Marcelo M. Guimaraes
08/05/2016

Imagem obtida em 2014 pela Mars Reconnaissance Orbiter da região Coprates Chasma em Marte. [1]
Imagem obtida em 2014 pela Mars Reconnaissance Orbiter da região Coprates Chasma em Marte. [1]
A foto que ilustra essa matéria é da região chamada Coprates Chasma, em Marte. Foi obtida pela missão da NASA chamada Mars Reconnaissance Orbiter em 2014 e mostrou que água líquida ainda esculpe a superfície de Marte. As faixas escuras na imagem são sazonais e são formadas pelo derretimento de gelo de água salgada sob a superfície marciana, durante a primavera e o verão. Entretanto, um problema ainda restava para ser explicado. Como provocar mudanças na superfície de Marte grandes o suficiente para serem fotografadas pelos satélites em órbita, se a quantidade de água é muito pequena e corre muito lentamente pela superfície?

O problema da água líquida em Marte, mesmo nas temperaturas muito baixas do verão, foi solucionado pela alta salinidade da água, que portanto congela a temperaturas mais baixas. Mas a formação de manchas e a erosão da superfície em extensões tão grandes permaneceu um mistério até recentemente. Um estudo [2] publicado na Nature Geoscience, no dia 2 de Maio, mostrou como é possível formar essas estruturas na superfície marciana.

Os pesquisadores recriaram em laboratório as condições de pressão e temperatura da superfície de Marte e colocaram um bloco de gelo para derreter em um plano inclinado coberto por sedimentos, o mesmo processo foi repetido para condições de pressão e temperatura na Terra. Os experimentos mostraram que nas condições de pressão de Marte (entre 5 e 10 milibares, o que corresponde a cerca de 0,5 a 1% da pressão atmosférica na superfície terrestre), à medida que o bloco de gelo derretia a água escorria e fervia! Essa agitação causada pela fervura da água, enquanto percolava pelo sedimento, provocava instabilidade na superfície e saltitação dos grãos, formando estruturas similares às vistas na superfície de Marte. No experimento controle, com a pressão da Terra, a água apenas escorria sem formar nenhuma estrutura.

Mesmo nas baixas temperaturas marcianas, quando observamos o diagrama de Pressão-Temperatura da água, vemos que ela se encontra na fase de vapor ou gelo, já que abaixo de 6,1 milibares a água pura não pode ser encontrada na fase líquida [3]. Consequentemente, quando as estações quentes começam em Marte, o gelo derrete, a água começa a escorrer e a ferver pelas encostas, criando incríveis paisagens.

[1] Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech/Univ. of Arizona.

[2] M Massé et al. Transport processes induced by metastable boiling water under Martian surface conditions. Nature Geoscience 9, 425 (2016).

[3] NASA. Making a splash on Mars. Disponível em http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2000/ast29jun_1m/. Acesso: 07 de maio (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Água líquida em Marte? Sim! Mas fervendo! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/05/agua-liquida-em-marte-sim-mas-fervendo/. Publicado em 08 de maio (2016).

Artigos de Marcelo M. Guimarães     Home