Marcelo M. Guimaraes
28/02/2016

As órbitas dos 6 objetos mais distantes (conhecidos) no Cinturão de Kuiper (magenta). Todas as órbitas se alinham e apontam na mesma direção. A órbita laranja é a proposta para o Nono Planeta com massa 10 vezes maior que a da Terra. [1]
As órbitas dos 6 objetos mais distantes (conhecidos) no Cinturão de Kuiper (magenta). Todas as órbitas se alinham e apontam na mesma direção. A órbita laranja é a proposta para o Nono Planeta com massa 10 vezes maior que a da Terra. [1]
Na escola aprendemos que o Sistema Solar possui 9 planetas. Bem, pelo menos possuía até que em 2006 a IAU (International Astronomical Union) formalizou critérios que um corpo celeste precisa ter para ser considerado um planeta [2]. Plutão passou a ser um planeta-anão e o Sistema Solar passou a ter 8 planetas.

Em Janeiro de 2016 dois pesquisadores do Caltech, Mike Brown (um dos algozes de Plutão) e Kostantin Batygin, propuseram a existência de um nono planeta no Sistema Solar [3]. A proposta foi baseada em simulações das órbitas de vários corpos celestes do Sistema Solar, principalmente de objetos do cinturão de Kuiper que possuem órbitas peculiares, dentre eles Sedna. A descoberta de Sedna foi feita por Brown em 2003 [4] e foi o ponta-pé da discussão sobre a caracterização do que é um planeta. A órbita de Sedna é peculiar, nunca se aproximando muito de Netuno. Outro objeto do cinturão de Kuiper foi descoberto em 2014, denominado 2012 VP113, e também tem uma órbita parecida com a de Sedna. Além disso, 6 objetos do cinturão de Kuiper possuem órbitas muito elípticas, cujos semi-eixos maiores apontam para a mesma posição no espaço [3].

Brown e Batygin perceberam que dentre diversas de suas simulações computacionais, aquelas que possuíam um nono planeta, com 10 vezes a massa da Terra, em uma órbita cujo semi-eixo maior é de 700 UA (Unidades Astronômicas – distância da Terra ao Sol), com um alinhamento completamente oposto aos dos demais planetas do sistema solar, conseguiam ajustar e explicar as órbitas peculiares dos objetos no cinturão de Kuiper. Além disso, a existência desse nono planeta implicaria a existência de objetos no cinturão de Kuiper com órbitas perpendiculares ao plano da órbita dos planetas, que foram efetivamente descobertos nos últimos 3 anos.

Para colocar a cereja no topo do bolo, uma equipe francesa, chefiada por Agnès Fienga, anunciou essa semana [5] que modelos computacionais para cálculos de efemérides celestes usando os dados precisos da missão Cassini validam a existência do nono planeta. A precisão dos ajustes dos dados vindos da sonda Cassini restringem a posição do nono planeta em sua órbita.

A temporada de caça ao nono planeta está aberta! O Sistema Solar pode voltar a ter 9 planetas e nossa vizinhança planetária fica cada vez mais interessante!

[1] Crédito da imagem: Caltech/R. Hurt (IPAC) [Diagram created using WorldWide Telescope]. URL:
https://www.caltech.edu/news/caltech-researchers-find-evidence-real-ninth-planet-49523.

[2] IAU. Definition of a Planet in the Solar System. Resolution B5. URL: https://www.iau.org/static/resolutions/Resolution_GA26-5-6.pdf.

[3] K Batygin and ME Brown. Evidence for a distant giant planet in the solar system. The Astronomical Journal 151, 22 (2016).

[4] Caltech. Sedna: The coldest most distant place known in the solar system. URL: http://web.gps.caltech.edu/~mbrown/sedna/.

[5] A Frienga et al. Constraints on the location of a possible 9th planet derived from the Cassini data. A&A 587, L8 (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Mais evidências para a existência do Nono Planeta no Sistema Solar. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/02/mais-evidencias-para-a-existencia-do-nono-planeta-no-sistema-solar/. Publicado em 28 de fevereiro (2016).

Artigos de Marcelo M. Guimarães     Home