Jornal UFG
17/07/2025

Uma equipe internacional de cientistas, incluindo pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia & Evolução (PPGECOEVOL) da Universidade Federal de Goiás (UFG), traz novas respostas a uma das perguntas mais fundamentais da ecologia: por que algumas regiões abrigam mais espécies do que outras? O estudo, que acaba de ser publicado na revista Science, revela que há uma relação clara entre a disponibilidade de energia no ambiente (como temperatura e regime de chuvas) e a diversidade de espécies, especialmente quando esses fatores são analisados de forma independente da geografia.
Durante décadas, ecólogos propuseram que ambientes mais quentes e úmidos tendem a abrigar mais espécies, por serem mais produtivos. Mas os dados empíricos nem sempre confirmavam essa ideia, e os resultados variavam bastante entre regiões e grupos de organismos.
Para superar essa limitação, os autores propuseram uma nova abordagem: em vez de comparar regiões vizinhas no mapa, eles agruparam áreas com climas semelhantes, mesmo que estejam em continentes diferentes. “Em vez de analisar a Terra como um mapa tradicional, com latitude e longitude, passamos a representá-la com base no clima, por exemplo, usando temperatura e chuva como os eixos principais”, explica o primeiro autor do artigo, Marco Túlio P. Coelho, pesquisador do Instituto Federal de Pesquisa em Florestas, Neve e Paisagem (WSL) da Suíça e egresso do PPGECOEVOL.
Assim, locais distantes, mas com o mesmo tipo de clima – quente e úmido, por exemplo – passam a ser analisados juntos. Amazônia, Congo, Madagascar e Papua-Nova Guiné, embora estejam em continentes diferentes, têm climas parecidos e, nesse novo modelo, são considerados um único tipo de ambiente. “Esse novo método nos permitiu, finalmente, isolar os efeitos puros do clima, como temperatura e precipitação, sobre a diversidade de espécies. E o que descobrimos? Os padrões deixaram de ser confusos”, acrescenta Marco Túlio.
Os resultados mostram que, em climas semelhantes, há uma relação direta entre energia disponível e número de espécies, especialmente em animais ectotérmicos (como répteis e anfíbios) que dependem mais da temperatura ambiente. A pesquisa também validou, nesse contexto, uma das principais previsões da teoria metabólica da ecologia (MTE, na sigla em inglês), segundo a qual a diversidade de espécies aumenta com a temperatura de forma proporcional à energia metabólica disponível.
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A pesquisa reuniu dados de mais de 30 mil espécies de vertebrados terrestres (aves, mamíferos, anfíbios e répteis) e contou com a colaboração de instituições do Brasil, Suíça, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos e República Tcheca, incluindo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (EECBio), sediado na UFG.
Entre os autores do artigo também estão os professores da UFG José Alexandre Diniz-Filho e Thiago Rangel, além de Matheus Lima de Araújo, estudante do PPGECOEVOL, Fernanda Cassemiro, ex-bolsista de pós-doutorado do PPGECOEVOL, e a também egressa do mesmo programa, Elisa Barreto, atualmente em pós-doutorado no WSL da Suíça.
Segundo José Alexandre, coordenador do INCT-EECBio, desde 2007 o grupo da UFG trabalha com questões relacionadas à teoria metabólica da ecologia e às hipóteses energéticas para explicar padrões de biodiversidade.
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O papel das chuvas
Além da temperatura, os cientistas incluíram outros fatores no modelo, como chuvas, produtividade primária e propriedades espaciais dos climas, como a área que ocupam no planeta e o quão isoladas estão. A análise revelou que, embora a chuva seja fundamental para a produtividade dos ecossistemas, o excesso de precipitação pode ter efeito negativo sobre a diversidade ao favorecer espécies mais competitivas. “Isso pode reduzir a coexistência e, consequentemente, a diversidade”, observam os autores.
Outro achado importante do estudo é que climas quentes tendem a ocupar áreas maiores, enquanto climas úmidos e altamente produtivos são mais raros. Essa diferença afeta diretamente a diversidade. “A área e o isolamento de cada tipo de clima ajudam a explicar quantas espécies conseguem evoluir, se dispersar ou sobreviver nesses ambientes”, destaca Marco Túlio.
Segundo os autores, o estudo fornece uma base mais sólida para prever como a biodiversidade pode responder às mudanças climáticas. “Ao controlar os efeitos geográficos, conseguimos enxergar com mais clareza o papel da energia ambiental na estruturação da vida na Terra”, conclui José Alexandre. [1], [2]
[1] Texto de Luiz Felipe Fernandes
[2] Publicação original: https://jornal.ufg.br/n/192675-pesquisa-esclarece-uma-das-questoes-mais-antigas-da-ecologia
Como citar este texto: Jornal UFG. Pesquisa esclarece uma das questões mais antigas da ecologia. Texto de Luiz Felipe Fernandes. Saense. https://saense.com.br/2025/07/pesquisa-esclarece-uma-das-questoes-mais-antigas-da-ecologia/. Publicado em 17 de julho (2025).