Marco Túlio Chella
16/12/2016
Empresas de consultoria como a Gartner [2], em seus estudos sobre dispositivos conectados em rede, estimam que dentro de alguns anos, bilhões de objetos físicos dotados de sensores e atuadores estarão de alguma forma conectados a rede, propiciando uma gama enorme de produtos e serviços impensáveis até muito recentemente. Vários desses dispositivos estarão em nossas casas, ampliando produtos que já conhecemos, como os sistemas de segurança e automação de funções, como iluminação, controle de acesso, entre outros. Ainda no contexto residencial, alguns desses dispositivos estarão nas cozinhas. Os fabricantes de eletrodomésticos têm apresentado em feiras e eventos [3] especializados, produtos conceito, como geladeiras capazes de inventariar os produtos no seu interior e, inclusive, informar ao usuário, via aplicativo no smartphone, sobre a falta de um produto ou avisar sobre o prazo de validade. Outras comodidades mostradas são cafeteiras, máquinas de fazer pão programáveis para fazer o seu trabalho e deixar tudo pronto no momento desejado pelo usuário.
Tomando como base o modelo de negócio adotado pela indústria, é provável que a forma de obter esses equipamentos, ditos inteligentes, seja trocando o equipamento “burro”, mas que ainda funciona perfeitamente. Esse modelo não me parece muito compatível com o discurso de sustentabilidade e economia de recursos propalado por essas mesmas empresas.
Uma solução é fazer um retrofit; termo utilizado na indústria para definir a atualização tecnológica de um equipamento a partir da incorporação de tecnologias mais recentes.
Gostaria de exemplificar essa abordagem a partir de uma situação que talvez seja comum aos aspirantes a cozinheiros de primeira viagem que se aventuram em preparar o primeiro bolo. Ao pesquisar na Internet pela receita perfeita o aspirante vai encontrar uma infinidade de formas de fazer o tal bolo com instruções em texto e vídeos. O ponto comum da grande maioria dessas receitas é a instrução dita com a maior naturalidade: aquecer o forno a 180 graus. Acredito que a maioria dos mortais (os brasileiros com certeza) que usam um fogão tradicional a gás não tem um termômetro no forno para indicar a temperatura. Essa é a grande oportunidade para atualizar o velho fogão.
Os componentes básicos para esse projeto são um sensor de temperatura, e hardware para digitalização e comunicação dos dados. Um aplicativo para smartphone fica responsável por exibir a temperatura. Para uso na condição de temperatura do forno, o sensor adequado é o termopar, que se baseia no princípio físico de que dois metais diferentes, conectados fisicamente, ao serem aquecidos geram uma diferença de potencial proporcional a temperatura. Essa diferença de potencial, da ordem de alguns microvolts, deverá ser condicionada, amplificada, e feita a compensação da junção fria para indicar a temperatura. Esse tipo de amplificador é bastante crítico, mas a indústria já oferece módulos que fazem todo o tratamento necessário e entregam o sinal digitalizado, basta um módulo com microcontrolador para aquisição e comunicação no caso via Bluetooth e um aplicativo simples para smartphone que basicamente captura e apresenta na tela o dado com a temperatura.
Em linhas gerais um protótipo desse tipo é desenvolvido pela integração de módulos de hardware e software disponibilizados pela indústria e a comunidade de desenvolvedores. Vale lembrar que o protótipo mesmo sendo totalmente funcional supõe um grande caminho para ser transformado em um produto.
Interessados em trazer o seu fogão para o século 21 deixem um comentário, posso preparar uma receita com o passo a passo para montar o hardware e programar os dispositivos.
Sobre o bolo perfeito, o meu forno (agora) esperto mantém viva a esperança.
[1] Crédito da imagem: Marco Túlio Chella.
[2] Gartner. Gartner Says 6.4 Billion Connected “Things” Will Be in Use in 2016, Up 30 Percent From 2015. URL: http://www.gartner.com/newsroom/id/3165317. Acesso em 16 de dezembro (2016).
[3] CNBC. How your home will know what you need before you do. URL: http://www.cnbc.com/2016/01/06/ces-smart-homes-of-the-future.html. Acesso em 16 de dezembro (2016).
Como citar este artigo: Marco Túlio Chella. Forno com medidor de temperatura baseado em smartphone. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/12/forno-com-medidor-de-temperatura-baseado-em-smartphone/. Publicado em 16 de dezembro (2016).
Olá! Parabéns pela visão. Acredito que será isso mesmo. Alías, creio que já vem sendo assim. A necessidade algumas vezes vem depois da invenção, não ao contrário como pode-se pensar.
Quanto a receita da sua invenção, aceitaria o passo-a-passo. Justamente como vc sugeriu no artigo, seria para minha esposa fazer um doce francês que precisa de 140ºC exatos. Abraços.
Concordo com você, tendo algo em mãos para pensar é possível ampliar e vislumbrar aplicações não pensadas para o objeto ou instrumneto.
Deixo link com um roteiro para você reproduzir o experimento: https://goo.gl/tBfoH4
Depois me conta como ficou o doce francês.