Carlos Anselmo Lima
23/02/2018

Mulher fazendo mamografia da mama esquerda. [1]
Tendo em vista as melhorias recentes do prognóstico do câncer de mama, se como resultado do diagnóstico precoce, mas também decorrente de melhores formas de tratamento hoje empregadas; e, também, com as preocupações decorrentes do sobrediagnóstico e do sobretratamento; se fazem necessárias reavaliações constantes nas políticas de saúde. A utilização das melhores técnicas de rastreamento, principalmente utilizando-se a mamografia, deve ser revista, baseada em estudos recentes. Essas técnicas gerais são empregadas pela a população comum, sendo que para o rastreamento de mulheres de alto risco, é necessário a avaliação minuciosa do médico para a definição da melhor estratégia de rastreamento.

O câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente nas mulheres, excluindo o câncer de pele, a primeira causa de mortes por câncer nos países em desenvolvimento e a segunda nos países desenvolvidos [2]. Apresenta distribuição geográfica diferente, tendo alta incidência nos países desenvolvidos, e de baixa a média incidência nos países em desenvolvimento.

De acordo com o Instituo Nacional de câncer, as taxas de incidência ajustadas por idade estimadas para 2018 em Sergipe são 51/100.000 mulheres para o estado como um todo e 68/100.000 para a capital Aracaju, sendo essas taxas consideradas como média incidência [3].

O rastreamento do câncer de mama tem o objetivo de reduzir a mortalidade associada ao câncer de mama e a morbidade associada aos estádios avançados da doença através do diagnóstico precoce em mulheres assintomáticas. O melhor efeito seria fornecer um rápido acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento. Considerando que o objetivo principal seja fornecer uma certificação da qualidade de vida global, é necessária a manutenção do equilíbrio entre as vantagens e os efeitos indesejáveis. Dessa forma é necessário enfatizar que em torno de 30% dos tumores de mama diagnosticados por rastreamento são indolentes, isto é, não evoluem, evoluem lentamente ou até regridem; e que a maioria dos tumores diagnosticados em mulheres jovens é no intervalo entre os períodos de rastreamento [4]; torna-se imperativo, a definição adequada dos exames de rastreamento.

Os métodos de rastreamento hoje empregados apresentam as seguintes avaliações [5]:
– São suficientes para reduzir a mortalidade por câncer de mama nas mulheres de 50 a 74 anos;
– Tem ação limitada para reduzir a mortalidade por câncer de mama em mulheres de 40 a 49 anos;
– Levam ao sobrediagnóstico de parte dos cânceres de mama diagnosticados;
– Induzem consequências psicológicas negativas a curto prazo nos casos de resultados falsos-positivos;
– Apresentam benefício para as mulheres de 50 a 69 submetidas a rastreamento mamográfico organizado;
– Pode ter custo-benefício para as mulheres de 50 a 69 em áreas de alta incidência de câncer de mama;
– Nos países em desenvolvimento, o custo-benefício é questionável;
– O uso associado da ultrassonografia, embora aumente a taxa de detecção do câncer de mama, tem avaliação insuficiente para reduzir a mortalidade por câncer de mama e a taxa de câncer de intervalo; e aumenta a proporção de resultados falso-positivos;
– Não há recomendação para a utilização de mamografia com tomo síntese e ressonância magnética para o rastreamento da população comum;
– O exame clínico das mamas e o autoexame diminuem o diagnóstico dos estádios mais avançados.

Portanto, o método de rastreamento do câncer de mama em mulheres da população normal é a mamografia de alta resolução, seja para a forma organizada, seja para a forma oportunista de rastreamento. Os estudos populacionais realizados não permitiram observar benefícios em mulheres de 40 a 49 anos, e países da Europa e também o Canada já apresentam recomendação para rastreamento a partir dos 50 anos [6,7]. Em 2017, a American Cancer Society alterou as recomendações para início a partir dos 45 anos, lá uma área de alta incidência do câncer de mama [8].

Para diminuir a detecção de lesões indolentes que seriam submetidas a sobretratamento, existem recomendações para aumentar o período entre rastreamento e diminuir a indicação de biópsias nas lesões de baixa suspeição.

As mulheres de alto risco, com antecedentes familiares, com alterações genéticas conhecidas, podem se beneficiar de vigilância reforçada, com combinação de métodos, começando em idade mais precoce e intervalos mais curtos.

Pelo exposto, a definição de políticas de saúde para o estado de Sergipe, com áreas de baixa e de média incidência do câncer de mama, poderá ser estabelecida utilizando a estratégia de rastreamento recomendada pelo Instituto Nacional de Câncer/Ministério da Saúde [9], que consta do seguinte:
– Para as mulheres de 50 a 69 anos, recomendar mamografia e exame clínico das mamas a cada 2 anos (mas também assegurar que as mulheres a partir de 70 anos também possam realizar essa prática de rastreamento);
– Para as mulheres de 40 a 49 anos, recomendar o exame clínico das mamas e mamografia diagnóstica, caso apresente alguma alteração suspeita;
– Para as mulheres de alto risco para câncer de mama, recomendar mamografia e exame clínico anuais a partir dos 35 anos ou até antes, caso haja recomendação médica.

[1] Crédito da imagem: Bill Branson (National Cancer Institute). Public domain via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Diagnosis_-_Mammography.jpg.

[2] F Bray et al. Cancer Incidence in Five Continents, Vol. XI (Electronic Version). Lyon: IARC. http://ci5.iarc.fr (2017).

[3] INCA. Incidência de Câncer no Brasil – Estimativa 2018. http://www.inca.gov.br/estimativa/2018/. Acesso em 16 de fevereiro (2018).

[4] JR Bhatt, L Klotz. Overtreatment in cancer – is it a problem? Expert Opin Pharmacother 10.1517/14656566.2016.1115481 (2016).

[5] B Lauby-Secretan et al. Breast-Cancer Screening — Viewpoint of the IARC Working Group. N Engl J Med 10.1056/NEJMsr1504363 (2015).

[6] P Autier et al. Effectiveness of and overdiagnosis from mammography screening in the Netherlands: population based study. BMJ 10.1136/bmj.j5224 (2017).

[7] A Coldman et al. Pan-Canadian Study of Mammography Screening and Mortality from Breast Cancer. J Natl Cancer Inst 10.1093/jnci/dju261 (2014).

[8] RA Smith et al. Cancer screening in the United States, 2017: A review of current American Cancer Society guidelines and current issues in cancer screening. CA Cancer J Clin 10.3322/caac.21392 (2017).

[9] INCA. Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil. http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/livro_deteccao_precoce_final.pdf (2015).

Como citar este artigo: Carlos Anselmo Lima. Como fazer a detecção do câncer de mama! Saense. http://www.saense.com.br/2018/02/como-fazer-a-deteccao-do-cancer-de-mama/. Publicado em 23 de fevereiro (2018).

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