Tábata Bergonci
24/03/2016

Aedes aegypti. [1]
Aedes aegypti. [1]
O mundo todo está preocupado com a zika, uma doença viral que já atinge 33 países. Com evidências vindas de vários estudos, há uma correlação forte entre zika em gestantes e o grande aumento nos casos de microcefalia em recém-nascidos. Uma vacina pode ainda demorar muito tempo para ser viabilizada, pois, após o desenvolvimento desta, ainda são necessários testes pré-clínicos e clínicos, processo que pode levar de 10 a 15 anos! Por conta disso, governos vêm investindo também em políticas de educação pública e no controle do mosquito vetor, o nosso conhecido Aedes aegypti, também vetor para dengue e febre chikungunya. Mas nós sabemos: o mosquito mudou e, em poucos anos, passou a aumentar a distância de voo e a se reproduzir também em água suja. Os cuidados de outrora já não são suficientes.

Na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, podemos encontrar uma esperança de amenizar o problema. Em abril de 2015, a cidade aprovou a liberação de mosquitos Aedes transgênicos em dois bairros da cidade. Após a liberação de milhões (isso mesmo!) de mosquitos, a população de larvas no ambiente foi reduzida em 82%, quando comparado à população de larvas de bairros sem a presença do mosquito transgênico.

Mas que mosquito transgênico é esse? O nome dele é OX513A. Eles são mosquitos machos que carregam genes cuja expressão é inibida pela presença do antibiótico tetraciclina no organismo. Quando o antibiótico não está presente, os genes são expressos e causam a morte dos mosquitos [2]. Esses machos nascem no laboratório e só sobrevivem porque quando estão em fase larval, no início do desenvolvimento, o antibiótico é colocado em sua dieta. Quando adultos, eles são soltos no ambiente e têm cerca de um dia de vida para procurarem fêmeas selvagens (não transgênicas) e acasalarem. As larvas filhas desses machos (que, diferente do laboratório, não terão antibiótico na dieta) morrem antes de chegar à fase adulta.

Porque os machos transgênicos competem pelas fêmeas com os machos normais, a redução na população do mosquito pode levar um tempo. Porém, como o ciclo de vida do Aedes é curto, em questão de poucos meses conseguimos ver bons resultados. A diminuição de mais de 80% na população do mosquito em Piracicaba ocorreu em cerca de seis meses!

Porém, tudo que envolve o tema “organismo geneticamente modificado” acaba causando polêmica. A prefeitura de Piracicaba já voltou atrás na decisão de liberar os mosquitos transgênicos mais de uma vez. Para os mais preocupados com picadas transgênicas, uma informação: apenas machos são soltos no ambiente e estes se alimentam de néctar!

Apesar de o mosquito transgênico parecer muito promissor, ainda não há um estudo sobre custo-benefício da “fabricação” e soltura dos insetos numa escala maior. Nesse tipo de estudo, há de se levar em conta o custo de produção e serviço das empresas privadas responsáveis pelo mosquito, assim como o impacto dessas medidas nos custos de saúde pública. [3]

[1] Crédito da imagem: Stephen Ausmus (USDA on Flick) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/usdagov/8412923886.

[2] DD Thomas et al. Insect population control using a dominant, repressible, lethal genetic system. Science 287, 2474 (2000).

[3] Artigos relacionados: Vacina experimental contra dengue 100% eficaz e E se a “zika” continuar? Há cura para a microcefalia?.

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Mosquitos transgênicos trazem esperança para o controle de doenças…. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/03/mosquitos-transgenicos-trazem-esperanca-para-o-controle-de-doencas/. Publicado em 24 de março (2016).

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