Ana Maia
19/10/2015

Reator nuclear de Fukushima em maio de 2011 após danos causados pelo tsunami. Foto por Greg Webb/IAEA (Flickr) / Creative Commons.
Reator nuclear de Fukushima em maio de 2011 após danos causados pelo tsunami. [1]
Diferentemente do que ocorreu após o acidente nuclear de Chernobyl, onde uma enorme área foi isolada e abandonada, os japoneses planejam a descontaminação da região dos reatores de Fukushima. Para tanto, um grande problema é identificar como estão os interiores dos reatores e, sobretudo, onde estão os combustíveis nucleares que possivelmente sofreram derretimento severo.

Como os altos níveis de radiação impossibilitam o acesso ao interior dos reatores, uma tecnologia de imagem já utilizada para visualizar o interior de pirâmide do Egito [2] foi testada e se mostrou promissora: a tomografia de múons [3].

Múons são partículas subatômicas presentes na radiação cósmica que nos atinge constantemente. Os múons são semelhantes aos elétrons, mas têm massa 20 vezes maior. A grande vantagem do múon é que ele é capaz de atravessar uma espessura muito grande de matéria, possibilitando fazer a imagem em situações em que as técnicas convencionais de imagem por radiação X não são eficientes.

As primeiras imagens de tomografia de múons no reator 1 de Fukushima [4] mostraram apenas um brilho difuso na região onde se supunha encontrar o combustível nuclear. A ausência de manchas sombreadas, que indicariam a presença do urânio, reforçam o que já era esperado: houve derretimento total do núcleo do reator.

O fato de ter sido possível enxergar o interior do reator aumenta a esperança de que esta técnica seja a solução para a localização precisa do combustível derretido e a posterior descontaminação. Muitos passos, e certamente muitas décadas, ainda nos separam da limpeza completa dos reatores de Fukushima, mas a necessidade de observar o interior do reator já tem promovido grande avanço na tecnologia de detecção de múons [5].

[1] Crédito da imagem: Greg Webb/IAEA (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/iaea_imagebank/5765324940/.

[2] LW Alvarez et al. Search for Hidden Chambers in the Pyramids. Science 167, 832 (1970).

[3] Sifter. Subatomic particles may help locate Fukushima’s missing uranium. Science. Publicado em 26 de agosto (2015).

[4] G Brumfiel. Particles From The Edge Of Space Shine A Light On Fukushima. NPR. Publicado em 24 de agosto (2015).

[5] JM Durham et al. Tests of cosmic ray radiography for power industry applications. AIP Advances 5, 067111 (2015).

Como citar este artigo: Ana Maia. Imagem do reator de Fukushima reforça o derretimento do núcleo. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/10/imagem-do-reator-de-fukushima-reforca-o-derretimento-do-nucleo/. Publicado em 19 de outubro (2015).

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