CCS/CAPES
27/01/2022
A bióloga Cibele Inês Rockenbach é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Vale do Taquari (Univates). Atualmente pesquisadora no Laboratório de Paleobotânica e Evolução de Biomas, do Museu de Ciências da mesma instituição, Cibele estudou a morfologia da resina em carvão vegetal fóssil para entender quais efeitos os incêndios vegetacionais causaram no clima ao longo da história do planeta.
Fale sobre seu projeto de pesquisa e objetivos.
Minha pesquisa teve como objetivo principal a descrição da morfologia de resina
preservada em fragmentos de lenhos submetidos à queima artificial. O grupo de
pesquisa do qual eu faço parte está consolidado sobre o estudo de plantas
fósseis – Paleobotânica –, principalmente sobre o macro-charcoal (carvão vegetal
fóssil), oriundo da queima incompleta de plantas, que é um indicativo direto da
ocorrência de incêndios vegetacionais ao longo da história da Terra. O registro
de macro-charcoal é encontrado em diferentes estratos
sedimentares que datam do período logo após o surgimento das plantas
terrestres, há cerca de 419 milhões de anos.
Como as plantas podem retratar
eventos históricos?
As plantas são extremamente sensíveis às mudanças climáticas e estas alterações
ambientais ficam registradas na sua anatomia. Além disso, o expelir de resina
está fortemente relacionado a intervenções físicas de animais, estresses
ambientais e fogo. A queima incompleta destas plantas mantém as feições
anatômicas e morfológicas preservadas, sendo, portanto, um objeto de grande
importância na Paleobotânica. O estudo destes carvões, associado a outros tipos
de análises nos trazem informações importantes sobre o ambiente, o ecossistema
e o clima onde estas plantas viviam, além de suas interações ecológicas. Isto
possibilita construir um cenário mais próximo ao que era no passado.
Assim, investigações sobre diferentes estruturas presentes no macro-charcoal e a interação destes dados com outras áreas da Paleobotânica e da Paleontologia, possibilitam uma melhor compreensão de eventos como os incêndios de vegetação, os quais, sabemos hoje, estão fortemente associados às mudanças climáticas, e podem levar a extremos climáticos de grandes dimensões.
Quais são os próximos passos
para seu estudo?
Com os resultados promissores obtidos na pesquisa de base realizada durante o
mestrado, a continuidade do projeto no doutorado será com um aprofundamento
destes dados obtidos e com o aprimoramento da metodologia, utilizando outras
ferramentas de estudo e aplicando o método em fitofósseis – fósseis vegetais –
de várias idades. Estes dados irão auxiliar a compreensão dos diferentes
elementos presentes nos ambientes em que estas plantas cresciam, além de
oferecer um melhor entendimento sobre os processos envolvidos na formação e
preservação da resina e sua importância paleoecológica.
Como o seu trabalho contribui para a sociedade?
Os estudos da Paleobotânica, onde meu projeto se insere, trazem uma visão ampla
da evolução dos ambientes e da ciclicidade do clima ao longo do tempo. Além
disso, identificar alguns fatores-chaves, nos mais diversos ecossistemas, que
são desencadeados por mudanças climáticas é de extrema importância, visto que
estamos num momento na história do Planeta, no qual pequenos efeitos oriundos
das mudanças climáticas já são experimentados pela população. Assim, divulgar
estes dados permite à população compreender e perceber que é preciso uma
consciência ambiental muito grande, a fim de desacelerar as mudanças
climáticas, evitando grandes catástrofes ambientais a curto prazo.
Qual a importância do apoio da CAPES para o desenvolvimento do seu
projeto?
Eu recebi bolsa do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições
Comunitárias de Educação Superior (Prosuc),
durante o mestrado. Com certeza, ter o apoio da CAPES foi de fundamental
importância para o projeto ser desenvolvido e concretizado, gerando bons
resultados. As parcerias internacionais que são construídas durante o
desenvolvimento do projeto, por meio da divulgação dos trabalhos e da
oportunidade de participação em congressos, possibilitam a difusão do
conhecimento e a troca de experiências entre pesquisadores, além do crescimento
pessoal e profissional.
Como citar este texto: CCS/CAPES. Estudo avalia relação entre queimadas e mudanças climáticas. Saense. https://saense.com.br/2022/01/estudo-avalia-relacao-entre-queimadas-e-mudancas-climaticas/. Publicado em 27 de janeiro (2022).