Claudio Macedo
23/08/2016
No trabalho, foram utilizados mais de 100 milhões de bactérias magnetotáticas (Magnetococcus marinus) [3,4] para transportar nanolipossomas [5], carregados com medicamento, que se moviam diretamente entre o ponto de aplicação e as áreas tumorais pobres em oxigênio (regiões hipóxicas). Essas regiões hipóxicas, criadas pelo consumo elevado de oxigênio das células mais ativas do tumor, são conhecidas por serem resistentes à maioria das terapias, incluindo radioterapia.
Para se deslocar, as bactérias utilizadas na pesquisa contam com dois sistemas naturais de navegação: uma cadeia de nanopartículas magnéticas, que permite que elas se movam em direção a um campo magnético controlado por computador, e um sensor de medição da concentração de oxigênio, que detecta as regiões hipóxicas do tumor.
No artigo publicado, os autores relatam o sucesso do novo tratamento em tumores colorretais de ratos, quando cerca de 55% das bactérias utilizadas penetraram nas regiões hipóxidas dos tumores.
Essa forma inovadora de injetar a medicação garante a focalização ideal do tumor e evita comprometer a integridade de órgãos e tecidos circundantes saudáveis. Como resultado, a dosagem de fármaco, que é altamente tóxico no organismo humano, pode ser significativamente reduzida. Assim, a quimioterapia pode fazer amplo uso destes nanotransportadores naturais para mover drogas diretamente para a área alvo, eliminando os efeitos secundários nocivos e aumentando a eficácia terapêutica.
É possível prever que essa nova abordagem de tratamento de câncer terá importante impacto na criação de novos métodos terapêuticos, contribuindo, inclusive, para o desenvolvimento de nanorrobôs que possam realizar essa tarefa, agora feita por bactérias.
[1] Crédito da imagem: NanoRobotics Laboratory, Polytechnique Montréal. URL: http://www.polymtl.ca/salle-de-presse/en/newsreleases/legions-nanorobots-target-cancerous-tumours-precision.
[2] O Felfoul et al. Magneto-aerotactic bacteria deliver drug-containing nanoliposomes to tumour hypoxic regions. Nature Nanotechnology 11, 941 (2016).
[3] Wikipédia. Bactéria magnetotática. URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bact%C3%A9ria_magnetot%C3%A1tica. Acesso em 22 de agosto (2016).
[4] Wikipedia. Magnetococcus marinus. URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Magnetococcus_marinus. Acesso em 22 de agosto (2016).
[5] MR Mozafari. Nanoliposomes: preparation and analysis. Methods Mol Biol 605, 29 (2010).
Como citar este artigo: Claudio Macedo. Combatendo câncer com bactérias magnéticas. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/combatendo-cancer-com-bacterias-magneticas/. Publicado em 23 de agosto (2016).