Jornal UFG
05/05/2021
A reforma de pastagem degradada aliada ao sistema integrado lavoura-pecuária-floresta promove a diversificação de práticas produtivas, maior rentabilidade e maior qualidade e conservação do solo. Essa é a conclusão do experimento de 24 meses realizado pelo agrônomo e pesquisador da UFG, Leonnardo Furquim, no município de Rio Verde (GO), que avaliou sete possibilidades de tratamento do solo. A pesquisa está vinculada ao programa de pós-graduação da Escola de Agronomia (EA) e foi orientada pelo professor, Luis Fernando Stone, da Embrapa Arroz e Feijão.
Assim como explica Leonnardo, geralmente, quando o produtor se depara com a pastagem degradada, promove a recuperação da área de forma convencional, por meio do revolvimento do solo (aragem, gradagem, etc.), adubação e distribuição de sementes. “É necessário fazer a mecanização pesada na área e revolver o solo, jogar adubo e sementes e esperar o capim crescer. Além do tempo que a área fica parada, o custo que se paga é muito elevado”. No entanto, o procedimento usual de revolvimento do solo, aliado a um sistema que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área, é uma alternativa mais vantajosa e, ainda, evita uma nova degradação, avalia o pesquisador. “Diversifica a cadeia produtiva, aumenta a renda, promove ganho social e ambiental”.
A opção favorece a intensificação e diversificação da produção, sendo uma oportunidade de produzir grãos, pastagem com pastejo de gado e floresta ao mesmo tempo, “uma colaborando com a outra, promovendo sinergia e sustentabilidade”, afirma Leonnardo. “Com a lavoura é possível pagar grande parte das despesas envolvidas com as práticas de reforma da pastagem, que antes seriam reembolsadas apenas com o ganho de peso ou de produção de leite dos animais na nova pastagem. Ou seja, quando se colhe a lavoura, o pasto fica de saldo. Além disso, ao utilizar árvores, promove sombra e bem estar para os animais”.
O sistema integrado previne, inclusive, a necessidade de novo revolvimento de solo, que, consequentemente, ocasiona a perda de sua qualidade química, física e biológica. Entre os resultados, o estudo constatou que a prática de revolver o solo faz com que ele perca a sua qualidade, pensando na sua microbiologia. Os solos que não passaram por procedimentos como a aragem, por exemplo, apresentaram maior densidade populacional de fungos e bactérias, além de esporos de fungos micorrízicos, que são aqueles associados a determinadas plantas. “Esses microrganismos que foram avaliados são benéficos para o solo. Sem contar com a porosidade do solo que é extremamente afetada. Revolver o solo não é bom. Só se faz quando realmente é necessário. O ideal é não deixar chegar a esse ponto”, afirma Leonnardo, que atualmente está na gerência de Formação Profissional Rural do Senar Goiás.
Tratamentos
O experimento analisou sete formas de tratamentos do solo de pastagens, sendo eles: pasto degradado sem intervenção; pasto adubado e com calcário; reforma convencional do pasto, com revolvimento do solo, adubação e distribuição de sementes; integração lavoura-floresta, onde foi realizada a reforma convencional com introdução de linhas de árvores de eucalipto entre um espaço de 22 metros, onde foi realizado o cultivo de oleíferas e frutíferas; integração pecuária-floresta, com reforma convencional do pasto, linhas de eucalipto cercadas e, entre elas, foram plantados capim e colocados o gado; integração lavoura-pecuária-floresta feno, onde após a reforma convencional, foram plantadas as linhas de eucalipto sem cerca e, entre elas, capim para produção de feno; e, por fim, o considerada mais intensivo, lavoura-pecuária-floresta silagem, onde também foi realizado reforma convencional, plantação de linhas de eucalipto e, entre elas, sorgo forrageiro para fazer silagem consorciado com capim para o pasto.
Após quatro meses de plantio, foi realizada a avaliação da qualidade química, física e microbiológica do solo, além da avaliação da evapotranspiração e biomassa por sensoriamento remoto. Entre os resultados da pesquisa, como se esperava, na pastagem degradada, devido ao processo de compactação do solo, foi encontrado menor quantidade de macroporos e o maior índice de retenção da água. Por sua vez, os parâmetros de fertilidade do solo mudaram nos tratamentos onde foi realizada a etapa da calagem, ou seja, nos terrenos que receberam calcário. “Observou-se, ainda, aumento da matéria orgânica, pH, potássio e saturação por bases e diminuição da saturação por alumínio em condições de não revolvimento do solo”, afirma o estudo.
O sistema de integração pecuária-floresta com cultivo de eucalipto consorciado com capim para pastejo, após preparo convencional do solo, obteve o melhor resultado na análise das curvas de velocidade de infiltração de água e a maior média de evapotranspiração. Por sua vez, a menor resistência do solo à penetração da água foi proporcionada pela diversidade de espécies nos sistemas silviagrícolas. “De forma mais clara: Intensificar a produção com adubação da área e utilização de lavoura e floresta é sustentável e vantajoso, desde que se encaixe no perfil econômico e tecnológico do produtor”, afirma Leonnardo. [2]
[1] Foto: Secom-UFG.
[2] Texto de Carolina Melo.
Como citar este texto: Jornal UFG. Recuperação do solo de pastagem com lavoura-pecuária-floresta gera maior rentabilidade. Texto de Carolina Melo. Saense. https://saense.com.br/2021/05/recuperacao-do-solo-de-pastagem-com-lavoura-pecuaria-floresta-gera-maior-rentabilidade/. Publicado em 05 de maio (2021).