Jornal da USP
21/10/2019

Objetivo da pesquisa foi entender melhor como é possível ter mais inteligência espacial para identificar as potenciais áreas para restauração das florestas – Foto: Wikimedia Commons

Um estudo liderado pelo professor e pesquisador Pedro Brancalion, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, gerou mapas globais para identificar as oportunidades de recuperação de florestas tropicais. O foco do trabalho foi entender melhor como é possível ter mais inteligência espacial para identificar as potenciais áreas para restauração das florestas. O artigo foi publicado em julho na revista científica Science Advances.

Atualmente existem diversas metas globais que têm por objetivo recuperar florestas, principalmente as tropicais. O Desafio de Bonn, por exemplo, é um esforço internacional lançado em 2011 pelo governo da Alemanha e pela IUCN (sigla em inglês para União Internacional para Conservação da Natureza) que visa a restaurar 350 milhões de hectares de paisagens florestais até 2030. 

Apesar dessas medidas, existe um grande desafio: a princípio, as florestas seriam recuperadas em áreas já desmatadas e que são usadas de alguma forma, como para agricultura e pecuária. Restaurá-las implicaria, em muitos casos, deixar de utilizar o local para investir em sua recuperação.

“A metodologia foi baseada em dois grandes grupos de variáveis. O primeiro sendo os benefícios que a restauração oferece ao homem e à natureza; e o segundo, a viabilidade de restauração em diferentes áreas”, explica Brancalion, que iniciou o trabalho em 2015. Foi a partir do cruzamento dessas informações que os mapas surgiram. 

Dentro do grupo de benefícios, foram selecionados quatro: a conservação da biodiversidade, a diminuição das mudanças climáticas, a adaptação a essas mudanças a segurança hídrica, que diz respeito à melhoria do fornecimento de água com o intuito de evitar a escassez para populações humanas. “Desenvolvemos pesquisas que resultaram na geração de mapas globais de oportunidade para restauração visando a atender esses diferentes objetivos de benefícios”, esclarece o pesquisador.

Depois da geração desses primeiros mapas, três fatores de viabilidade foram elencados. O primeiro foi o custo de oportunidade de uso da terra, que diz respeito a quanto os agricultores ganham para usar uma área; foi considerado que quanto mais dinheiro ele ganha, menor é a chance ou viabilidade de se restaurar a floresta. O segundo está ligado à chance de recolonização do local pela biodiversidade, relacionado diretamente ao custo de recuperação, uma vez que “quanto mais pudermos contar com a natureza para recuperar minha área, menor é o gasto com a recuperação”, esclarece. E, por fim, a persistência da floresta ao longo do tempo. 

Essa última variável tem extrema importância, pois está relacionada ao grupo de benefícios escolhidos na primeira etapa do trabalho. Para que as florestas em restauração possam gerar vantagens, elas precisam se desenvolver. Uma floresta de dois anos, por exemplo, não consegue cumprir os objetivos do estudo, pois é essencial seu amadurecimento. Então, as taxas recentes de desmatamento foram estudadas em determinado raio em torno da área. “Consideramos que, quanto maior for o desmatamento relativo nessa área nos últimos dez anos, menores as chances de uma nova floresta estabelecida ali persistir ao longo do tempo”, comenta Brancalion. A partir desses três novos fatores de viabilidade outro mapa foi gerado. 

A etapa seguinte da pesquisa consistiu, então, na integração do mapa combinado de benefícios com o de viabilidade, que resultou em um mapa global com as oportunidades de restauração. 

Em um segundo momento, o pesquisador conta que o trabalho tentou entender como as áreas com maior oportunidade estavam distribuídas no planeta. Os melhores locais para restauração foram chamados de hotspots. De acordo com os resultados, o Brasil é o país com maior área de hotspots para restauração de florestas tropicais, sendo a Mata Atlântica o bioma com maior número de pontos para recuperação no globo. Além disso, foi constatado que, das dez ecorregiões com maiores áreas de hotspots, sete estão no Brasil. “O estudo demonstrou que o Brasil, de fato, oferece as melhores oportunidades mundiais para se recuperar florestas tropicais”, finaliza Brancalion. 

Os mapas do estudo foram gerados a partir de duas abordagens: através da utilização de mapas já publicados, desenvolvidos por outros pesquisadores e disponíveis em revistas especializadas, mas que sofreram ajustes em termos de normalização de dados para integração de diferentes informações; e da criação de novos mapas com base em análises de dados geoespaciais e equações geradas em outros trabalhos. Os mapas de mitigação das mudanças climáticas e de chances de resistência da floresta, por exemplo, foram criados. 

Já existem metas de recuperação no País estabelecidas pelo governo. O problema é que elas não estabelecem onde a recuperação vai ser realizada. O pesquisador explica que os mapas ajudam os governos, em diferentes níveis de movimentos de restauração, a escolher investir nas áreas com maior potencial de geração de benefícios e com maior viabilidade.

Os mapas foram normalizados para as condições e fatores brasileiros, mas Brancalion ressalta que os dados podem ser normalizados em função de diferentes contextos, o que pode ajudar o governo de outros países do mundo.

Mais informações: e-mail pedrobrancalion@gmail.com, com Pedro Brancalion. [1]

[1] Texto de Marcelo Canquerino.

Como citar esta notícia científica: Jornal da USP. Mapas identificam regiões para restauração de florestas tropicais. Texto de Marcelo Canquerino. Saense. https://saense.com.br/2019/10/mapas-identificam-regioes-para-restauracao-de-florestas-tropicais/. Publicado em 21 de outubro (2019).

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