Fiocruz
12/02/2020

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Um grupo de pesquisadores realizou uma análise crítica sobre o atual sistema de classificação clínica dos casos de chikungunya. Segundo os cientistas, com a emergência da transmissão do vírus chikungunya nas Américas a partir de 2013, ficou claro que a classificação de casos como agudos, subagudos e crônicos tem sido insuficiente, porque não abrange as necessidades de classificação apresentadas por alguns pacientes. Tampouco tal classificação contribui para detecção e manejo precoce dos casos potencialmente graves.

De acordo com os estudiosos, o espectro clínico da infecção pelo chikungunya varia amplamente e inclui manifestações graves, associadas a risco de morte. Tais apresentações podem incluir acometimentos no sistema nervoso central e periférico, como Síndrome de Guillain-Barré e encefalites, além de complicações em outros órgãos e sistemas.

Para os pesquisadores, as atuais diretrizes clínicas têm como foco as dores articulares e a duração dos sintomas agudos, mas não os sintomas atípicos e as formas potencialmente mais graves da doença. O artigo de opinião foi publicado no periódico The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene e é assinado por pesquisadores de diferentes instituições de ensino pesquisa do Brasil e dos EUA. Dentre os autores está o pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro.

Como base para sugerir a revisão da classificação, os autores alertam que estudos no Brasil e no Caribe identificaram um aumento na mortalidade geral da população durante os meses de ocorrência de epidemias de chikungunya, quando em comparação com os meses anteriores sem surtos. Essa associação temporal e espacial entre o aumento de mortalidade geral e a ocorrência de epidemias de chikungunya sugere que a maior mortalidade pode ser uma consequência de infecções por chikungunya, mesmo que um aumento específico nos óbitos pela doença não tenha sido detectado.

Nova classificação da dengue levou décadas

No artigo, intitulado Chikungunya Case Classification after the Experience with Dengue Classification: How Much Time Will We Lose?, questiona-se se médicos e agentes de políticas de saúde levarão décadas para adotar uma nova classificação de caso chikungunya, como ocorreu com a dengue.

A classificação da dengue adotada na década de 1980, que focava na identificação de formas clássicas, hemorrágicas e de choque, tinha uso limitado para outras formas graves da doença, que envolviam órgãos específicos (sistema nervoso central, fígado, pulmões e coração) e também não permitia a identificação precoce dos pacientes em risco de desenvolver complicações agudas. Somente em 2009 uma nova classificação para os casos de dengue foi adotada, e esta mostrou maior sensibilidade e especificidade na discriminação dos casos mais graves da doença.

O trabalho alerta para a urgência da revisão da classificação de casos da chikungunya, uma vez que o vírus apresenta circulação sustentada em três continentes e reemergiu recentemente na Ásia e em alguns países do Sul da Europa. Uma melhor classificação da doença colabora com os esforços de vigilância para produzir relatórios consistentes sobre a apresentação clínica inicial e evolução dos casos. Também, permitirá comparações nas frequência das formas graves de doença entre diferentes locais.

Além disso, servirá para orientar as ações de vigilância durante futuras epidemias e, mais importante, ajudará na padronização do manejo clínico de acordo com a complexidade e gravidade do caso, com potencial impacto na mortalidade pela doença. [2]

[1] Imagem: Ministério da Saúde.

[2] Fiocruz Bahia.

Como citar esta notícia: Fiocruz. Chikungunya: estudo indica revisão da classificação de casos. Saense. https://saense.com.br/2020/02/chikungunya-estudo-indica-revisao-da-classificacao-de-casos/. Publicado em 12 de fevereiro (2020).

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