Tábata Bergonci
05/10/2016

A preferência por comidas gordurosas é genética. [1]
A preferência por comidas gordurosas é genética. [1]
Você realmente é o que você come!… É o que um novo estudo acaba de comprovar [2]. Existem pessoas que são geneticamente predispostas a preferir os alimentos gordurosos. Se identificou? O culpado por esse comportamento é o gene MC4R, que codifica uma proteína de mesmo nome que, já se sabia, está relacionada à obesidade [3].

No novo estudo, os cientistas utilizaram voluntários de três tipos: magros, obesos e pessoas com uma mutação específica no gene MC4R. Os pesquisadores fizeram um teste cego com voluntários: três opções de refeições com mesmo gosto e visual, mas com teor de gordura baixo (20%), médio (40%) ou alto (60%). Os participantes podiam comer tudo o que estava sendo oferecido e na quantidade que quisessem. Os resultados mostraram que, embora os três grupos comessem quantidades semelhantes, as pessoas com o gene MC4R mutante comeram o dobro de refeições gordurosas que as pessoas magras, e 65% mais que as pessoas obesas.

Em um segundo teste, os pesquisadores disponibilizaram uma sobremesa com teor de açúcar baixo (8%), médio (26%) e alto (54%), mas com teor de gordura fixo. Magros e obesos disseram preferir a sobremesa com alto teor de açúcar, enquanto o grupo com MC4R mutante disseram gostar menos dessa opção. Os resultados apontam que, mesmo se você controlar a aparência e o sabor dos alimentos, o nosso cérebro pode detectar o teor dos nutrientes.

O estudo é importante porque mostra uma via de sinalização no cérebro específica para modular a nossa preferência alimentar. MC4R é parte de um sistema que evoluiu ajudando-nos a sobreviver durante a fome, buscando alimentos ricos em gordura, em detrimento de alimentos com alto teor de açúcares, que oferecem um retorno de energia mais baixo. Nas pessoas que tem essa mutação, a via de sinalização é corrompida e funciona como se elas estivessem em permanente reação de fome, buscando comer constantemente não qualquer alimento, mas especificamente comida gordurosa.

Mas, calma! Essa mutação é relativamente rara na população (cerca de 1%), sendo que diversos outros fatores estão ligados aos distúrbios alimentares e obesidade. Portanto, a genética aqui não pode ser a total responsável pelo ganho de peso e compulsão alimentar. A culpa é da genética? Pode até ser que sim, mas isso não é desculpa para pararmos a constante busca por uma alimentação mais saudável.

[1] Crédito da imagem: ebruli (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/mrbling/42711932/.

[2] AA van der Klaauw et al. Divergent effects of central melanocortin signalling on fat and sucrose preference in humans. Nature Communications 7, 13055 (2016).

[3] W Fan et al. Role of melanocortinergic neurons in feeding and the agouti obesity syndrome. Nature 385, 165 (1997).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Não consegue resistir a um hambúrguer gorduroso ou a uma bela porção frita? A culpa é dos seus genes. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/10/nao-consegue-resistir-a-um-hamburguer-gorduroso-ou-a-uma-bela-porcao-frita-a-culpa-e-dos-seus-genes/. Publicado em 05 de outubro (2016).

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