Marcelo M. Guimarães
21/08/2016

Zonas habitáveis para o Sol em duas idades distintas. No lado esquerdo vemos a zona habitável atual e no lado direito como ela vai evoluir quando o Sol virar uma gigante vermelha daqui alguns bilhões de anos. [1]
Zonas habitáveis para o Sol em duas idades distintas. No lado esquerdo vemos a zona habitável atual e no lado direito como ela vai evoluir quando o Sol virar uma gigante vermelha daqui alguns bilhões de anos. [1]
Nos últimos anos descobrimos milhares de exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar). Dentre esses milhares de exoplanetas, poucas centenas estão localizados em órbitas dentro de uma região que chamamos de zona habitável. Planetas na zona habitável possuem temperatura superficial capaz de sustentar água no estado líquido, ou seja, são planetas nem muito quentes e nem muito frios. No Sistema Solar, Vênus está na borda interna da zona habitável e portanto mais próximo do Sol, o que o torna muito quente. Marte está na borda externa da zona habitável e portanto é muito frio, embora tenhamos evidências atualmente que ainda existe água líquida sob a superfície de Marte.

Em um artigo recente, Ramses Ramirez e Lisa Kaltenegger calcularam como a posição da zona habitável muda ao longo da vida de uma estrela [2]. Há 4,5 bilhões de anos atrás o Sol era mais quente e mais luminoso, a zona habitável era diferente e Marte estava em uma posição adequada para ter água líquida em sua superfície. Hoje a Terra está confortavelmente localizada no centro da zona habitável, mas daqui a 4,5 bilhões de anos, quando o Sol se tornar uma gigante vermelha e sua atmosfera ultrapassar as órbitas de Mercúrio e Vênus, a zona habitável vai se deslocar, tornando nosso planeta e Marte corpos rochosos desprovidos de atmosfera e vida.

Mas parece que além disso tudo, não basta um planeta estar na zona habitável para ter condições de sustentar ou desenvolver vida. Em outro estudo, Jun Korenaga mostra que é importante o planeta começar com a temperatura interna correta [3]. Modelos antigos supunham que um planeta rochoso seria capaz de auto-regular sua temperatura interna através da convecção do manto. Entretanto resultados recentes indicam que esse mecanismo de auto-regulação não existe em planetas do tipo da Terra. Os modelos atuais de formação planetária indicam que planetas rochosos se forma por múltiplos impactos de corpos proto-planetários gigantes, o que resulta em uma grande diversidade de tamanhos e temperatura interna. Segundo Korenaga, os continentes e oceanos da Terra não existiriam se a sua temperatura interna inicial não estivesse em um certo intervalo de valores. A Terra portanto não pode ter começado nem muito quente e nem muito fria.

A capacidade de sustentar ou desenvolver vida depende não somente da proximidade da estrela, mas também do histórico de formação do planeta. Todas essas informações serão muito importantes num futuro próximo. Há informações de que um grande anúncio sobre a descoberta de um exoplaneta parecido com a Terra será feito no final de Agosto. Fiquem antenados, assim que o anúncio for feito faremos a cobertura aqui no Saense.

[1] Crédito da imagem: Cornell University. URL: https://cornell.app.box.com/v/habitablezones/1/7914342293/65288455553/1.

[2] RM Ramirez and L Kaltenegger. Habitable Zones of post-main sequence stars. The Astrophysical Journal 823, 6 (2016).

[3] J Korenaga. Can mantle convection be self-regulated? Science Advances 2, e1601168 (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. O que torna um planeta apto a desenvolver ou sustentar vida? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/o-que-torna-um-planeta-apto-a-desenvolver-ou-sustentar-vida/. Publicado em 21 de agosto (2016).

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