UFPR
18/12/2019

Depois do transplante de medula óssea, cerca de 4 mil pessoas por ano no Brasil precisam mudar hábitos por longo período de tempo. Foto: Marcelo Leal/Unsplash

Os cerca de 4 mil brasileiros que se submetem a um transplante de medula óssea por ano estão no início de uma longa jornada. O pós-transplante é um processo delicado, em que hábitos do dia a dia precisam ser reformulados. Essa fase da vida do transplantado de medula óssea, com cuidados que devem ser tomados por ele, por seus cuidadores e pela equipe de saúde que o atende, foi tema de uma dissertação do Mestrado Profissional em Enfermagem da UFPR.

O trabalho, que sugere vídeos educativos para o paciente, as pessoas no seu entorno e os profissionais de saúde, foi premiado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)durante o 22º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCEnf), ocorrido em novembro.

Durante a dissertação, foram criados 15 vídeos, disponibilizados na internet, com orientações fundamentadas em literatura científica. São recomendações centradas na situação de vulnerabilidade imunológica com que o transplantado precisa lidar depois da alta: como limpar a casa, escovar os dentes e organizar os medicamentos (veja a lista na última imagem).

A ideia da pesquisadora, a enfermeira Ana Paula. foi atualizar o material impresso com orientações usado pela equipe multidisciplinar do Serviço de Transplantação de Medula Óssea (STMO) do Hospital de Clínicas (HC) da UFPR, em Curitiba, onde ela atua desde o início da carreira. Pelo serviço, que é referência nacional por ter feito o primeiro transplante de medula do Brasil, já passaram 2,8 mil transplantados desde 1979. “Senti a necessidade de utilizar algum material de apoio mais dinâmico do que o material impresso que utilizávamos no setor”, conta a pesquisadora, que defendeu a dissertação em 2018.

Pesquisa

Para garantir a qualidade das informações em cada animação, a pesquisadora, a enfermeira Ana Paula Lima, foi além da revisão bibliográfica, buscando o ponto de vista de profissionais da área, que informaram as situações e dúvidas mais recorrentes no dia a dia. O conteúdo abrange situações específicas, como a Doença do Enxerto contra o Hospedeiro (DECH), em que as células da medula recebida atacam o organismo por considerá-lo “inimigo”, e o uso de cateter de Hickman, usado para facilitar a coleta de sangue frequente e a administração de certos medicamentos e hemocomponentes, como sangue e plaquetas.

O material ajuda a minimizar uma preocupação das equipes, que decorre da alta do paciente depois do transplante, que é quando eles saem de uma assistência de saúde constante para o cuidado ambulatorial, com consultas marcadas. Nessa fase, o transplantado divide a responsabilidade pelos seus cuidados com a equipe do ambulatório.

Nesse sentido, a dissertação ajuda na chamada “alta responsável” — na qual os pacientes são conscientizados sobre os cuidados necessários após a alta –, prevista na Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHosp) do Sistema Único de Saúde (SUS).

Vídeos produzidos no âmbito da dissertação foram disponibilizados no canal “Uma nova chance TMO” no YouTube. Imagem: Reprodução

“Surgem inúmeras dúvidas devido ao volume de informações que passamos a eles. Algumas vezes acontecem falhas de comunicação que geram alguns equívocos. Mas, acredito que o que mais contribui para a reinternação dos pacientes é quando eles apresentam pouca instrução. Nesses casos a orientação sobre os cuidados após a alta deve ser muito cuidadosa e individualizada. Os ‘mitos’ surgem de conversas com outros pacientes ou até mesmo de consultas a informações sem procedência na internet”, conta Ana Paula.

YouTube

Os vídeos já estão disponíveis no canal “Uma nova chance TMO” no YouTube. O processo de elaboração deles é descrito na dissertação: as animações foram criadas por meio do aplicativo “Animaker” e de narração,  escolhas que significaram um custo bastante baixo de produção. Segundo a dissertação, o custo total dos 15 vídeos foi de R$ 503,22, ou seja, R$ 33,54 por vídeo.

A professora Letícia Pontes, do Departamento de Enfermagem da UFPR, que orientou o trabalho, avalia que as recomendações levantadas por ele, assim como o material didático produzido, devem servir de referência para outros centros de transplante brasileiros — não só pelo referencial do STMO do HC, mas também por suprir uma lacuna bibliográfica.

Isso porque uma situação particular que mostra a relevância da dissertação é a escassez de literatura científica em vários cuidados e fases do pós-transplante de medula.

“Nessa modalidade terapêutica [transplante de medula], ainda que utilizada cada vez mais em todo o mundo, o número de profissionais especializados é pequeno em relação à demanda dos centros transplantadores, especialmente na área de enfermagem. Acreditamos que isso possa ser um fator limitador, mas, com o aumento de profissionais envolvidos nesse processo, a produção científica na área terá expansão”, avalia.

Acesse o canal no YouTube “Uma nova chance TMO” aqui

Leia a dissertação “Alta responsável: tecnologia educacional para pacientes e cuidadores”, de Ana Paula Lima, neste link. [1]

[1] Esta notícia científica foi escrita por Camille Bropp.

Como citar esta notícia científica: UFPR. Vídeos educativos para o pós-transplante de medula. Texto de Camille Bropp. Saense. https://saense.com.br/2019/12/videos-educativos-para-o-pos-transplante-de-medula/. Publicado em 18 de dezembro (2019).

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