Tábata Bergonci
10/08/2016

[1]
[1]
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão afeta mais de 350 milhões de pessoas no mundo inteiro. Projeções levam a OMS a estimar que em 2030 ela seja a doença mais comum do mundo. Essa estimativa fez com que a OMS criasse um vídeo motivador mostrando formas de como lidar com a doença, tanto para aqueles que sofrem com ela, quanto para quem convive com pessoas depressivas (veja o vídeo aqui). Sabemos que a predisposição a desenvolver depressão é, em alguma proporção, hereditária. A identificação de regiões do DNA contendo genes relacionados ao transtorno depressivo não tinha tido sucesso até o momento. Agora, um estudo comandado pela pesquisadora Ashley Winslow encontrou 15 regiões do genoma humano associadas à depressão [2].

A pesquisa buscou os genomas em uma empresa chamada 23andMe, que tem sede na Califórnia e funciona fornecendo testes genéticos particulares, mas também disponibiliza o material coletado para estudos científicos. O genoma de 75.607 indivíduos diagnosticados com depressão e 231.747 sem histórico para a doença foram avaliados através de meta-análise. A ideia era encontrar variações (mutações) na sequência de DNA que indicassem quais genes eram “diferentes” nas pessoas com depressão. E eles encontraram muitos!

Todos os genes com modificações significativas exclusivos dos depressivos são expressos no sistema nervoso central. Muitos desses genes têm função na regulação de outros genes que controlam o desenvolvimento do cérebro. Essa descoberta nos mostra algo importante: a predisposição à depressão tem um componente genético e está intrinsicamente relacionada ao desenvolvimento cerebral.

O estudo traz outras descobertas interessantes: a depressão não está ligada ao sexo, o que quer dizer que os genes identificados não se encontram nos cromossomos sexuais. Um mapa de fenótipos (características) de risco também pode ser traçado: a pesquisa conseguiu correlacionar algumas características dos indivíduos com a ocorrência das “variações depressivas” dos genes. Ansiedade, ataques de pânico, insônia, sobrepeso ou obesidade são características fortemente associadas aos genomas depressivos.

Muitos dos genes encontrados controlam mais de uma característica – o que em genética chamamos de pleiotropia. Por exemplo, os genes associados à depressão também estão relacionados a outros transtornos psiquiátricos, principalmente esquizofrenia e neuroticismo. Dois genes merecem destaque: MEF2C, que já foi previamente relacionado à epilepsia, esquizofrenia, Alzheimer e incapacidade intelectual [3, 4, 5]; e TMEM161B, que é mais expresso quando ratos são isolados socialmente em um experimento modelo utilizado para pesquisas relacionadas à depressão [6].

Os resultados dessa pesquisa ajudam na incessante busca no entendimento desse transtorno cada vez mais comum na sociedade contemporânea. Se conseguirmos neutralizar (ou pelo menos diminuir) a interferência dos fatores genéticos envolvidos nos transtornos depressivos, poderemos focar em métodos para tratar os fatores ambientais e psicológicos. Nesse sentido, a psicoterapia parece avançar em passos lentos, mas certeiros. As pesquisas em neurociência parecem corroborar a eficácia de métodos utilizados por certas terapias, um exemplo é o efeito positivo causado no cérebro quando relembramos momentos felizes que passamos (um texto muito interessante sobre o assunto aqui!).

As predisposições genéticas não podem ser evitadas e muitos estudos ainda precisam ser realizados para que possamos avançar nessa questão. Por enquanto, se todos nós vamos passar por isso ou conviver em algum momento de nossas vidas com alguém depressivo, aqui vai meu conselho de cientista: manter a mente tranquila e aproveitar o dia, cuidar de um animal abandonado e abraçar um amigo, assistir o vídeo lá de cima e aprender com nossos cachorros…

[1] Crédito da imagem: Flavia (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/mistressf/1230899200/.

[2] CL Hyde et al. Identification of 15 genetic loci associated with risk of major depression in individuals of European descent. Nature Genetics 48, 1031 (2016).

[3] AR Paciorkowski et al. MEF2C haploinsufficiency features consistent hyperkinesis, variable epilepsy, and has a role in dorsal and ventral neuronal developmental pathways. Neurogenetics 14, 99 (2013).

[4] Cross-Disorder Group of Psychiatric Genomics Consortium. Identification of risk loci with shared effects on five major psychiatric disorders: a genome-wide analysis. Lancet 381, 1371 (2013).

[5] N Le Meur et al. MEF2C haploinsufficiency caused by either microdeletion of the 5q14.3 region or mutation is responsible for severe mental retardation with stereotypic movements, epilepsy and/or cerebral malformations. J Med Genetics 47, 22 (2010).

[6] MB Wilkinson et al. Imipramine treatment and resiliency exhibit similar chromatin regulation in the mouse nucleus accumbens in depression models. J Neurosci 29, 7820 (2009).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. A genética da depressão: novo estudo identifica regiões do genoma associadas ao transtorno. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/a-genetica-da-depressao-novo-estudo-identifica-regioes-do-genoma-associadas-ao-transtorno/. Publicado em 10 de agosto (2016).

Artigos de Tábata Bergonci     Home