Jornal da USP
13/10/2025

A prática de atividades físicas parece responder mais rapidamente ao alívio dos principais sintomas da doença de Parkinson. É o que aponta um estudo realizado por um grupo internacional de pesquisa sediado e patrocinado pela Mahidol University, Tailândia, com participação de cientistas do Reino Unido e da USP. A equipe investigou os efeitos da combinação da Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) – técnica de neuromodulação não invasiva usada no tratamento de doenças psiquiátricas e neurológicas – com atividade física domiciliar em pessoas com Parkinson.
Publicado na Clinical Neurophysiology, o estudo concluiu que a prática física, mesmo que realizada em casa, melhora a locomoção nesses indivíduos. Também constatou que a EMTr altera marcadores neurofisiológicos, como a verificada no córtex (região mais superficial do cérebro). A técnica provoca excitabilidade cortical, que é a força de resposta dos neurônios situados na região do córtex a uma determinada estimulação e considerada fundamental para o pleno funcionamento do cérebro. Entretanto, apesar da modificação cortical, a EMTr não proporcionou benefícios clínicos ou cinemáticos (relativos ao movimento) adicionais no dia a dia, além dos já oferecidos pelos exercícios domiciliares isolados.
Ao falar sobre a importância do estudo, o integrante da equipe e professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, Paulo Roberto Pereira Santiago, informa que a doença de Parkinson é uma condição neurológica que afeta os movimentos do indivíduo e ocorre por conta da degeneração das células situadas numa região do cérebro chamada “substância negra”.
Entre os principais sintomas estão: a lentidão de movimentos, tremores, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Lembra ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 4 milhões de pessoas sofram com o Parkinson no mundo atualmente, número que pode dobrar até 2040 com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população.
Estimulação da área cerebral que controla os movimentos
Um dos focos do trabalho, conta o professor Santiago, foi investigar alternativas para lidar com as dificuldades motoras características do Parkinson. A locomoção costuma piorar nesses pacientes, com aumento do risco de quedas, e, “como já se sabe, os exercícios físicos ajudam no equilíbrio e na marcha. Então, a ideia foi verificar se a associação com a estimulação magnética transcraniana de repetição poderia potencializar os ganhos”.
Técnica não invasiva, sem a necessidade de realizar cirurgia alguma, a EMTr consiste em encostar, na cabeça do paciente, uma bobina que gera pulsos magnéticos rápidos e modulam a atividade de neurônios na região estimulada. “No estudo, estimulamos a área motora suplementar, responsável pelo início e pela organização dos passos e curvas, com o objetivo de facilitar a execução do movimento antes do treino”, explica o pesquisador.
Sobre a estruturação do estudo, Santiago afirma que realizaram um ensaio controlado randomizado duplo cego, em que um grupo recebeu atividade física e EMTr real, outro recebeu atividade física e EMTr simulada e um terceiro recebeu apenas o tratamento clínico convencional, desconhecendo a qual grupo pertenciam. Ao todo, 39 indivíduos com Parkinson de nível leve a moderado participaram dos testes. “Foram realizadas dez sessões de estimulação e oito semanas de atividades em casa, com foco em postura e respiração, alongamentos, rotações de tronco, equilíbrio e treino de marcha com curvas, com materiais simples e orientação padronizada”, acrescenta.
Modulação cortical nem sempre se traduz em benefício clínico
Os resultados mostraram que os dois grupos que realizaram os exercícios físicos tiveram melhoras significativas, tanto em medidas clínicas quanto na capacidade de realizar curvas durante a marcha, em comparação ao grupo controle (que não realizou EMTr nem atividade física).
A EMTr, por sua vez, foi responsável por mudanças em um marcador de excitabilidade do córtex, mudanças estas medidas por testes neurofisiológicos (exames que avaliam a função do sistema nervoso), mas sem benefício clínico adicional em relação à atividade física isolada.
“Na prática, os exercícios domiciliares foram os motores das melhoras funcionais. No caso da estimulação real, o cérebro foi modulado, porém, com este protocolo, não acrescentou ganho percebido no dia a dia”, avalia Santiago.
A conclusão, adianta o professor, é que a combinação de neuromodulação e atividade física é viável, tendo em mente que “a modulação cortical nem sempre se traduz em benefício clínico imediato, o que orienta novos estudos sobre dose, alvo de estimulação e seleção de respondedores”.
O professor acredita que a continuidade de pesquisas acerca do tema deve envolver algumas alternativas, como a exploração de diferentes alvos de estimulação cerebral, o uso de técnicas mais precisas de posicionamento da bobina da EMTr, a análise de subgrupos específicos (como pessoas que apresentam congelamento da marcha), além da integração de medidas objetivas de adesão ao exercício físico.
Mesmo com as limitações, o estudo confirma que “a prática física realizada em casa, quando bem organizada e acompanhada, melhora a locomoção e traz ganhos clínicos para quem convive com o Parkinson. É uma alternativa acessível, prática e que pode ser incorporada à rotina dos pacientes”, conclui Santiago.
O artigo Effects of high-frequency rTMS and home-based exercise on locomotion in individuals with Parkinson’s disease: A double-blind randomized controlled trial está disponível neste link.
Mais informações: paulosantiago@usp.br, com o professor Paulo Roberto Pereira Santiago [1], [2]
[1] Texto de Felipe Medeiros
[2] Publicação original: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/exercicios-domiciliares-melhoram-a-mobilidade-de-pessoas-com-parkinson/
Como citar este texto: Jornal da USP. Exercícios domiciliares melhoram a mobilidade de pessoas com doença de Parkinson. Texto de Felipe Medeiros. Saense. https://saense.com.br/2025/10/exercicios-domiciliares-melhoram-a-mobilidade-de-pessoas-com-doenca-de-parkinson/. Publicado em 13 de outubro (2025).