Marco Túlio Chella
26/09/2018

[1]
Segundo o relatório “The State of Food and Agriculture” [2] produzido pela FAO (Food and Agriculture Organization) 80% dos alimentos no mundo são produzidos em pequenas propriedades por famílias que trabalham e gerenciam o processo da produção à comercialização.

Um aspecto que diferencia a agricultura familiar das grandes fazendas e conglomerados agrícolas é o acesso à tecnologia.

Um ponto fundamental para a produtividade e qualidade do produto final são as características do solo no que se refere a nutrientes, acidez, umidade entre outros parâmetros. Assim, o solo deve ser analisado e monitorado ao longo de todo ciclo de produção. Atualmente, existem duas formas de efetuar as análises, ambas proibitivas para pequenos produtores em razão do custo.  Na primeira, o produtor contrata um agrônomo que faz a coleta do solo e a envia para um laboratório especializado.  Normalmente, o pequeno produtor realiza a análise em uma pequena quantidade de amostras, poucas vezes ao longo do ano. A outra opção, é ter no local um laboratório equipado com instrumentos e reagentes, software e profissionais especializados, habilitando o monitoramento contínuo em maior número de amostras. Em razão do alto custo, essa opção é viável apenas a grandes produtores.

Com o propósito de oferecer uma solução de baixo custo e que possibilite a análise de solo sob demanda, um grupo de pesquisadores do centro de pesquisas da IBM no Brasil, liderados pelo Dr. Mathias Steiner, desenvolveu o protótipo de um sistema batizado como “IBM Agropad” [3], uma combinação de baixa tecnologia com alta tecnologia.

O sistema é composto por um aplicativo executado em um smartphone tradicional, papel sensível que altera a cor na presença de elementos químicos e software de análise baseado em algoritmos de inteligência artificial.

O processo de análise é bastante simples e rápido; consiste em inserir o papel sensível em um cartão com furos e aplicar uma gota de solução preparada com amostra do solo. Após alguns instantes o papel muda de cor, o que leva a próxima etapa, em que o usuário por meio do aplicativo tira uma foto do cartão. Esse mesmo aplicativo, caso exista a conexão por wifi ou rede de celular, envia a foto para uma aplicação em nuvem que efetua a análise da variação de cor no cartão e retorna o resultado para o smartphone, exibindo, imediatamente, as informações na tela. O aplicativo pode ser configurado para gravar automaticamente, em bancos de dados, a localização, dados da análise e data.  O histórico de dados armazenados pode ser uma fonte para potenciais aplicações inteligentes que orientem o agricultor na tomada de decisões.

O sistema IBM Agropad ainda é um protótipo, mas um bom exemplo de como a combinação criativa de baixa e alta tecnologia pode gerar soluções eficientes, com baixo custo, capazes de gerar impacto na economia e qualidade de vida.

[1] Crédito da Imagem: U.S. Department of Agriculture (Flickr), CC BY 2.0. https://www.flickr.com/photos/usdagov/8447833617.

[2] ONU-FAO.  The State of Food and Agriculture. http://www.fao.org/3/a-i4040e.pdf. Acesso: 26 de setembro (2018).

[3] IBM Research. No Farms, No Food.  URL:  https://www.ibm.com/blogs/research/2018/09/agropad/. Acesso: 26 de setembro (2018).

Como citar este artigo: Marco Túlio Chella. Agricultura de precisão com IOT e Inteligência Artificial. Saense. http://saense.com.br/2018/09/agricultura-de-precisao-com-iot-e-inteligencia-artificial/. Publicado em 26 de setembro (2018).

Artigos de Marco Túlio Chella Home