Matheus Macedo-Lima
18/01/2017

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Você provavelmente já imaginou como faria para sobreviver a um “apocalipse zumbi”, não é? Não precisa ter vergonha de admitir. Até o Pentágono estadunidense elaborou um plano bem detalhado (mas não 100% sério) de proteção da “santidade da vida humana” na ocasião de um apocalipse zumbi.

Mas o que é um zumbi? Crença em ressurreição e teorias “virológicas” à parte, os filmes e seriados tendem a concordar que zumbis apresentam um comportamento bastante acentuado de caça – coisa que não é tão comum na espécie humana. Com isso em mente, pode ser um pouco assustador saber que cientistas descreveram um circuito no cérebro que, quando ativado, acentua a motivação para a caça em camundongos [2].

O grupo liderado pelo paulista Ivan de Araújo, professor da Universidade de Yale (tem brasileiro em Yale sim!), em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo identificou neurônios na amígdala central do cérebro cuja ativação faz com que camundongos ataquem impiedosamente não somente presas naturais, como grilos, mas também brinquedos em movimento (que lembram “insetos-robôs”) e até pedaços de madeira e tampinhas de garrafa! Esses neurônios se comunicam com duas outras áreas: uma que controla os movimentos dos músculos da mastigação e mordidas (formação reticular) e outra que controla o movimento para perseguição das presas (substância cinzenta periaquedutal).

Para conseguir manipular esse circuito com tamanha precisão, os cientistas utilizaram ferramentas de engenharia genética e vetores virais. Ao ser injetado no cérebro, um dos vírus utilizados nos experimentos infecta neurônios e os faz fabricar uma proteína chamada canal-rodopsina. Neurônios que expressam essa proteína podem ser ativados artificialmente pelos cientistas por meio de lasers após a implantação de fibras-óticas na cabeça do animal – técnica chamada de optogenética. Quando a amígdala central é ativada, o resultado é impressionante – não deixe de ver o vídeo abaixo!

Esse estudo revela um papel antes desconhecido da amígdala central, que era classicamente relacionada aos comportamentos de medo e ansiedade. Os autores mostram que o papel da amígdala central vai além disso, bastava um experimento apropriado (e lasers!) para testá-lo.

Mas não se preocupe (tanto). A ativação desse circuito não aumentou a agressividade contra outros camundongos (característica essencial de zumbis). Além disso, o instinto predatório é característico de camundongos selvagens e foi apenas acentuado pela ativação do circuito neural. Portanto, com essas características não dá para concluir que a ativação da amígdala central completamente “zumbifica” um animal.

Mas não custa nada se precaver e bolar uma estratégia de sobrevivência na eventualidade de um apocalipse zumbi, não é?

[1] Crédito da imagem: Robert Orr (Flickr) / Creative Commons (CC BY-ND 2.0). https://www.flickr.com/photos/27828336@N00/454611040/.

[2] W Han et al. Integrated Control of Predatory Hunting by the Central Nucleus of the Amygdala. Cell 168, 311 (2017).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. A área do cérebro que transforma camundongos em caçadores impiedosos. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/01/a-area-do-cerebro-que-transforma-camundongos-em-cacadores-impiedosos/. Publicado em 18 de janeiro (2017).

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