Tábata Bergonci
19/10/2016
Biólogos da Universidade de Vanderbilt, nos EUA, descobriram que há DNA de aranhas viúvas-negras no genoma de um vírus [2]. Esse vírus, chamado de phage WO, ataca apenas bactérias do gênero Wolbachia, que por sua vez infecta diversas espécies de artrópodes. O que isso tem de importante para a ciência? Essa é a primeira vez que se encontrou um vírus carregando DNA animal. A parte do DNA encontrada no genoma do vírus é exatamente a que está relacionada à toxina da aranha e é o maior gene já encontrado em vírus. Especificamente, esse gene codifica proteases, que são proteínas essenciais para quebrar outras proteínas, como as da toxina das aranhas. Até hoje, essas proteases só tinham sido encontradas em eucariotos (células com núcleo verdadeiro), e isso pode significar uma transferência lateral de genes entre vírus e animais.
Você pode pensar que essa descoberta é importante apenas para geneticistas, mas não! As bactérias Wolbachia são conhecidas por infectarem mosquitos, inclusive o Aedes aegypti. Quando esses mosquitos são infectados, os vírus da dengue e da Zika não conseguem mais se reproduzir. Mosquitos infectados com Wolbachia já foram espalhados para teste de eficácia no Brasil, Austrália, Colômbia, Indonésia e Vietnã e os resultados foram muito bons [3, 4]! Essa poderia ser uma alternativa ecologicamente correta, juntamente com a já empregada no Brasil, o projeto Aedes do Bem (veja aqui).
E o que o phage WO tem a ver com tudo isso? Pois bem, os cientistas sequenciaram todo o genoma do vírus e encontraram as regiões responsáveis por introduzirem o genoma viral no DNA da bactéria, que é o mecanismo principal da infecção. Com a engenharia genética poderíamos utilizar o vírus para inserir os genes desejados na Wolbachia. Por exemplo, genes que aumentassem a eficácia da bactéria contra os vírus da dengue e da Zika, ou até mesmo outros genes que pudessem combater pragas agrícolas. Legal, né!?
[1] Crédito da imagem: Caroline Davis2010 (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/53416677@N08/4972914961/.
[2] SR Bordenstein and SR Bordenstein. Eukaryotic association module in phage WO genomes from Wolbachia. Nature Communications 7, 13155 (2016).
[3] YH Ye et al. Wolbachia Reduces the Transmission Potential of Dengue-Infected Aedes aegypti. PLoS Negl Trop Dis 9, e0003894 (2015).
[4] MT Aliota et al. The wMel strain of Wolbachia Reduces Transmission of Zika virus by Aedes aegypti. Scientific Reports 6, 28792 (2016).
Como citar este artigo: Tábata Bergonci. DNA de viúva-negra no genoma de vírus (e o que isso tem a ver com a dengue e a Zika). Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/10/dna-de-viuva-negra-no-genoma-de-virus-e-o-que-isso-tem-haver-com-a-dengue-e-a-zika/. Publicado em 19 de outubro (2016).