IPT
15/06/2018

Favela de Vila Prudente. [1]
Aumentar a ventilação natural é uma das estratégias para levar conforto ambiental às favelas e aumentar a qualidade de vida de seus moradores: esta é a conclusão de uma pesquisa feita no Laboratório de Vazão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que tomou a Favela de Vila Prudente, localizada na zona leste da capital paulista, como estudo de caso e comparou sua situação atual com uma proposta urbanisticamente planejada.

A Favela de Vila Prudente foi a primeira comunidade estabelecida na cidade de São Paulo, na década de 1940, e está localizada no entorno das avenidas do Estado e Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello. Dados divulgados na edição de maio de 2003 da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, no artigo ‘Favelas no Município de São Paulo: Estimativas de População para os Anos de 1991, 1996 e 2000’, apontaram que sua área de ocupação era de 81.193 m², com 9.389 moradores em 2.355 domicílios.

“Pelo fato de se tratar de um assentamento precário com alta densidade populacional, com 0,116 habitantes por metro quadrado, e situado em uma malha viária de tráfego intenso de automóveis e caminhões, a qualidade do ar no entorno da área é fortemente afetada, com a formação de pontos nos quais se encontram altas concentrações de materiais poluentes”, explica Jordana Leticia Löw, ex-estagiária do laboratório e aluna da Fatec – SP do curso Construção Civil – Edifícios, que realizou o estudo sob a coordenação do pesquisador Gilder Nader.

O projeto no IPT avaliou tanto a interação do vento com as edificações da favela nas condições atuais quanto o modo como iria interagir caso tivesse sido implantado, no mesmo local, um modelo urbanístico com habitações de interesse social (HIS). Uma análise comparativa foi realizada utilizando o software Envi-met 3.1, que permite a simulação de modelos tridimensionais de microclima urbano: a partir de uma foto aérea, uma seção centralizada da favela foi construída com dimensões de 300 m x 300 m de largura por comprimento. “Inicialmente foi considerada a condição urbanística atual da favela, contendo as edificações e as ruas da seção; em seguida, foi feita a modelagem com a proposta arquitetônica completa”, completa Jordana.

A proposta de ocupação para o espaço considerada no estudo envolveu 50 blocos com 12 metros de altura e 16 apartamentos, suficientes para abrigar a população residente na seção estudada. Foram construídos de modo a melhorar não apenas a ventilação, mas também a insolação e a iluminação – “a disposição dos blocos também considerou a questão da iluminação a partir de dados sobre as horas solares fornecidas pelo software, ou seja, a planta foi dimensionada pensando em quais cômodos ficariam mais tempo expostos à iluminação natural”, explica ela.

Um período de 24 horas foi definido para realizar as simulações de cada caso (situação atual e modelo planejado) e se observar todas as nuances climáticas ocorridas durante o dia e a noite, como os horários de maior aquecimento, ventilação e dispersão de contaminantes, assim como a variação de umidade relativa ao longo do dia. A data de 14 de fevereiro de 2017 foi escolhida como padrão na simulação, por ser um dia de um mês de verão, o que traz habitualmente mais desconforto aos habitantes.

TEMPERATURA E UMIDADE – Os parâmetros climáticos externos modelados no software foram três: temperatura de 28 °C, umidade relativa do ar de 79 % e velocidade do vento de 1,5 metros por segundo, com incidência por sudeste. Estes foram os valores médios característicos do mês de fevereiro, com dados obtidos no site do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A temperatura média adotada no interior das edificações foi de 25 °C.

As comparações entre os dois casos consideraram três horários – 8h00, 15h00 e 21h00 – que foram os horários críticos obtidos nas modelagens. Em relação à vegetação, Jordana planejou a distribuição da grama ao longo da circunvizinhança dos edifícios, e elegeu árvores segundo altura e tipologia de copa, de maneira que favorecessem a permeabilidade do vento em pontos específicos, gerando aumento da evapotranspiração nas cercanias e criando ainda áreas sombreadas.

Para o horário matutino, os resultados indicaram no modelo habitacional proposto uma menor temperatura ao nível do solo, maior umidade relativa (acréscimo de 5,19 %) e maior velocidade do vento, que passou de uma média de 0,12 m/s para 0,25 m/s no interior da favela à altura de 0,8 metro do solo.

A variação entre as simulações foi pouco divergente para as médias de umidade relativa e de temperatura no período vespertino. Destaca-se, porém, que no modelo proposto a velocidade do vento foi maior, ficando em um intervalo de 0,30 m/s a 0,61 m/s – na situação atual da favela, a velocidade do vento está em 0,15 m/s.

Finalmente, à noite, as concentrações de gás carbônico em ambas as simulações se encontraram dentro dos limites aceitos, mas com uma diferença: o nível foi menor no modelo proposto devido à maior distância entre as edificações e à ventilação mais eficiente.

Em resumo, o estudo mostrou que a proposta de urbanização contribuiu com a melhoria da ventilação natural e o aumento de velocidade do ar, o que auxilia no conforto térmico e na dispersão de contaminantes. “Os desdobramentos decorrentes da disposição dos blocos de edifícios, orientados considerando-se o vento sudeste, que é o preferencial da região, e também da arborização demonstraram o impacto positivo do planejamento habitacional pautado no conforto ambiental e na qualidade de vida de pessoas, principalmente em regiões periféricas”, afirma Jordana.

“Este tipo de estudo tem uma grande abrangência, mas em cada situação é necessário fazer um avaliação: por exemplo, a Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo, a Ceagesp, na zona Oeste de São Paulo, deve ser desativada e transferida para outro bairro ou cidade. Existem na região um conjunto habitacional e apartamentos de alto padrão; caso as mudanças ocorram, é preciso que se atenda ao conforto de todos os moradores, daí a necessidade de realizar um estudo de ventilação tanto para as áreas externas quanto para os cômodos de todas as habitações – ou seja, é necessário planejamento urbano para as alterações não prejudicarem a população”, completa Nader.

[1] Crédito da imagem: boneysp, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Favela_da_Vila_Prudente_-_panoramio.jpg.

Como citar esta notícia de inovação: IPT. Comparando ventilação do ar em favela com proposta de modelo planejado. Saense. http://www.saense.com.br/2018/06/comparando-ventilacao-do-ar-em-favela-com-proposta-de-modelo-planejado/. Publicado em 15 de junho (2018).

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