunda metade do século XX. O século XXI trouxe a expansão das plataformas digitais, a big data, a computação em nuvem e, mais recentemente, a Inteligência Artificial (IA), cujos impactos são cada vez mais evidentes no ecossistema informacional.
As transformações tecnológicas e sociais sempre pautaram o trabalho bibliotecário. Se, na antiguidade, o foco estava na custódia e preservação de acervos, com o tempo, o bibliotecário passou a desempenhar um papel central na democratização do acesso à informação. Na década de 1990, discutia-se a transição “do acervo para o acesso”, questionando-se se bibliotecas físicas cederiam espaço às coleções digitais. Com a popularização da internet, e-books e dispositivos eletrônicos, levantaram-se dúvidas sobre o futuro do livro impresso, mas a prática demonstrou que os novos formatos vieram para complementar, e não substituir, os tradicionais.
A IA representa um recurso estratégico e um desafio para as bibliotecas, constituindo uma das tendências recentes mais significativas. Ela tem o potencial de transformar a organização e o acesso a grandes coleções de dados e informações. No entanto, o avanço da IA também traz preocupações e desafios, como proteção e privacidade dos dados, viés algorítmico, confiabilidade da informação e criação de deep fakes, que podem complicar a navegação em um ambiente informacional já complexo.
Nesse cenário, as bibliotecas também têm um papel essencial na educação pública sobre IA e na promoção da literacia midiática e informacional, assegurando o acesso equitativo e boas condições para o uso ético e crítico da informação.
A crescente diversidade de ferramentas de IA generativa e seu uso no meio acadêmico exige um olhar atento e políticas institucionais que regulamentem a sua aplicação na produção acadêmico-científica, coíbam práticas inadequadas – como plágio e ausência de citação de fontes – e reforcem a ética e a integridade científica.
O futuro das bibliotecas na era da IA está associado à sua capacidade de equilibrar inovação tecnológica, compromisso ético e acesso democrático ao conhecimento. Para isso, é fundamental que continuem a receber investimentos, apoio institucional e reconhecimento como pilares da universidade e da sociedade.
A IA também impõe novos desafios aos bibliotecários, que precisarão desenvolver competências e habilidades para avaliar criticamente essas tecnologias e promover/apoiar seu uso na organização da informação, nos processos de pesquisa, na produção de conhecimento e na educação de usuários. Apesar do relativo entusiasmo com a IA e do mercado em rápida expansão, o uso de ferramentas de IA deve ser orientado pela solução de problemas concretos e pela melhoria da experiência dos usuários de bibliotecas físicas e digitais.
O avanço da IA nas bibliotecas exigirá dos profissionais uma postura aberta e inovadora para agregar valor aos serviços e reforçar seu papel como educadores midiáticos e informacionais. Espera-se a ruptura de padrões conservadores e a adoção de práticas proativas para (re)pensar habilidades e competências e criar estratégias eficazes de seleção, organização e disseminação da informação em múltiplos formatos para os públicos diversos.
As mudanças em curso reforçam a importância da autonomia dos sujeitos informacionais, que utilizarão IA para diversas necessidades informacionais. A colaboração multiprofissional e interdisciplinar é essencial para criar ambientes de aprendizagem mais integrados e inovadores. A IA pode ser incorporada às bibliotecas como uma ferramenta aliada, assim como ocorreu com as tecnologias da informação e comunicação que a precederam.
O espaço de diálogo e interação do Simpósio do Dia do Bibliotecário e de outros eventos da área são momentos de fortalecimento e troca de saberes entre profissionais e instituições plurais em prol de uma classe engajada na luta por justiça social, ética e democracia. Esses valores reafirmam o compromisso das bibliotecas e dos bibliotecários com o acesso democrático à informação, a liberdade da investigação científica e a dignidade da pessoa humana. [1], [2]
[1] Texto de Dirce Santin e Filipe da Silveira
[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/bibliotecas-fortes-sociedades-democraticas-informacao-confiavel-e-acessivel-na-era-da-inteligencia-artificial/
Como citar esta notícia: UFRGS. Bibliotecas fortes, sociedades democráticas: informação confiável e acessível na era da inteligência artificial. Texto de Dirce Santin e Filipe da Silveira. Saense. https://saense.com.br/2025/07/bibliotecas-fortes-sociedades-democraticas-informacao-confiavel-e-acessivel-na-era-da-inteligencia-artificial/. Publicado em 15 de julho (2025).