Marcelo M. Guimaraes
24/04/2016
Do auge dos seus 26 anos, o telescópio espacial Hubble nos mostra que ainda é um dos experimentos científicos mais bem-sucedidos da nossa era. Utilizando a Wide Field Camera 3 um grupo de astrônomos liderados por Pascal Oesch, da Universidade de Yale, conseguiu um feito que se considerava impossível para o Hubble e se esperava ser atingido apenas pelo seu sucessor, o James Webb Space Telescope (JWST). Em pleno ano olímpico, eles não quiseram esperar a abertura oficial dos jogos RIO 2016 e conseguiram quebrar o recorde de distância para um objeto celeste, observando uma galáxia com desvio para o vermelho de 11,1 (z = 11,1), o que a coloca a uma distância de aproximadamente 13,4 bilhões de anos-luz [2]. O recorde anterior pertencia à galáxia EGSY8p7 com z = 8,68.
Batizada de GN-z11, essa galáxia parece ter existido no início de uma era que conhecemos por Era da Reionização, apenas 400 milhões de anos depois do Big Bang, quando o Universo tinha apenas 3% da sua idade atual. Usando observações do telescópio espacial Spitzer, em conjunto com dados do Hubble, foi possível estimar que GN-z11 é uma galáxia 25 vezes menor que a Via Láctea e tem apenas 1% da massa da Via Láctea em forma de estrelas. Porém, sua taxa de formação de estrelas é altíssima, 20 vezes maior do que a da Via Láctea hoje, convertendo cerca de 24 massas solares de gás em estrelas por ano.
Os observacionais fizeram a sua parte e levaram o Hubble ao seu limite de detecção. Agora os teóricos precisam ajustar seus modelos, já que a existência de uma galáxia desse porte e brilho não era prevista para uma época tão próxima ao Big Bang. É com grande expectativa que aguardamos o lançamento, previsto para 2018, do JWST. Seremos capazes de ver mais longe, entender mais profundamente a origem do Universo.
[1] Crédito da imagem: NASA, ESA, and A. Feild (STScI) / Creative Commons.
[2] PA Oesch et al. A Remarkably Luminous Galaxy at z = 11.1 Measured with Hubble Space Telescope Grism spectroscopy. The Astrophysical Journal 819, 129 (2016).
Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Em uma galáxia, muito, muito distante. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/04/em-uma-galaxia-muito-muito-distante/. Publicado em 24 de abril (2016).
Parabéns. Como sempre consigo e claro nas suas publicações.
Nunca entendi como poderia chegar à Terra a radiação de um evento que ocorreu num tempo tão distante. Se neste período a extensão do universo era muito menor do que é hoje, já que está em expansão desde o Big Bang, presume-se que neste tempo a massa que originou nossa galáxia e a massa destes objetos observados pelo Hubble, estiveram mais próximos. Sendo assim, como a massa que nos originou poderia ter se afastado da destes corpos mais rapidamente do que a luz que estamos recebendo neste momento?
Leonardo, a sua dúvida é ótima e a resposta para ela está no que ficou conhecido como Período Inflacinário, que ocorreu logo no início do Universo. A Teoria Inflacionária é, hoje em dia, um dos pilares para o modelo cosmológico moderno. A Teoria da Relatividade Geral também é importante para ajudar a elucidar problemas sobre a taxa de expansão do Universo e resolve os problemas de se ter corpos se movendo a velocidades muito altas, mas nunca a velocidades maiores que a velocidade da luz.