Matheus Macedo-Lima
13/09/2017

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Antes de começar a ler esse texto, te proponho um desafio: tente lê-lo inteiro sem bocejar.

Bocejar é gostoso, não é? Ao menos quando é hora de dormir… dá uma sensação de que estamos próximos ao sono desejado… às vezes dá até um arrepio!

Talvez não seja tão agradável quando você está sentado na primeira fila de uma aula e tenta esconder do professor o quão pouco você dormiu na noite anterior, ou o quão chata a aula está…

Mas por que bocejamos? E mais, se uma pessoa boceja numa reunião, é provável que a sala inteira logo esteja bocejando. Então, por que bocejos são contagiosos? A ciência tenta responder essas e mais algumas perguntas, pois bocejos parecem ser um enigma da espécie humana… mas espera aí. Outros animais não bocejam?

Primeiro, precisamos de uma definição. A ciência define o bocejo como um reflexo de abertura intensa da mandíbula combinada de inspiração, seguida de um período breve de contração muscular aguda que finaliza com o fechamento passivo da mandíbula, com uma leve expiração. Existem dois tipos de bocejos em humanos: espontâneos e contagiosos [7]. Algum bocejo até aqui?

Então, comecemos pela última pergunta. Todos os filos de vertebrados (até peixes) exibem bocejos espontâneos. Curiosamente, quanto maior o cérebro do animal, mais duradouros são seus bocejos [8]. O que nos leva a crer que deve haver alguma vantagem evolutiva nos bocejos.

Em alguns bichos, eles também são contagiosos. Cachorros, por exemplo, não só se contagiam por outros cachorros, mas também por humanos bocejando [9]. Chimpanzés são mais contagiados por bocejos de indivíduos do mesmo grupo do que de outros grupos [10]. O interessante é que esse bocejo contagioso parece só existir em espécies altamente sociais, o que sugere que pode haver uma relação entre formação de laços sociais e a contagiosidade dos bocejos.

A hipótese mais interessante sobre a função fisiológica dos bocejos é a de aumento da circulação e redução da temperatura do cérebro, que promovem aumento do estado de alerta. Um estudo mostra que se você se forçar a respirar apenas pelo nariz ou resfriar a sua testa com gelo, você consegue evitar bocejos contagiosos, resultados que dão suporte a essa hipótese [11]. Fica a dica.

Ainda sabemos pouco sobre como o cérebro se comporta ou controla os bocejos. Um artigo recente sugere que bocejos contagiosos não podem ser evitados por vontade própria [12]. Os participantes do estudo apesar de terem sido instruídos a evitarem serem contagiados assistindo vídeos de pessoas bocejando, bocejaram tanto quanto quando eram instruídos a bocejarem quando quisessem. Não apenas isso, como inibir os bocejos aumentou a vontade de bocejar relatada pelos participantes!

Um outro achado interessante desse estudo foi o seguinte. Utilizando estimulação magnética transcraniana sobre o córtex motor (área do cérebro que controla movimentos) para mover um músculo da mão, os cientistas mostraram que o quanto mais fácil era mover o músculo da mão de uma pessoa com o ímã sobre o cérebro, mais bocejos contagiosos ela expressava. Em outras palavras, a excitabilidade do seu córtex motor parece influenciar o quão susceptível a um bocejo contagioso você é.

E então, conseguiu completar o desafio? Eu perdi as contas de quantas vezes bocejei pesquisando sobre e escrevendo este artigo!

[1] Crédito da imagem: tind (yawn, Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/tind/6154624677/.

[2] Crédito da imagem: Ianaré Sévi (Alligator mississippiensis yawn, Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-3.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alligator_mississippiensis_yawn.jpg.

[3] Crédito da imagem: Pat Gaines (Almost sleepytime, Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/patgaines/4563728954/.

[4] Crédito da imagem: Max Pixel (Yawn Nature Tiger Yawning Cat Big Animal) / Creative Commons CC0. URL: http://maxpixel.freegreatpicture.com/Yawn-Nature-Tiger-Yawning-Cat-Big-Animal-1175010.

[5] Crédito da imagem: Max Pixel (Endangered Species Barbary Ape Cute Yawn) / Creative Commons CC0. URL: http://maxpixel.freegreatpicture.com/Endangered-Species-Barbary-Ape-Cute-Yawn-2271776.

[6] Crédito da imagem: four12 (Tuckered!, Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/four12/5917349791/.

[7] J Barbizet. Yawning.  J Neurol Neurosurg Psychiatry 21, 203 (1958).

[8] AC Gallup et al. Yawn duration predicts brain weight and cortical neuron number in mammals. Biol Lett 10.1098/rsbl.2016.0545 (2016).

[9] RM Joly-Mascheroni et al. Dogs catch human yawns. Biol Lett 10.1098/rsbl.2008.0333 (2008).

[10] MW Campbell and FBM de Waal. Ingroup-outgroup bias in contagious yawning by chimpanzees supports link to empathy. PLoS One 10.1371/journal.pone.0018283 (2011).

[11] AC Gallup and GG Gallup Jr. Yawning as a brain cooling mechanism: nasal breathing and forehead cooling diminsh the incidence of contagious yawning. Evol Psychol 5, 92 (2007).

[12] BJ Brown et al. A Neural Basis for Contagious Yawning. Curr Biol 10.1016/j.cub.2017.07.062 (2017).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Tudo o que você precisa (ou não) saber sobre bocejos. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/09/tudo-o-que-voce-precisa-ou-nao-saber-sobre-bocejos/. Publicado em 13 de setembro (2017).

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