UFMG
30/05/2019

Farley Liliana Vega: existência contínua do vetor transmissor nos dois territórios (foto: Carol Morena / Faculdade de Medicina)

Em Minas Gerais, 88,6% dos casos graves de dengue ocorreram no meio urbano, de acordo com perfil epidemiológico traçado em pesquisa da Faculdade de Medicina. O maior número de casos foi registrado entre as mulheres. Os dados, colhidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), de 2010 a 2016, foram comparados com a incidência na Colômbia para identificar padrões da doença nos territórios. No vizinho sul-americano, a probabilidade de morte pela doença foi 1,2 vezes maior, e os homens é que integram o grupo com maior índice de mortalidade.

O estudo foi apresentado como tese de doutorado pela médica colombiana Farley Liliana Romero Vega no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde de Infectologia Tropical. De acordo com a pesquisadora, que trabalhou na Colômbia com doenças de transmissão vetorial, a comparação possibilita desenvolver estratégias mais efetivas para controlar a dengue e a chikungunya e gerar projeções com base no comportamento das enfermidades. 

Minas e Colômbia têm em comum o período de epidemia da doença, que ocorre a cada três anos, com picos nos três primeiros meses. Além disso, em ambos os locais, os casos mais graves ocorrem, sobretudo, no meio urbano. De acordo com a pesquisadora Liliana Vega, os surtos estão associados ao fato de o vírus se manter na natureza mesmo nos intervalos entre as epidemias, com possibilidade de circulação conjunta dos quatro sorotipos da doença. Outros fatores presentes nos dois territórios são a existência contínua do vetor transmissor, que se adapta rapidamente às áreas urbanas, as coinfecções de difícil diagnóstico e a baixa imunidade da população.

Diferenças

O maior número de casos graves de dengue em mulheres em Minas  – cerca de cem a mais do que em homens – deve-se à característica domiciliar do mosquito, que se assemelha ao comportamento feminino indicado em outras pesquisas. Esses estudos mostram que as mulheres permanecem mais tempo em casa. 

Na Colômbia, no entanto, os dados do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde Pública (Sivigila) mostram que os homens formam o grupo de maior mortalidade em razão de fatores como a presença de outras doenças associadas à dengue e a demora para iniciar o tratamento adequado de casos que evoluem para outras complicações. Essa demora se deve à dificuldade do diagnóstico. Entre os sintomas de agravamento da doença, estão queda da pressão arterial, alteração de temperatura e batimentos cardíacos, além da alteração do sistema nervoso central. Essas características são associadas à lesão de órgão vital que pode resultar em morte.

No comparativo dos casos que evoluíram para o óbito, o número foi maior no vizinho sul-americano, 699 a mais que em Minas Gerais, que teve 801 notificações. “Em Minas Gerais, houve mais casos do subtipo 1 e 4; na Colômbia, os casos mais letais foram pelos sorotipos 2 e 1, no período de estudo. Ainda nos achados da pesquisa, foi observado que essa diferença também está relacionada à resposta imunológica da população frente às novas infecções e à falta de registros da doença por não terem sido diagnosticadas corretamente”, explica a médica.

Chikungunya

Essa infecção registra picos similares aos da dengue, com mais ocorrências no primeiro trimestre do ano, em razão de o vetor ser o mesmo – o mosquito do gênero Aedes. Para analisar os casos de chikungunya no estado, a pesquisadora selecionou o município de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por ter sido o primeiro a apresentar casos autóctones notificados, ou seja, contraídos na localidade em que a pessoa vive. 

“Ao comparar Santa Luzia com países que apresentaram surtos da doença, como a Colômbia, República Dominicana e ilhas do Caribe, a expansão da chikungunya na cidade foi limitada. Isso está associado à interação com outros vírus, como os da dengue e da zika, que são transmitidos pelo mesmo vetor, num lugar que historicamente é endêmico para dengue”, afirma Liliana.

Na Colômbia, as cidades das regiões andinas e do Caribe foram epidêmicas por apresentarem concentração dos casos da doença. Um ponto comum entre esses lugares é a proximidade do curso do rio Magdalena. “Influenciaram a temperatura e a altitude nas quais o mosquito consegue se adaptar”, comenta a pesquisadora. No estado de Minas Gerais, não foram feitas pesquisas específicas para observar se há essa mesma relação. “Vamos continuar a fazer estudos para analisar a possibilidade desse padrão se repetir aqui”, planeja Farley Liliana Romero Vega.

Tese: Dengue e Chikungunya na Colômbia e em Minas Gerais, Brasil: análise clínica e epidemiológica, nos anos de 2010 a 2016
Autora: Farley Liliana Romero Vega
Orientadora: Mariângela Carneiro (UFMG)
Coorientadores: Juliana Maria Trindade Bezerra e Frederico Figueiredo Amâncio
Programa: Ciências da Saúde – Infectologia e Medicina Tropical. [1] 

[1] Esta notícia científica foi escrita por Marcela Brito.

Como citar esta notícia científica: UFMG. Dengue comparada. Texto de Marcela Brito. Saense. https://saense.com.br/2019/05/dengue-comparada/. Publicado em 30 de maio (2019).

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